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Doleiro diz que pagou US$ 2 milhões para operador do PMDB

Alberto Youssef, em depoimento gravado, apontou Fernando Baiano, aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha; assista ao vídeo

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Por Redação
Atualização:

Atualizada em 20/3, às 14h50

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Por Julia Affonso, Beatriz Bulla, Ricardo Brandt e Fausto Macedo

O doleiro Alberto Youssef, personagem central da Operação Lava Jato, declarou à força tarefa do Ministério Público Federal que o lobista Julio Camargo pediu propina que seria destinada ao deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), presidente da Câmara. Em depoimento gravado em vídeo o doleiro afirmou que a propina teve origem em um contrato de locação de sondas para a Petrobrás do qual Camargo participou. Ele disse que o dinheiro foi entregue diretamente ao lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, suposto operador do PMDB na estatal petrolífera e muito próximo ao presidente da Câmara.

O deputado Eduardo Cunha tem reiterado que jamais recebeu dinheiro ilícito de negócios de empreiteiras com a Petrobrás. O peemedebista disse que conhece Fernando Baiano, mas que nunca trataram de pagamento de propinas. Cunha afirma que o Ministério Público Federal "selecionou" quem deve ser investigado no âmbito da Operação Lava Jato.

VEJA O DEPOIMENTO DE ALBERTO YOUSSEF

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Em 6 de março, ao pedir ao Supremo Tribunal Federal abertura de inquérito para investigar o presidente da Câmara, o procurador-geral da República Rodrigo Janot ressaltou. "Que Eduardo Cunha, por conta disto, realizou uma representação perante uma comissão na Câmara dos Deputados, e nela pediu informações junto à Petrobrás acerca da Mitsue, Toyo e Julio Camargo; Que requisitou que tais informações fossem prestadas, sendo que na realidade isso foi um subterfúgio para fazer pressão em Julio Camargo a fim de que este voltasse a efetivar os pagamentos a Fernando Soares que, por sua vez, os repassaria ao PMDB."

"Eu não tive contato com Eduardo Cunha, eu não mandei recurso diretamente ao Eduardo Cunha", declarou Youssef, que atribuiu ao lobista Julio Camargo a citação ao nome do presidente da Câmara.

Julio Camargo representava uma empreiteira na Petrobrás. Ele também fez delação premiada e apontou como operava o esquema de corrupção na estatal. "Ele (Julio Camargo) me relatou que, em determinado momento, a Samsung deixou de pagar ele e ele deixou deixou de passar esses valores ao Fernando Soares", disse o doleiro no depoimento gravado. "Por conta disso, tinha sobrado um saldo. E o Fernando Soares, para pressionar a pagar, colocou no caso o Eduardo Cunha para que fizesse uma representação perante uma comissão da Câmara, pedindo informações da vida inteira do Julio Camargo, da Toyo, que ele representava, e da Mitsui na Petrobrás. E que eu ajudasse ele a resolver o problema com o Fernando Soares."

Youssef disse ter ouvido que o presidente da Câmara "estaria pressionando via Câmara, via Comissão". Dois deputados do PMDB qteriam feito esse pedido sobre a Petrobrás perante a Câmara. Youssef disse que "o Julio saiu pedindo ajuda para todo mundo".

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Fernando Baiano faz exame de corpo de delito em Curitiba, na época de sua prisão, em novembro de 2014. Foto: Geraldo Bubniak/AGB

Nesse trecho de seu relato, o doleiro citou o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, e João Cláudio Genu, ex-assessor do ex-deputado José Janene (PP/PR), que morreu em 2010.

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"(O Julio) pediu ajuda para mim, para o Paulo Roberto. O Paulo Roberto, inclusive, pedia para que eu cobrasse o Julio, referente a essas sondas, US$ 1,5 milhão, que o Julio tinha ficado devendo a ele. E também o Genu pedia que eu cobrasse o Julio Camargo US$ 500 mil pelo aluguel dessa sonda, que também o Julio tinha ficado devendo a eles."

Youssef contou que este assunto "é um dos motivos da sua discórdia com a declaração nos termos (depoimentos da delação) do Julio Camargo". "Ele diz que repassou a mim R$ 11,3 milhões para que eu repassasse esse valor ao Fernando Soares imediatamente. Não foi isso que aconteceu. Aconteceu sim um pagamento ao Fernando Soares, mas foi US$ 2 milhões que ele (Julio Camargo) me depositou. Eu fiz esse pagamento diretamente ao Fernando Soares, no escritório do Fernando Soares."

