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'É hora de tirar o pé do acelerador', recomenda Marco Aurélio a Alexandre de Moraes

Ministro aposentado do Supremo avalia que é 'humilhante' a ordem de seu antigo colega para instalar tornozeleira no deputado bolsonarista Daniel Silveira; 'o ministro (Alexandre) esquece que não é mais secretário de Segurança, nem ministro da Justiça', declarou o ex-decano da Corte em entrevista à TV Band News

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Por Redação
Atualização:

Ministros Marco Aurélio Mello e Alexandre de Moraes. FOTO: ADRIANO MACHADO/REUTERS  

O ministro Marco Aurélio Mello, aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou as decisões recentes do ministro Alexandre de Moraes, seu antigo colega, na condução dos processos contra o deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (União-RJ).

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A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), Moraes determinou que o deputado voltasse a usar tornozeleira eletrônica. A decisão só foi cumprida na tarde desta quinta-feira, 31, depois que o ministro mandou bloquear as contas do parlamentar e fixou multa de R$ 15 mil por dia de descumprimento. Silveira chegou a dormir na Câmara dos Deputados para evitar a instalação do equipamento.

Apesar dos reiterados ataques do deputado ao STF, Marco Aurélio defendeu que a imposição da tornozeleira a um parlamentar deveria passar pelo plenário da Câmara.

"Esse ato de constrição, repito porque é um ato de constrição, limita a liberdade de ir e vir, a meu ver, fica submetido ao colegiado, com a palavra os pares do deputado Daniel Silveira e que eles se pronunciem de acordo com o figurino legal", disse em entrevista ao Felipe Vieira, da BandNews TV. "Eu não vejo qual é o objetivo. (...) Eu vejo algo até mesmo humilhante, um deputado federal ter que usar uma tornozeleira."

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O deputado Daniel Silveira deixa o gabinete, onde passou a noite na expectativa de burlar a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Foto: Gabriela Biló/Estadão

As críticas também foram estendidas ao chamado inquérito das fake news, aberto de ofício pelo então presidente do STF, Dias Toffoli, para investigar ofensas, ameaças e ataques aos ministros. Daniel Silveira é um dos investigados ao lado de outros apoiadores bolsonaristas. A instauração não é comum, já que foi feita com base no regimento interno do Supremo e não a partir de provocação do Ministério Público Federal.

"Isso não se harmoniza com ares democráticos", disparou. "Um inquérito que começou errado tende a terminar mal. (...) Não se levou o inquérito sequer à distribuição. E o relator [Alexandre de Moraes] aceitou essa designação para assumir o papel, e eu digo com desassombro, de verdadeiro xerife. Eu temo muito pelas próximas eleições. Porque ele vai presidir o TSE."

O ministro aposentado também afirmou que o momento é de 'evitar antagonismos indesejáveis às instituições' [STF e Câmara dos Deputados]. Marco Aurélio também comentou a animosidade em relação ao Planalto.

"Eu não vejo essa temperança no ar. Ambos os lados estão muito acirrados. O presidente, em um arroubo de retórica atacando a instituição Judiciário e o ministro Alexandre de Moraes, infelizmente esquecendo que ele hoje é integrante do Supremo e também do próprio Tribunal Superior Eleitoral e que, portanto, não é mais secretário de Segurança Pública, não é mais ministro da Justiça e não é mais, eu diria mesmo, xerife", criticou. "É hora de tirar o pé do acelerador."

Marco Aurélio ainda disse 'temer muito' pelas próximas eleições, quando Moraes estará na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ministro assume o cargo em agosto em substituição ao colega Edson Fachin.

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