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'Did' montou grampo para o pai gravar Renan, Jucá e Sarney

Busca e apreensão na casa do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em dezembro, motivou decisão de pedir ao filho Expedito que providenciasse equipamento para interceptar cardeais do PMDB, estratégia que levou à queda precoce de dois ministros do governo interino Michel Temer e ampliou os tentáculos da Lava Jato

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Foto do author Julia Affonso
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Mateus Coutinho , Isadora Peron e Gustavo Aguiar
Atualização:

 Foto: TASSO MARCELO/AGENCIA ESTADO/AE

O dia 15 de dezembro de 2015 mudou as perspectivas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado sobre a Operação Lava Jato. Naquela manhã, o ex-dirigente da subsidiária da Petrobrás, empresa que liderou entre 2003 e 2014, por indicação do PMDB, foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal. Ele estava em casa, em Fortaleza, com a mulher e um dos netos.

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Assim que os federais deixaram a residência da família, Machado foi se aconselhar com Expedito Machado, um de seus filhos. Preocupado com o avanço da Lava Jato e o risco de ser preso a qualquer momento, o ex-presidente da Transpetro conversou com o caçula sobre a possibilidade de ele próprio gravar conversas com políticos.

Na visão de Sérgio Machado, os grampos poderiam servir para ele 'se defender de outras versões dos fatos que pudessem surgir'.

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Pediu, então, a Expedito que 'providenciasse o dispositivo para isso, o que ele fez em poucos dias'.

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Os grampos de Machado derrubaram a toque de caixa dois ministros do presidente em exercício Michel Temer (PMDB). O senador Romero Jucá (PMDB-RR) ficou no Ministério do Planejamento por 12 dias. Outro alvo das gravações, Fabiano Silveira, passou menos de duas semanas na cadeira de titular do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, pasta criada por Temer.

Did, como é conhecido Expedito, mora em São Paulo. Havia se dirigido a Fortaleza por causa da busca e apreensão promovida pela PF. Em dezembro, Sérgio Machado não havia fechado ainda seu acordo de delação premiada.

Expedito e Sérgio Machado são muito próximos. O caçula é o único que se interessa por política. O planejamento de pai e filho era que em algum momento Expedito fosse candidato a deputado federal enquanto Sérgio Machado concorreria a governador.

Machado havia concorrido ao governo do Ceará em 2002. Expedito, então com 18 anos, participou intensamente da campanha. O governo do Ceará era o grande sonho do ex-presidente da Transpetro.

Em um de seus depoimentos à Procuradoria-Geral da República, Sérgio Machado contou que tinha 'um trauma muito grande da última eleição de governador, porque não pôde competir por falta de recursos'. Viu, então, em uma licitação a 'oportunidade de nesta primeira parcela criar uma reserva para garantir que pudesse posteriormente ter recursos pra voltar a disputar em 2010'.

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O ex-presidente da Transpetro afirma que nunca teve 'qualquer contato com instituição financeira no exterior'. Entre 2007 a 2013, Expedito 'recebeu recursos no exterior' relacionados as atividades do pai, contou também em sua delação premiada. Did era o encarregado de atualizar Sérgio Machado sobre os saldos de recebimentos do exterior. Ia com frequência ao Rio de Janeiro para isso.

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Em um de seus depoimentos, o ex-Transpetro relatou que o pagamento de vantagens ilícitas não se dava em virtude de medições, mas era deduzido da margem de lucro das empresas, 'sempre respeitando o orçamento técnico da Transpetro'. Sérgio Machado declarou que buscava os valores nas empresas selecionadas à medida que fazia os acertos com políticos em Brasília.

"Nem sempre conseguia atender integralmente às demandas dos políticos; que crê que alcançava cerca de 60% de taxa de sucesso em atender aos políticos nos montantes que eles pediam; que o pagamento de vantagens ilícitas pelas empresas permitia ao depoente manter-se no cargo, na medida em que preservava o apoio político ao repassar essas vantagens para políticos", contou à Procuradoria-Geral da República no início de maio deste ano.

Ao fim de um de seus últimos depoimentos, na tarde de 6 de maio, Sérgio Machado foi questionado pelos investigadores se desejava acrescentar algo mais. O ex-presidente da Transpetro afirmou que 'o esquema de financiamento de campanha e de enriquecimento ilícito desvendado pela Lava Jato ocorre desde de 1946 e este é um momento de se alterar essa realidade, sendo esta uma das razões pela qual decidiu colaborar'.

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