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É possível seguir uma política monetária expansionista no Brasil?

Por Matheus Portela
Atualização:
Matheus Portela. Foto: Divulgação

O crescimento econômico que no Brasil vem patinando desde 2014, pode ser estimulado por meio de uma política monetária expansionista. Em linguagem simples, esta atitude significa aumentar a quantidade de dinheiro em circulação, cortando as taxas de juros. Essa prática favorece o acesso ao crédito barato, no qual as empresas poderiam se financiar para expandir, consequentemente, as famílias fariam empréstimos pessoais e parcelamentos para consumir mais. Tudo isso junto faz com que a economia gire. Outro exemplo de grande contribuição para alavancar o mercado seria a redução nos juros imobiliários, que favorece os financiamentos e impulsiona vários outros setores.

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Contudo, infelizmente, o Banco Central não pode cortar as taxas de juros indefinidamente e trazer prosperidade econômica como num passe de mágica. Só é possível reduzir juros sem perder a capacidade de empréstimo em dois cenários: i) Quando há relevante melhora na situação fiscal. Nesse caso, reduz-se os juros, mas reduz-se também o risco; ii) Quando o mundo inteiro corta os juros ao mesmo tempo. Atitude esta que aconteceu na crise do coronavírus, que fez praticamente todos os países adotarem política monetária expansionista para estimular a economia.

Embora não seja o cenário base (pois a demanda ainda está muito suprimida), existe uma possibilidade de uma inflação acelerada devido à enorme injeção de liquidez por parte do Banco Central. O estímulo desmedido à economia pela via monetária aquece a economia em primeiro momento, estimulando empresários a ampliar seus negócios e aumentando a propensão do consumidor a se endividar. Alguns setores conseguem acompanhar o movimento, mas, como a infraestrutura do país e a capacidade produtiva de alguns setores andam a passos mais lentos, eventualmente a economia esbarra em alguns gargalos.

Os setores que continuam expandindo passam a demandar demais daqueles que têm entraves para expandir. Quando a demanda aumenta muito e oferta não corresponde, iniciam-se as disparadas nos preços, temos o exemplo do arroz.

Outro motivo para a alta dos alimentos é o valor atual do dólar. Sempre que há uma aumento súbito no preço do dólar, existe um repasse ao preço dos alimentos e das commodities conhecido como "pass through". Isso vem do aumento da demanda externa pelos produtos do país.

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Mas, e a inflação?

O Banco Central injetou liquidez nos mercados e a inflação não mexeu. Injetou novamente e, mais uma vez, a inflação não se moveu. Continuou injetando, e, o risco de uma hora a inflação explodir é real. Por causa desse comportamento explosivo, alguns chamam essa possível inflação de "ketchup inflation", que é uma brincadeira com a situação clássica de uma pessoa que fica batendo no fundo de um pote de ketchup até que sai tudo de uma vez.

Com essa situação, aliada ao momento que estamos vivendo, como a alta dos alimentos e do dólar citado acima, o cenário de possível inflação e a possibilidade de crise fiscal gera um alerta. No entanto, o mercado acredita que o Governo vai criar capital político a partir de medidas menos fiscalistas e utilizar isso para aprovar as reformas tributária e administrativa. Nesse caso, a percepção é de que até uma eventual flexibilização do teto de gastos seria bem aceita.

O risco existe da inflação existe, porém, devido ao cenário em que o Governo adota uma política mais desenvolvimentista, mas, não converte isso em apoio para a agenda reformista vem preocupando. Nesse caso, a percepção de responsabilidade fiscal se deteriora e o Governo pode se vê obrigado a fazer um "choque de juros" (aumento rápido e relevante da taxa Selic) para manter a capacidade de se endividar junto ao mercado. Logo, vamos aguardar os próximos capítulos.

*Matheus Portela, sócio e economista chefe da Rio Claro Investimentos

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