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Do mercado financeiro para a economia real

Por Felipe Brunieri e Guilherme Malfi
Atualização:
Guilherme Malfi e Felipe Brunieri. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Uma das experiências mais observadas na carreira de um Executivo de Finanças é a sua passagem por instituições do mercado financeiro, como bancos de investimento, fundos de Private Equity ou de Venture Capital, banco múltiplos ou comerciais, boutiques de M&A, gestora de ativos, corretoras, seguradoras, entre outras. Tais instituições são grandes escolas para a formação profissional, especialmente no que tange ao desenvolvimento das capacidades técnicas financeiras. Além da parte técnica, a vivência no mercado financeiro também contribui para o aperfeiçoamento de algumas habilidades comportamentais específicas que são extremamente valorizadas no ambiente corporativo.

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A atuação em instituições financeiras permite que o profissional se exponha constantemente ao mercado de capitais. Por conseguinte, algumas atividades que agregam muito conhecimento ao Executivo acabam sendo mais executadas nesse tipo de instituição, como, por exemplo: estruturação de operações de captação (debêntures, bonds e para capital de giro) e de financiamento; desenvolvimento de operações com instrumentos financeiros derivativos; análise e recomendação de melhores opções de investimentos e de alocação de recursos; coordenação de projetos de abertura de capital, de follow-on e de fusões e aquisições; quantificação de riscos; avaliação dos financials de empresas de diversos setores; e produção de modelos financeiros complexos. Ademais, a interação frequente com investidores, acionistas, vendedores e compradores estimula o aprimoramento de certas habilidades comportamentais fundamentais para o sucesso em um ambiente dinâmico e desafiador. Adaptabilidade a mudanças repentinas, raciocínio analítico, rápido aprendizado, resiliência, comunicação estruturada, senso de priorização e de urgência e, principalmente, capacidade de influência são alguns dos soft skills promovidos pela exposição contínua a um universo cuja pressão e o foco em resultado fazem parte do dia a dia.

Se, por um lado, trata-se de uma experiência muito rica para a trajetória do Executivo, por outro, a migração para companhias da economia real traz consigo uma série de oportunidades de amadurecimento profissional. Em termos técnicos, nesse tipo de empresa, a área de Finanças exerce um papel de suporte, assumindo uma responsabilidade mais voltada a assegurar tanto a credibilidade das suas Demonstrações Financeiras, quanto a manutenção das melhores práticas de governança, além de perseguir a maximização da rentabilidade do negócio através de iniciativas de incremento de receita e de redução de custos. Funções como a de "Planejamento Financeiro" - por meio do suporte às áreas de Vendas, Marketing e Operações no processo de tomada de decisão - e a de "Novos Negócios" ocupam uma posição de destaque na busca pelo retorno aos acionistas. Além disso, a atuação também envolve a manutenção de um fluxo de caixa sustentável e a execução de operações junto ao mercado de capitais quando necessário. No que tange às habilidades comportamentais, cabe ao Executivo gerenciar equipes multidisciplinares de forma eficaz e garantir o cumprimento, em conjunto com as diversas áreas internas, da estratégia definida e dos processos, controles, políticas e procedimentos pré-estabelecidos, mantendo, ao mesmo tempo, um alto nível de engajamento do grupo. Por sua vez, é preciso sustentar um discurso consistente e objetivo aos stakeholders externos e preservar o alinhamento de expectativas junto aos acionistas, investidores, analistas de mercado, bancos e governo. Com isso, características pessoais, como capacidade de influência e de criação de alianças, liderança, visão de negócio, compreensão holística, comunicação efetiva e senso de dono são amplamente desenvolvidas ao se atuar em companhias da economia real.

Considerando as particularidades observadas nos dois universos corporativos, a transição do mercado financeiro para a economia real pode ser muito desafiadora e precisa ser bem planejada para que se obtenha sucesso. Via de regra, dentro de uma empresa, existem algumas disciplinas de Finanças em que a mudança é mais comum, devido à similaridade das habilidades técnicas necessárias no desempenho da função. Áreas como Tesouraria Estratégica, Fusões e Aquisições, Planejamento Financeiro e Relações com Investidores são mais receptíveis a profissionais oriundos de instituições financeiras. A cultura corporativa e o modelo de remuneração também tendem a ser muito diferentes. Portanto, o profissional precisa ter ciência de que alguns valores enraizados em sua forma de agir e pensar precisarão ser desconstruídos para que a adaptação seja mais fácil.

*Felipe Brunieri e Guilherme Malfi, sócios da Assetz

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