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Descaso com a saúde mata também nas estradas

Por Alysson Coimbra
Atualização:
Alysson Coimbra. Foto: Divulgação

Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) comprovou com dados o que a ciência já havia detectado: problemas de saúde, consumo de álcool, privação de sono e alterações no estado mental diminuem a capacidade de dirigir dos motoristas e podem provocar mortes no trânsito.

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O resultado do levantamento no número de acidentes em estradas federais revela que cerca de 283,5 mil acidentes de trânsito, entre janeiro de 2014 e julho de 2020, foram provocados por questões relacionadas à saúde dos condutores. Estamos falando de 14.551 pessoas mortas e outras 247.475 que ficaram feridas porque os motoristas não estavam com a saúde em dia.

Todas essas perdas e o sofrimento causado para as famílias poderiam ser evitados se os motoristas realizassem exames médicos e psicológicos para a renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em menores espaços de tempo. A pesquisa comprova com números o que os especialistas em Medicina e Psicologia do Trânsito alertaram: afrouxar as regras do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e ampliar o prazo para a renovação da CNH é uma tragédia anunciada que provocará ainda mais mortes.

Doenças afetam significativamente a capacidade de dirigir e reforçam a necessidade de avaliações mais criteriosas de motoristas em curtos intervalos de tempo. Nos exames realizados, médicos e psicólogos detectam precocemente condições de saúde que provocam acidentes. Com a ampliação do prazo para a renovação, a deterioração da saúde não será diagnosticada a tempo de evitar que novos acidentes e mortes ocorram.

A falta de atenção ao dirigir, consequência de situações como fadiga, estresse, cansaço, deficit de atenção ou comprometimento do raciocínio, causou 76% dos acidentes e foi responsável por 62% (9.047) das mortes e 74% (182.288) dos ferimentos no período. É uma informação forte demais para ser ignorada. A segunda causa de acidentes é a ingestão de bebida alcoólica e a terceira, sonolência. Houve ainda várias ocorrências decorrentes de mal súbito, da redução da visibilidade e do uso de substâncias psicoativas. Todas essas condições poderiam ser evitadas.

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Essa situação pode mudar se o Projeto de Lei 98/2015, que está parado no Senado, for aprovado. O texto determina que todos os motoristas passem por avaliações psicológicas no ato da renovação da CNH. Hoje, só os profissionais fazem esse exame a cada renovação e os motoristas comuns passam por uma única avaliação quando tiram a carteira, aos 18 anos. Em cinco anos, muita coisa pode mudar, agora imagine com o prazo de 10 anos! Teremos um número muito maior de motoristas doentes nas ruas e estradas brasileiras, provocando acidentes e mortes, deixando milhares de famílias enlutadas por todo Brasil.

*Médico especialista em trânsito, diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (AMMETRA) e coordenador da Mobilização Nacional dos Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito

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