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Dono da JBS diz que avisou Lula e Dilma sobre contas no exterior

'Essa conta nossa já passou de R$ 300 milhões', teria dito Joesley Batista, em 2014, ao ex-presidente, no Instituto Lula; delator relatou à Lava Jato que sucessora foi avisada no Planalto sobre duas contas abertas em acerto com Guido Mantega

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Por Julia Affonso , Luiz Vassallo , Fausto Macedo e Ricardo Brandt
Atualização:

Lula e Dilma na posse de novos ministros da petista. Foto: ANDRE DUSEK/ESTADÃO

O empresário Joesley Batista, um dos donos do Grupo J&F, afirmou aos procuradores da Operação Lava Jato que em 2014, durante a campanha eleitoral, avisou pessoalmente os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff sobre as duas "contas-correntes" de propina no exterior, controladas pelo ex-ministro Guido Mantega (Planejamento e Fazenda) e que tinham os dois como beneficiários. O saldo das duas contas bateu em US$ 150 milhões, afirmou o delator.

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"Eu disse 'presidente Lula, eu não sei se o senhor tem a ver com isso ou não tem, o quanto o senhor tem...'. Como ele (Mantega) tinha dito que a conta era do Lula, né, eu vou falar um negócio aqui... Eu disse 'ó, nós estamos fazendo a doação, nós somos o maior doador e essa conta nossa já passou de R$ 300 milhões, hein. O senhor está entendendo a exposição que vai virar isso?'", contou Joesley, que é multi investigado pela Polícia Federal e Ministério Público Federal. Ele é alvo nas operações Lava Jato, Sepsis, Greenfield e Cui Bono e fechou acordo de delação com a Procuradoria Geral da República (PGR).

No termo de colaboração 1 do empresário, ele descreve o fluxo das duas contas abertas em seu nome, mas que eram movimentadas segundo orientação de Mantega, e como foi seu "esvaziamento", em 2014 - na campanha da reeleição de Dilma.

Relato. "No finalzinho da campanha de 2014, tem três episodiosinhos que, talvez, vale a pena relatar", disse o delator, à partir dos 46 minutos do vídeo. O primeiro caso citado pelo delator teria sido um aviso dado a Mantega, quando viu que os valores estavam chegando a R$ 300 milhões, R$ 400 milhões e que a JBS seria a maior doadora, podendo gerar problemas, pois haveria discrepância em relação às demais doações. "Ele disse 'tem que fazer'."

O segundo episódio narrado teria sido quando buscou Lula para avisá-lo, depois de ter falado com Mantega. O delator disse que conheceu o ex-presidente em 2013 e tinha estado com ele uma única vez no seu gabinete, quando ainda era presidente, e ele assumiu o comando da JBS.

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"Indagou se ele (Lula) percebia o risco de exposição que isso atraía, com base na premissa implícita de que não havia plataforma ideológica que explicasse tamanho montante; que o ex-presidente olhou nos olhos do depoente, mas nada disse", contou.

"Aí eu fui lá no Lula." O empresário afirma que era outubro de 2014 e o encontro teria ocorrido no Instituto Lula, em São Paulo. Foi ali que ele teria perguntado se o ex-presidente estava "entendendo a exposição" que daria os mais de R$ 300 milhões em doações pela JBS, ele não teria respondido.

"O presidente Lula ficou olhando para mim, não falou nada, não falou nem sim nem não, ficou em silêncio na sala. Eu não entendi aquilo, mas pelo menos eu dei a mensagem. Eu pensei, amanhã ninguém vai me culpar de não ter avisado. Vai que... ninguém vai poder dizer 'pô, mas você não falou nada'. Eu avisei."

 

Dilma. "Com a Dilma eu fui bem mais explícito com ela", afirmou o delator, à partir dos 47 minutos do vídeo do termo 1.

"Não bastava, eu fui lá na presidente Dilma, ela candidata e tal, eu estive com ela."

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O delator relata que nesse encontro com a ex-presidente aconteceram duas coisas "'curiosas".

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"O dinheiro já estava ali acabando mesmo, eu já ali segundo o Guido, dizendo 'ministro, vai acabar o dinheiro'. O Edinho (Silva, ex-tesoureiro da campanha e ex-ministro) me aparece pedindo mais R$ 30 milhões."

Joesley afirmou que na sistemática de pagamentos de propinas e doações ao PT, era Mantega seu contato direto e Edinho o operador dos pedidos. "O Edinho não tinha poder para me pedir, ele não tinha acesso à conta, eu entendi que ele não sabia da conta corrente."

Em sua versão, Edinho Silva teria dito que o dinheiro era para o governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel, do PT. Joesley conta que procurou Mantega e ouviu dela a informação de que "isso é com ela".

No anexo referente ao termo 1, conta que "Dilma recebeu o depoente no Palácio do Planalto".

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"Eu falei para ela, eu contei meio que tudo. Eu disse 'presidenta, ó: tem duas contas, uma que o Guido falou que era sua outra do Lula. Já acabou o dinheiro seu e o dinheiro do Lula'. Para ela saber que, se amanhã o Lula fosse me cobrar, né... Eu pensava, vai que esse dinheiro é do Lula mesmo e eu gasto o dinheiro do Lula e o Lula vem me cobrar e diz 'ué, o dinheiro era meu e você gastou ele na campanha'. Por isso eu fiz questão de ir em todo mundo."

O investigador questionou se o delator falou para Dilma que o dinheiro tinha relação com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"Não, isso ela sabia perfeitamente", respondeu.

"Lula também?", insistiu o procurador da República.

"Com Lula eu não falei, eu só falei o caso (sobre o gasto e a exposição)."