"Determinado dia, o Julio Camargo me telefona pedindo que eu fosse ao escritório dele, que ele precisava ter uma conversa comigo. Eu fui e quando eu cheguei no escritório eu até estranhei porque o doutor Julio dá aquele chá de banco na gente de 1 hora, 2 horas pra você ser atendido quando não era de interesse dele. Como era de interesse dele, ele estava me aguardando e me atendeu de prontidão."

O doleiro declarou. "Ele (Julio Camargo) me relatou, eu estou dizendo da boca dele, por isso eu não posso afirmar. Eu não tive contato com Eduardo Cunha, eu não mandei recurso diretamente ao Eduardo Cunha. Eu vou reportar o que o Julio Camargo me passou. Ele tinha feito um aluguel de sondas. O Paulo Roberto Costa participou, o João Genu participou, o Fernando Soares participou, entre Samsung, Mitsui e a área internacional da Petrobrás."

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O presidente da Câmara é Eduardo Cunha acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Foto: André Dusek/Estadão

"Realmente eu me reuni com o Fernando Soares e ajudei. Na época, ele (Julio Camargo) fez dois pagamentos para o Fernando Soares através de mim, que foi questão de US$ 2 milhões. Na verdade, era para ter feito mais, ele tinha que pagar US$ 6 milhões. Através de mim, ele fez US$ 2 milhões. Ele fez depósitos lá fora. Eu passei esse dinheiro diretamente ao Fernando Soares, não ao Eduardo Cunha. Quem mencionou nome de Eduardo Cunha envolvido nessa situação foi Julio Camargo."

"O nome do Eduardo Cunha surgiu através do Julio Camargo. Se não me engano, o Paulo Roberto também mencionou alguma coisa", declarou Youssef na audiência gravada.

"O que o Paulo Roberto vendia para mim, para o Genu, era que o Baiano era o representante do PMDB. Isso é o que o Paulo Roberto dizia. Eu nunca presenciei o Fernando com algum integrante do PMDB. Algumas empresas comentavam isso também (que o Baiano era operador do PMDB)."

"Eu só vim ficar sabendo disso por causa do problema que aconteceu entre o Julio e o Fernando. Por conta dessa contestação dessa comissão perante a Petrobrás, pedindo relatório de todos os contratos, da Samsung, da Mitsui, da Toyo, do Julio Camargo. E isso criou um desespero grande perante os japoneses e ao Julio, a ponto de ele me chamar lá e pedir para tentar interceder, para que isso acabasse. Ele estava disposto a pagar mesmo que fosse do bolso."

Alberto Youssef apontou algumas empreiteiras, como a OAS e a UTC, sob suspeita de integrarem o cartel da Petrobrás. "Eu fazia caixa 2 tanto da OAS quanto da UTC. Não na totalidade, mas alguns valores. Muitas vezes a OAS ou a UTC mandavam dinheiro para o Rio de Janeiro, para entregar em alguns endereços. Eu repassava esses endereços ao Jayme ou ao Rafael ou ao Adarico (Jayme Careca, agente da Polícia Federal, Rafael Ângulo e Adarico Negromonte são apontados como carregadores de malas do doleiro). Nesses endereços nunca foi especificado que valores era para entregar a Eduardo Cunha ou alguém ligado a ele. O Jayme (Careca), quando esteve preso aqui na carceragem perguntou para mim se eu lembrava dele ter entregue algum dinheiro ao Eduardo Cunha. Eu disse que não, que quem tinha de saber era ele. Quem ia nos endereços era ele (Jayme Careca). Ele me perguntou se uma casa amarela assim, assim, era do Eduardo Cunha. Eu falei: 'não sei'. Não sei se ele mora numa casa amarela, num condomínio. Quem tem que saber é você. Antes de dar qualquer declaração, ir lá no endereço, na portaria do condomínio, se certificar de quem é a casa e depois dar a declaração."

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COM A PALAVRA, A MITSUI&CO.

Em nota, a Mitsui&Co destacou que o executivo Julio Camargo, réu da Operação Lava Jato, "nunca foi representante ou consultor dos projetos da empresa". Por meio de sua assessoria de imprensa, a Burson-Marsteller Corporate Communications, a Mitsui assinalou que o Tribunal de Contas da União não identificou nenhuma irregularidade relacionada aos contratos com a Petrobrás.

LEIA A INTEGRA DA NOTA DA MITSUI&CO

"A Mitsui&Co gostaria de reforçar que o sr. Júlio Camargo nunca foi representante ou consultor em nenhum dos projetos da empresa. Em 2011, respondendo a um requerimento apresentado à Comissão de Inspeção e Controle da Câmara dos Deputados, o Tribunal de Contas da União (TCU) não identificou nenhuma irregularidade relacionada aos contratos da Mitsui&Co com a Petrobrás."

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VEJA TAMBÉM:

Especial de 1 ano da Operação Lava Jato

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