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Dores nas costas e cachorros latindo: preocupações atuais do home office para empresas e empregados

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Por Geraldo Korpaliski Filho
Atualização:
Geraldo Korpaliski Filho. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O home office veio para ficar. Seja pelo fato de que a pandemia não parece dar trégua, ou porque muitas empresas descobriram que o trabalho em casa se encaixa na sua estrutura de negócio.  Duas questões têm se destacado atualmente sobre o tema: as doenças decorrentes do trabalho em casa e a conduta das pessoas em frente às câmeras.

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Em tratamento para retardar uma hérnia de disco há anos, dores nas costas não são uma novidade para mim. Mas tem sido para muitas pessoas. Em uma de minhas últimas visitas ao médico conversamos sobre o expressivo aumento de pessoas procurando atendimento por problemas ergonômicos decorrentes do home office.  Assunto que levanta um ponto preocupante para as empresas: o que você está fazendo pela saúde de seus trabalhadores?

Mesmo no trabalho em casa, continua sendo da empresa a responsabilidade por disponibilizar um ambiente de trabalho seguro e saudável, o que pode ser feito por meio da disponibilização de equipamentos (cadeira, mesa, monitor, apoios para pés, etc.) e orientação frequente sobre medidas de segurança e saúde. Algumas empresas têm adotado inclusive uma espécie de "voucher Home Office", onde um determinado valor é concedido ao trabalhador especificamente para que ele compre equipamentos adequados de acordo com suas necessidades para manter uma infraestrutura de trabalho correta.

Aqui entra também a questão da saúde mental. O trabalho em casa, sem uma divisão precisa entre vida pessoal e profissional, pode facilmente fazer com que as pessoas percam a noção do tempo e permaneçam conectados trabalhando por longos períodos. Isso pode levar ao esgotamento e à baixa produtividade. Fala-se em "direito a desconexão" e a empresa tem que adotar medidas para que os empregados consigam desconectar totalmente do trabalho. A dica aqui é manter regras claras e orientações constantes sobre jornada de trabalho, proibição de responder e-mails fora do horário, entre outros.  Além de orientações, empresas tem fornecido acompanhamento psicológico a seus trabalhadores, para auxiliar nas dificuldades dessa mudança em meio a pandemia.

Há um risco jurídico importante aqui, pois, caso a empresa não adote todas as medidas possíveis, aumentam consideravelmente as chances de uma doença ergonômica ou psicológica ser reconhecida como doença do trabalho, com todos os desdobramentos já conhecidos.

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Um outro ponto importante diz respeito a conduta das pessoas em home office. Cachorros latindo e crianças chorando tem se tornado rotina em reuniões e são situações compreensíveis no contexto em que estamos. Entretanto, você certamente já vivenciou ou recebeu um vídeo de alguma situação muito mais embaraçosa. O áudio aberto quando não deveria estar; o pai utilizando o filtro de super-herói que o filho deixou salvo no computador; o(a) esposo(a) que aparece na tela passando sem roupa; o advogado fazendo audiência na rede de descanso; ou até mesmo o investigado em um acidente automobilístico que se conectou no julgamento enquanto dirigia um carro.

Muitas dessas situações podem parecer engraçadas e até mesmo aceitáveis em um primeiro momento - onde todos estão se adaptando a essa nova forma de trabalho -, mas começam a se tornar descabidas em um ambiente corporativo à medida que o tempo passa e home office torna-se uma realidade permanente.

A postura e a conduta das pessoas no trabalho em casa, apesar de admitir uma maior informalidade, deve seguir algum parâmetro. Da mesma forma que você não iria a uma reunião presencial de camisola ou samba canção, não deve fazer isso em uma reunião virtualPara aqueles trabalhadores que se envolvem diretamente no contato com o cliente e terceiros, por exemplo, a atenção deve ser redobrada. A imagem da empresa e do trabalhador estão em jogo.

Aparecer fazendo um comentário depreciativo com o microfone ligado quando não deveria, ou alguma situação semelhante que contrarie os valores da empresa e da sociedade, pode levar a uma exposição negativa de proporções inimagináveis, considerando a forma com que esse tipo de situação circula na internet hoje em dia.  Caso a empresa não adote medidas para evitar esse tipo de situação, pode até mesmo ser considerada responsável pelos danos de imagem causados pelos seus empregados e aos seus empregados, uma vez que os danos podem refletir na pessoa do trabalhador.

O certo é que o home office veio para ficar. Enquanto todos nós nos adaptamos a essa nova realidade, as empresas precisam ter redobrada atenção. Vale aqui a regra de ouro: combinar e orientar. Seja por meio de uma política interna específica, ou comunicados diversos com regras para cada situação, cabe às empresas estabelecer diretrizes e orientar os trabalhadores da forma como devem agir em home office, para que dores nas costas e cachorros latindo não se tornem um problema de grandes proporções.

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*Geraldo Korpaliski Filho, sócio do escritório Souto Correa, mestre em Direito pela PUCRS e especialista em direito trabalhista

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