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O delator disse ter explicado para Dilma das duas contas e que tinha um pedido de mais R$ 30 milhões. "Eu fiz a conta direitinho, 'olha, gastou tanto, tal, tá meio que acabando. Se fizer esse 30 (milhões de reais) acaba."

Joesley - que se disse mais próximo de Dilma de que Lula - afirmou que a ex-presidente teria respondido: "Não, é importante fazer. Tem que fazer". E teria o orientado a "encontrar o Pimentel e fazer a doação, pagar ele lá, tudo bem".

"Dali eu saí com a certeza de que: um, ela sabia de tudo; dois, eu não sai entendendo muito bem essa história da conta do Lula e da Dilma se ela estava confortável em ter gasto o dinheiro todo, das duas contas, e o Guido também se disse à vontade, mas eu contei para o Lula que eu tinha gasto trezentos e tantos milhão e ele também não achou ruim, não falou nada, eu falei 'a, todo mundo deve estar sabendo desse negócio.

Guido Mantega chega para depor. FOTO: JF DIORIO/ESTADÃO Foto: Estadão

Zerada. O delator informou que a primeira conta foi aberta em 2009 e da de Dilma em 2010. As duas contas tiveram seus saldos zerados em 2014, na disputa à reeleição.

Joesley foi perguntado se os saques das contas do PT chegaram a zerar.

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"Zerou. Chegou até zerar, foi até acabar. Acabou o da Dilma, continuou, porque tinha outra, que em tese era do Lula, conforme ele (Mantega) dizia. Aí foi foi foi, até acabar. Foi R$ 360 milhões que saiu dessa conta, que era os US$ 152 na época."

O delator disse ter avisado Mantega que o dinheiro acabou e "ele não pediu" mais.

Segundo Joesley Batista, o dinheiro foi utilizado para financiar campanhas políticas de partidos e candidatos elencados pelo ex-ministro Guido Mantega.

Joesley revelou que a origem da conta aberta em benefício de Lula foi um acerto com Mantega, referente a um negócio de dezembro daquele ano, em que o BNDES adquiriu debêntures da JBS, convertidas em ações, no valor de US$ 2 bilhões, "para apoio do plano de expansão" da empresa.

"O depoente escriturou em favor de Guido Mantega, por conta desse negócio, crédito de US$ 50 milhões e abriu conta no exterior, em nome de offshore que controlava, na qual depositou o valor", relata o anexo de Joesley sobre o tema.

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Segundo o empresário, em reunião com Mantega, no final de 2010, o petista pediu a ele "que abrisse uma nova conta", que se destinaria a Dilma.

"O depoente perguntou se a conta já existente não seria suficiente para os depósitos dos valores a serem provisionados, ao que Guido respondeu que esta era de Lula, fato que só então passou a ser do conhecimento do depoente", registra o anexo do empresário.

"O depoente indagou se Lula e Dilma sabiam do esquema, e Guido confirmou que sim."

O acordo com Mantega foi realizado, pois ele atuaria junto a Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES, para que os negócios fossem liberados. "Os saldos das contas vinculadas a Lula e Dilma eram formados pelos ajustes sucessivos de propina do esquema BNDES e do esquema-gêmeo, que funcionava no âmbito dos fundos Petros e Funcef."

O empresário destacou que era o executivo Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da J&F (controladora da JBS), que fazia o contato com partidos e políticos.

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Saud também é um dos sete delatores da J&F. Ele confirmou os pedidos de pagamentos feitos por Edinho. "Recebíamos do Edinho (tesoureiro da campanha de Dilma) os pedidos para fazer os depósitos ou o pagamentos de propina ao partido dos trabalhadores e depois a compra dos partidos", afirmou Saud, reforçando que o dinheiro não era oficial. "Tudo isso foram doações dissimuladas, dinheiro de propina. Foi feito notas fiscais e pago em dinheiro vivo", explicou.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE LULA

Nota

Verifica-se nos próprios trechos vazados à imprensa que as afirmações de Joesley Batista em relação a Lula não decorrem de qualquer contato com o ex-Presidente, mas sim de supostos diálogos com terceiros, que sequer foram comprovados.

A verdade é que a vida de Lula e de seus familiares foi - ilegalmente - devassada pela Operação Lava Jato. Todos os sigilos - bancário, fiscal e contábil - foram levantados e nenhum valor ilícito foi encontrado, evidenciando que Lula é inocente. Sua inocência também foi confirmada pelo depoimento de mais de uma centena de testemunhas já ouvidas - com o compromisso de dizer a verdade - que jamais confirmaram qualquer acusação contra o ex-Presidente.

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A referência ao nome de Lula nesse cenário confirma denúncia já feita pela imprensa de que delações premiadas somente são aceitas pelo Ministério Público se fizerem referência - ainda que frivolamente - ao nome do ex-Presidente.

Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira

COM A PALAVRA, DILMA ROUSSEFF

A propósito das notícias a respeito das delações efetuadas pelo empresário Joesley Batista, a Assessoria de Imprensa da presidenta eleita Dilma Rousseff esclarece que são improcedentes e inverídicas as afirmações do empresário:

1. Dilma Rousseff jamais tratou ou solicitou de qualquer empresário, nem de terceiros doações, pagamentos ou financiamentos ilegais para as campanhas eleitorais, tanto em 2010 quanto em 2014, fosse para si ou quaisquer outros candidatos.

2. Dilma Rousseff jamais teve contas no exterior. Nunca autorizou, em seu nome ou de terceiros, a abertura de empresas em paraísos fiscais. Reitera que jamais autorizou quaisquer outras pessoas a fazê-lo.

3. Mais uma vez, Dilma Rousseff rejeita delações sem provas ou indícios. A verdade vira à tona.

ASSESSORIA DE IMPRENSA DILMA ROUSSEFF

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