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É possível ser feliz em tempos tão difíceis?

Por Andréa Chaves
Atualização:
Andréa Chaves. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Poucas pessoas sabem que a felicidade tem um dia especialmente dedicado à ela. O Dia Internacional da Felicidade, comemorado em 20 de março, foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), há oito anos, 2012, após a aprovação unânime de uma proposta feita pelo Butão (pequeno país asiático), conhecido por ser uma das populações mais felizes do mundo. O objetivo é promover a felicidade em massa a fim de evitar conflitos que coloquem a paz em risco.

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Antes de qualquer reflexão, vamos falar o que é a tão sonhada felicidade. Ela é uma emoção básica caracterizada por um estado emocional positivo, com sentimento de bem-estar e prazer, associados à percepção de sucesso e a compreensão coerente e lúcida do mundo. Sua origem se relaciona com as saúdes física e mental, religiosidade e determinadas características psicológicas que se associam positivamente à ação de ser ou estar feliz, como veremos mais pra frente. Além disso, a felicidade é um fenômeno predominantemente subjetivo, estando subordinada mais a traços psicológicos e socioculturais do que a fatores extremamente determinados.

Segundo uma pesquisa publicada na revista científica British Medical Journal em 2008, a felicidade de uma pessoa não é só uma escolha ou experiência individual, mas está ligada à felicidade dos indivíduos aos quais a pessoa está conectada, direta ou indiretamente. Ou seja, ela pode sim ser contagiada ou contagiar sim aqueles com quem ela se relaciona. Não são ainda os laços sociais mais imediatos que têm impacto na felicidade, o sentimento consegue atingir até três graus de separação (amigos de amigos de amigos). Importante entendermos que em um cenário onde há pessoas cercadas de pessoas felizes, as outras relacionadas tendem a ser mais felizes também.

Uma importante consideração é que não podemos ser felizes se isso gerar dor em alguém. Como seres humanos nossa felicidade deve se pautar nos direitos básicos da boa vivência e do eu coletivo. Então a felicidade pode sim ser subjetiva, porém o desejo de "encontrá-la" não pode tirar do princípio básico da humanidade. Lucidez, coerência e senso coletivo devem passar pelo conceito pessoal da emoção.

Um outro ponto muito importante que vejo também nos meus consultórios é "por que eu acordo feliz e durmo triste?". A felicidade é uma emoção, logo ela oscila e é temporal. Isso é comum que aconteça. Ser feliz é uma escolha racional de satisfação e equilíbrio físico e psíquico. Quando há inquietude e desesperança de mudar situações que não controlamos é o momento que acabamos cedendo espaço aos pensamentos de tristeza.

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A busca por "estar feliz" tem sido menor do que "ser feliz", já que as pessoas querem ter um padrão de comportamento em todos os momentos da vida, e não em situações específicas que vivem. Ser feliz é desfrutar do que é possível hoje, sem fixação no "se eu tivesse feito", "se o tempo voltasse" (passado) ou idealização do "quando isso acontecer", "quando eu passar no concurso"...( futuro). O desfrutar e ser feliz é uma sensação de quietude no que eu vivo hoje.

Não podemos perder a positividade, precisamos um do outro

Mas, em tempos tão sombrios que vivemos com a pandemia do novo coronavírus, que já matou tantas pessoas ao redor do mundo, será que é possível ainda ser feliz? O Brasil acaba de cair 9 posições no ranking global, alcançando o 41º lugar entre 146 nações de acordo com o Relatório Mundial da Felicidade 2021, divulgado no dia 19 de março. Uma triste realidade para quem já ocupou o 16º lugar.

Somos a única espécie da terra que ao nascermos precisamos de um outro humano, de um par. E, a partir do momento em que estamos isolados socialmente, acabamos nos vendo com uma sensação de tristeza, desamparo e desesperança. Porém, temos que enxergar a linha tênue em reconhecer que precisamos do outro, mas não dependemos dele.

Precisamos de pessoas para conviver, mas não dependemos disso para ser feliz. Então se hoje, a pandemia me obriga a afastar-me por um tempo de contatos físicos, eu preciso buscar, enquanto autor da minha felicidade, situações correlatas que amparem meus afetos, fazendo um ligação de vídeo, uma chamada de telefone ou até mesmo me trazendo emoções positivas, seja lendo um livro, assistindo a um filme, praticando uma atividade física ao ar livre, entre muitas outras ações.

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Não deixe de cuidar de sua saúde mental. Faça o bem, desfrute do que você tem hoje. Isso é o mais importante. Com isso, você estará em um estado durável de plenitude e alinhamento físico e psíquico, em que o medo e as inquietações poderão estar presentes, mas não tomarão conta do seu dia. Sonhe, faça planos, comece a tirar o papel tudo aquilo que você deseja com um pouco mais de clareza. Apesar dos momentos tristes e difíceis, seja feliz sempre!

*Andréa Chaves é graduada e mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Integra a única equipe específica de atendimento psíquico do Samu em todo o País, o Núcleo de Saúde Mental

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