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Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Educação digital, Ministério Público e as escolas

Por Neide Cardoso de Oliveira
Atualização:
Neide Cardoso de Oliveira. FOTO: Marcelo Oliveira/ASCOM PR-SP Foto: Estadão

Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, conectada à Internet, o mais poderoso meio de comunicação atual, poderá acessar o conteúdo de páginas ilícitas. E é cada vez mais precoce o uso da rede por crianças e adolescentes, deixando-as muito expostas ao assédio de criminosos.

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Uma vez postado na rede, perde-se o controle de qualquer conteúdo. O tradicional conselho "pense antes de falar" deve ser hoje adaptado para "pense antes de postar". Justamente porque um conteúdo publicado na Internet pode ser visto por qualquer pessoa, reproduzido e até maliciosamente modificado, indefinidamente.

O Brasil é um dos quatro maiores polos de divulgação de pornografia infantil do mundo, concorrendo com os Estados Unidos, Coreia do Sul e Rússia, segundo a ONG Rainbow Phone. Nesse quadro assustador, a Internet é um facilitador do contato entre criminosos, permitindo sua organização em comunidades e troca de informações, fotos e vídeos.

O Ministério Público Federal, diante da moderna criminalidade via meios virtuais, e em atenção à ratificação pelo Brasil da Convenção dos Direitos da Criança e da Convenção sobre Eliminação de todas as Formas de Racismo, criou grupos especializados de Combate aos Crimes Cibernéticos nos Estados de São Paulo (2003) e Rio de Janeiro (2006). E a 2.ª Câmara (Criminal) do MPF criou, em 2011, um Grupo de Trabalho de Combate a Crimes Cibernéticos, de alcance nacional.

A preocupação com a navegação segura na Internet surgiu como consequência básica da atuação desses grupos anticrimes cibernéticos. Percebeu-se que muitas pessoas eram vitimadas por desconhecimento de medidas de segurança básicas e cuidados simples.

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Outra faceta do Ministério Público, desconhecida por muitos brasileiros, que muitas vezes só o veem como órgão de persecução penal, é a função constitucionalmente prevista de proteção dos direitos individuais indisponíveis, coletivos e difusos, da sociedade. Entre esses direitos indisponíveis, está a proteção à imagem da criança e do adolescente na Internet.

Entendendo que só a repressão era insuficiente e que a prevenção é o melhor caminho na conscientização das crianças e adolescentes, principais vítimas dos crimes de aliciamento online, de difusão de imagens pornográficas e de cyberbulling, o MPF, em parceria com a ONG SaferNet Brasil (associação civil de direito privado, que combate a violação de direitos humanos na Internet), organizou, de 2009 a 2013, Oficinas sobre o Uso Seguro e Responsável da Internet para educadores da rede pública e privada de ensino.

A partir dessa experiência bem-sucedida em São Paulo e no Rio, o MPF, coordenado pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, pelo seu GT Comunicação Social e pelo GT Combate a Crimes Cibernéticos (2ª Câmara/Criminal), em parceria com a SaferNet e o Comitê Gestor da Internet no Brasil, lançaram em 2015 o projeto Ministério Público pela Educação Digital nas Escolas. Ele visa a realizar a oficina "Segurança, Ética e Cidadania: Educando para boas escolhas online" para a rede de educação pública e privada. Em seu primeiro ano, 12 capitais e o Distrito Federal sediaram oficinas. Na atual segunda fase, vem abrangendo todas as demais capitais.

No dia da Oficina, destinada a professores ou coordenadores pedagógicos indicados pelas Secretarias de Educação estadual e municipal, as palestras são acompanhadas pela distribuição de materiais pedagógicos para a introdução do tema em sala de aula. Cada educador aprende a desmistificar a ideia de que deve conhecer tecnologia para falar sobre noções de ética, cidadania e segurança e se torna responsável pela multiplicação do aprendizado.

O objetivo do material pedagógico é estimular as crianças e adolescentes a aproveitarem todo o potencial da rede, sem se esquecerem de adotar os cuidados necessários neste novo espaço público.

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Após cada oficina, disponibilizamos 3.000 cartilhas "Diálogo Virtual" para as escolas interessadas distribuírem às crianças. Medindo o resultado do projeto, verificamos que, em dois anos, 20 Oficinas capacitaram diretamente 2.887 educadores de 280 municípios em 16 estados e beneficiaram 155.004 alunos em atividades de multiplicação nas escolas.

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Nosso objetivo é a união de esforços na prevenção e combate à pornografia infantil e a crimes de racismo na Internet. Incentivamos a educação para todos denunciarem esses crimes sem constrangimento e cobrarem das autoridades a punição dos criminosos, mas, principalmente, aprenderem a usar a Internet de forma ética e segura.

Com o projeto, o MPF e seus parceiros buscam pôr em prática o artigo 26 do Marco Civil da Internet: "O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestação da educação, em todos os níveis de ensino, inclui a capacitação, integrada a outras práticas educacionais da internet como ferramenta para o exercício da cidadania, a promoção da cultura e o desenvolvimento tecnológico."

As crianças e adolescentes, por meio da educação nas escolas, devem crescer conscientes de seus atos para que, ao se tornarem adultos, não pratiquem crimes na Internet, mas sejam cidadãos ciosos de seus direitos e deveres no mundo virtual.

*Procuradora regional da República, coordenadora do GT de Combate a Crimes Cibernéticos, da 2ª CCR/MPF, e coordenadora do projeto Ministério Público pela Educação Digital nas Escolas

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