O ex-diretor da Odebrecht InfraestruturaBenedicto Barbosa da Silva Júnior afirmou, em depoimento de delação premiada, que o senador Lindbergh Faria (PT-RJ) recebeu cerca de R$ 4 milhões para disputas eleitorais para prefeito de Nova Iguaçú (RJ), em 2008, e para senador, em 2010.
Boa parte do dinheiro foi repassada diretamente ao marqueteiro Duda Mendonça, sempre via caixa 2. "Nessa época (2010), o Duda Mendonça já era réu no Mensalão, mas não parou de receber via caixa 2", comentou o executivo.
Duda é candidato a novo delator da Lava Jato. Ele pode revelar detalhes também sobre o recebimento de valores da Odebrecht pelo candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB, em 2014, Paulo Skaf.
O executivo relatou diversos pagamentos feitos em dinheiro vivo para cobrir despesas de campanha. Para facilitar a identificação do senador no sistema de pagamento de propina da Odebrecht, Faria recebeu dois apelidos: "Feio" e "Lindinho".
Júnior, apontado como o responsável pelos pagamentos à políticos, contou que conheceu Faria, em 2007, quando foi procurado pelo então candidato à prefeito. Na ocasião, a Odebrecht repassou R$ 600 mil. Em troca, foi beneficiada nos contratos para conduzir as obras do projeto "Pró-Moradia".
Para a campanha ao Senado, Faria procurou o executivo novamente e pediu R$ 4 milhões. Recebeu R$ 3,2 milhões. Para comprovar suas afirmações, Júnior mostrou uma série de comprovantes registrados no sistema "Drousys" da Odebrecht e troca de e-mails entre interlocutores da Odebrecht e do senador.
Nos e-mails, constam que no dia 19 de agosto e 8 de setembro de 2010, "Feio" recebeu R$ 150 mil e R$ 625 mil, respectivamente, em um hotel na Vila Olímpia, na zona sul de São Paulo. Nos registros, constam pagamentos de R$ 100 mil, R$ 625 mil, R$ 750 mil, R$ 6 milhões e até US$ 2,5 milhões.
Alguns, foram feitos em dinheiro vivo, segundo o ex-diretor da Odebrecht. Ele ainda apresentou todos os registros das visitas feitas por Faria, Mendonça e do marqueteiro Carlos Gayel (que trabalhou na campanha à prefeitura de Nova Iguaçú). Todos os encontros foram para tratar de pagamentos, segundo Júnior. "Eu nunca conversei com ele (senador) para falar sobre andamento de obras. O assunto sempre foi pagamento", afirmou.
Em nota, o senador afirmou acreditar que as "investigações irão esclarecer os fatos".
"Mais uma vez confiarei que as investigações irão esclarecer os fatos e, assim como das outras vezes, estou convicto que o arquivamento será único desfecho possível para esse processo. Novamente justiça será feita."
Faria já havia sido investigado na Lava Jato, mas o inquérito foi arquivado.