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Dirceu e Delúbio intercederam em empréstimo a amigo de Lula, dizem executivos da Schahin

Ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (Governo Lula) teria ligado para Salim Schahin, acionista do Grupo; ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares teria participado de reunião na sede do banco

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Andreza Matais e Fausto Macedo
Atualização:

José Dirceu (à esq.) e Delúbio Soares. Fotos: Dida Sampaio e André Dusek/Estadão Foto: Estadão

Dois executivos ligados ao Grupo Schahin relataram, em delação premiada, a influência do ex-ministro da Casal Civil José Dirceu (Governo Lula) e ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares em empréstimos ao empresário e pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Bumlai foi preso em Brasília nesta segunda-feira, 23, na Operação Passe Livre, 21ª fase da Lava Jato.

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O ex-presidente do Banco Schahin Sandro Tordin afirmou em delação premiada que o ex-ministro Dirceu e Delúbio "influíram na agilização da liberação" de empréstimos a Bumlai. Os valores emprestados teriam como destino final os cofres do partido e de campanhas eleitorais, entre elas a reeleição do ex-presidente Lula, em 2006, suspeitam os investigadores.

"Trata-se de investigação de pessoas físicas e jurídicas ligadas ao Grupo Schahin e a José Carlos Bumlai, suspeitos de participação num esquema de corrupção envolvendo a contratação da Schahin como operadora do navio-sonda Vitoria 10.000 da Petrobrás, com a concessão de vantagem indevida a empregados da Petrobrás e ao Partido dos Trabalhadores", sustenta o pedido de prisão de Bumlai, feito pela Polícia Federal.

"Corrobora a versão de que houver influência do Partido dos Trabalhadores na obtenção do empréstimo em favor de José Carlos Bumlai, o depoimento de Sandro Tordin, ex-presidente do Banco Schahin, que afirmou que Delubio Soares e José Dirceu influíram na agilização da liberação do crédito."

Salim Schahin. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O empréstimo foi feito em 2004 no valor de R$ 12,17 milhões. O valor foi "imediatamente transferido para o Frigorífico Bertin Ltda (atual Tinto Holding) por intermédio de dois TEDs de R$ 6 milhões". Exercutivos da Bertin foram conduzidos coercitivamente pela PF na Operação Passe Livre para depor.

Os valores nunca foram devolvidos, segundo afirmou o procurador da Repúblico Diogo Castor de Mattos, em entrevista coletiva na manhã desta terça, nunca foram pagos. A dívida teria sido paga com um contrato da Petrobrás e os valores ocultos em movimentações financeiras das fazendas de Bumlai.

"Durante o ano de 2009, de forma vinculada à assinatura do contrato com a Petrobrás, houve a quitação formal do débito de Bumlai junto ao Banco Schahin com uma simulação de dação de pagamento envolvendo notas promissórias relacionadas a um negócio de venda de embriões de José Carlos Bumlai às fazendas de propriedade da família Schahin", informa o pedido de prisão.

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O dono do grupo Schahin, que também fechou acordo de delação, disse que sabendo que a Petrobrás iria contratar uma operadora para o navio-sonda Vitoria 100000 teve a "ideia de quitar o débito com a contratação da Schahin para operação da embarcação. "Este 'acordo' teria contado com a participação de João Vaccari Neto", ex-tesoureiro do PT.

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Salim Schahin. Também em delação, o empresário Salim Schahin, um dos acionistas do Grupo Schahin, deu detalhes da participação de Delúbio e Dirceu na concessão de empréstimos a Bumlai. Salim Schahin afirmou em meados de 2004, Bumlai foi levado ao Banco Schahin por Sandro Tordin, buscando tomar um financiamento de R$ 12 milhões.

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O empresário disse que participaram da primeira reunião a respeito dos empréstimos, na sede do banco Schahin, Sandro Tordim, Carlos Eduardo Schahin, Milton Schahin e José Carlos Bumlai.

"O declarante passou rapidamente por esta reunião e lhe foi relatado posteriormente que na ocasião foi apresentado um pedido de empréstimo, alegando-se, inclusive, que se tratava de um pedido do Partido dos Trabalhadores e ele, José Carlos Bumlai, tomaria o empréstimo em nome do Partido, pois havia uma necessidade do PT que precisava ser resolvida de maneira urgente", relatou.

Salim Schahin afirmou que 'se sentiu incomodado' com os fatos de o valor ser muito grande para ser concentrado em apenas uma operação a uma pessoa física e essa pessoa física estar sendo intermediário de empréstimo para o Partido dos Trabalhadores.

"Dias depois foi realizada uma nova reunião na sede do Banco Schahin, e igualmente participaram Sandro, Carlos Eduardo, Milton e José Carlos Bumlai e, como novidade, Bumlai veio acompanhado de Delúbio Soares; que a presença de Delubio Soares trouxe um pouco mais de conforto ao declarante, tendo em conta que ele, diferentemente de Bumlai, tinha relação direta com o PT; que o depoente passou brevemente pela reunião", disse.

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No novo encontro, afirmou Salim Schahin, 'insistiram na necessidade de urgência do empréstimo e foram detalhados os termos do financiamento pretendido'. "Nessa ocasião o próprio Delúbio Soares confirmou o interesse do Partido para que a operação fosse concluída o quanto antes; que José Carlos Bumlai e Delúbio Soares informaram que, como evidência adicional, a "Casa Civil" procuraria um dos acionistas do Banco Schahin; que, dias depois, o depoente recebeu um telefonema de José Dirceu; QUE a conversa tratou de amenidades, não abordando a operação de José Carlos Bumlai, mas a mensagem estava entendida; que, com relação a José Dirceu, o depoente já o conhecia, mas não tinha nenhum relacionamento com ele e não havia nenhum motivo para que ele o procurasse; que, apesar do desconforto pelo alto valor envolvido, o depoente, que era a pessoa responsável pela área financeira do Grupo Schahin, determinou a realização da operação, apesar de ter clara conotação política, mas exigiu que ela fosse tratada com todas as formalidades e garantias cabíveis."

COM A PALAVRA, A DEFESA:

O criminalista Arnaldo Malheiros Filho disse que 'na única vez em que houve menção a participação de Delúbio Soares, Bumlai negou enfaticamente que ela tivesse ocorrido'.

Sobre a prisão de Bumlai, o advogado disse que o escritório está obtendo informações acerca do processo e da ordem do juiz Sérgio Moro - por isso, a defesa ainda não decidiu a primeira medida que deverá adotar.

A advogada Daniella Meggiolaro, que integra a equipe de Malheiros Filho, viajou a Curitiba, base da missão Lava Jato. Daniela vai conversar com Bumlai na sede da Polícia Federal.

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O PT informou que, por enquanto, não vai se pronunciar

Por meio de sua assessoria de imprensa, o criminalista Roberto Podval, que defende o ex-ministro-chefe da Casa Civil, declarou:

"A defesa de José Dirceu afirma que o ex-ministro nunca fez qualquer intermediação com a Schahin para empréstimos diretos ou indiretos ao PT ou ainda para contratos com a Petrobrás."

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