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É preciso abrir caminho para um novo cenário do câncer de próstata no Brasil

Por Diogo Bastos
Atualização:
Diogo Bastos. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Nas últimas décadas, observamos o tratamento do câncer tomar novos rumos - o desenvolvimento de novas moléculas, terapias, exames e combinações possibilitaram a personalização do tratamento, trazendo novas perspectivas aos pacientes e para a prática clínica. Da mesma forma, avanços importantes vêm ocorrendo em nossa sociedade no sentido de quebrar tabus e ultrapassar barreiras, tornando-a mais inclusiva. Diante de tais evoluções, por que não pensar que o momento é favorável para que se abra caminho para um novo cenário do câncer de próstata no Brasil?

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De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), entre 2020 e 2022, estima-se que existirão 65.000 novos casos de pacientes com câncer de próstata no Brasil, sendo que 20% dos homens devem descobrir a doença em estágio avançado. A boa notícia é que o câncer de próstata pode ser descoberto com um simples exame de sangue (PSA, que mede a presença de um antígeno prostático específico) e o toque retal, e quando diagnosticado em estágio inicial, tem mais de 90% de chance de cura1. Ainda assim, os tabus impedem muitos homens de identificar a doença precocemente, o que acaba causando mais de 15 mil mortes por ano2.

Os avanços da medicina têm contribuído para uma melhoria da qualidade de vida de pacientes com câncer de próstata. Apesar de a maioria com doença avançada e metastática responder bem ao tratamento padrão - terapia de privação androgênica, que reduz os hormônios masculinos do corpo - a sobrevida dos pacientes é de um a três anos3. Novas terapias, como os antiandrogênicos orais de nova geração, por exemplo, permitem tratar a doença com benefícios como redução significativa de eventos adversos quando comparado à quimioterapia, além de prolongar a sobrevida global e prolongar o tempo até o desenvolvimento de resistência à castração (estágio fatal da doença).

Inovações como essas precisam ser acessíveis a todos os pacientes. Mas, para ser incorporado, o medicamento passa por um processo de consulta pública, onde a sociedade civil e médica tem a oportunidade de contribuir e influenciar a decisão final. No último dia 01/04 uma nova consulta pública para câncer de próstata foi aberta, agora para avaliar a incorporação de medicamentos no rol da ANS para o tratamento de câncer de próstata metastático sensível à castração (CPSCm), entre eles a enzalutamida.

Para os pacientes e suas redes de apoio, a incorporação desses medicamentos representaria uma nova perspectiva em relação ao aumento da sobrevida, manutenção da qualidade de vida e prolongamento de tempo para a piora dos sintomas, já que se trata do único cenário da doença que ainda não conta com tratamentos orais de nova geração com cobertura obrigatória pelos planos de saúde.

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A participação da população é extremamente importante nesse processo e pode gerar resultados animadores: na lista de incorporações aprovadas em 2021 estavam drogas que tiveram recomendação preliminar negativa - mas que, após novas contribuições da sociedade civil e da comunidade médica, foram incorporadas.

A melhoria da jornada de pacientes depende de todos nós, seja na pesquisa e desenvolvimento de novas terapias, no combate a tabus sociais, no oferecimento dos tratamentos mais eficazes e seguros e, claro, no suporte emocional. Para contribuir nessa e em outras consultas públicas, basta acessar o site da ANS, checar as listas em vigência e os procedimentos previstos por cada uma. Link: https://www.gov.br/ans/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-da-sociedade/consultas-publicas

*Diogo Bastos é oncologista do Hospital Sírio-Libanês

Referências:

1 - Scher HI, et al. Prevalence of Prostate Cancer Clinical States and Mortality in the United States: Estimates Using a Dynamic Progression Model. PLoS One. 2015 Oct 13;10(10):e0139440.

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2 - INCA. Estimativa 2020. Disponível em: https://www.inca.gov.br/estimativa/sintese-de-resultados-e-comentarios. Acesso em 05Abr2022

3 - Armstrong AJ, et al. ARCHES: A Randomized, Phase III Study of Androgen Deprivation Therapy With Enzalutamide or Placebo in Men With Metastatic Hormone-Sensitive Prostate Cancer. J Clin Oncol. 2019 Nov 10;37(32):2974-2986.

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