Felipe Resk
26 de julho de 2018 | 05h00
Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública, no ‘Fórum Estadão’. FOTO: WERTHER SANTANA/ESTADÃO
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, participou nesta quarta-feira, 25, em São Paulo, do quinto fórum realizado pelo Estado para discutir os caminhos para a reconstrução do Brasil. O ministro foi um dos debatedores do painel Alternativas à Segurança Pública, ao lado do ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel reformado da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho e do diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.
O sr. tem dito que o maior problema da segurança no Brasil é o sistema prisional. Para estudiosos, é inevitável que o Brasil encare o debate da legalização das drogas. Qual a reflexão do sr.?
A medida central é estabelecer a diferenciação entre traficante e usuário. Tem de dizer qual é a quantidade (de droga). Em outros países, há exatamente esse limite: Espanha, Portugal, Inglaterra. O traficante é a grande preocupação. Já o usuário nós poderíamos colocar como questão relativa à saúde e reestruturar sua família. Sobretudo, quando é o jovem. Ou estaríamos ampliando o exército das facções ao jogá-lo no sistema fechado.
Na política de encarceramento, o Brasil chegou ao momento de priorizar crimes violentos?
Já tarda o momento. O sistema fechado deveria ser para crimes de maior agressividade: sequestro, morte, latrocínio. Tem de focar no crime organizado, impedir que facções se comuniquem e continuem ameaçando e se armando. Ao mesmo tempo, separar quem é ressocializável e pode ser recuperado.
O Brasil tem dificuldade de produzir estatísticas criminais que fundamentem políticas públicas. Quando isso vai ser resolvido?
A segurança é o reino da opacidade, da não transparência. Se o termômetro marca 37ºC e o doente tem 40ºC, os dados podem implicar tratamento fatal. Isso vai começar a mudar com a instalação, em agosto, do Conselho Nacional de Segurança Pública.
Para o sr., o balanço da intervenção militar no Rio tem sido ‘um copo meio cheio, meio vazio’. Considera dez meses pouco?
Muito pouco, dado o grau de deterioração e desestruturação das polícias. Em vários lugares, não havia papel, tinta, nem farda para os policiais.
Mas isso tem pouco impacto na sensação de segurança.
Mas impacta muito na auto-imagem. Estou citando alguns exemplos, mas imagine em outros níveis. Sobretudo, na organização, estrutura, logística, planejamento e integração e inteligência das operações.
O sr. receia que daqui a dez, 20, 30 anos, o retrato da intervenção seja Marielle Franco?
Não, até porque acho que (o caso) será, mais cedo ou mais tarde, elucidado. Tenho essa esperança. Vai ficar o retrato de um período de transição entre uma situação que crescia no sentido do caos e está na direção de maior segurança.
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