Um estudo conduzido pelo professor André Miceli, da FGV, aponta que o trabalho remoto deve crescer 30% no Brasil[1] e é fato que o home office permanente já tornou-se realidade em muitas empresas, que estão revisando suas operações e reconsiderando a necessidade de sedes físicas.
É verdade que muitas empresas de diferentes frentes no país já praticavam o home office de forma esporádica antes mesmo da pandemia. Diante do isolamento social e da falta de perspectivas sobre vacinas e medicamentos seguros pelo menos até 2021, tenho visto muitas organizações abolindo o escritório físico e estabelecer o home office permanente para 100% da equipe, para preservar a saúde de todos e evitar a busca por um escritório maior neste momento, devido ao novo cenário e sugestões de distanciamento dentro dos escritórios. Seguir um plano e agir de forma rápida tem levado a resultados positivos e está permitindo aos colaboradores se programarem para esse modelo de trabalho. Muitos, inclusive, estão planejando sair de São Paulo para viverem com suas famílias, diminuindo despesas e adequar suas casas para o trabalho remoto permanente.
Na empresa em que atuo, a entrega dos serviços à distância tem sido até mais eficaz. Nesse período, já contratamos três novos colaboradores e nosso foco agora é no novo modelo de venda de serviços. Quem vende serviços vende confiança, e vender confiança à distância - mostrando-se somente da cintura para cima - é um desafio.
Trabalhar sem poder sair de casa é algo que muitos não haviam experimentado de forma coletiva, o que vem obrigando empresas a criar ou passar a utilizar novas ferramentas de gestão e benefícios. Começam a ser ampliados benefícios como o vale-internet, o vale-refeição flexibilizado para vale-alimentação, o uso de recursos do antigo escritório para treinar pessoas e equipar as estações de trabalho nas casas dos colaboradores.
Em relação à jornada de trabalho, recentemente o LinkedIn divulgou uma pesquisa que aponta que 21% das pessoas está trabalhando até 4 horas a mais que antes[2]. Esse é um ponto de alerta para as empresas, pois horas extras são as líderes do ranking de processos trabalhistas, mesmo após a reforma da CLT. Ou seja, a má gestão em relação à quantidade de horas trabalhadas em home office pode resultar em sérios passivos trabalhistas.
Em outros tempos, além de demonstrar o pagamento das horas extras efetivamente realizadas, testemunhas eram arroladas pelas empresas para contestar em juízo as alegações dos autores do processo.
Ainda que a MP 927 (22/3/20) não tenha sido específica em relação à jornada de trabalho e remeta ao guarda-chuva do teletrabalho - que em seu bojo traz a previsão de inexistência de horas extras - como decidirão os juízes e os tribunais? Isso tudo pode ser uma discussão sem fim e bastante cara.
Por isso, empresas que flexibilizarem o home office ou o adotarem definitivamente, devem considerar contar com a tecnologia para não caírem em armadilhas jurídicas. Softwares que controlam a jornada dos funcionários, por exemplo, são uma forma legalmente reconhecida para evitar problemas e ainda proporcionam mais qualidade de vida às pessoas, ao bloquearem suas máquinas nos horários de descanso e no fim do dia de trabalho, salvo se uma solicitação prévia de flexibilização for realizada pelo gestor.
Frente a esses desafios, independente das ferramentas escolhidas pelas empresas para adaptarem-se à nova cultura de trabalho, é preciso lembrar que o maior ativo de uma organização são as pessoas e que líderes devem priorizar condições de trabalho adequadas, seja no escritório ou dentro de casa.
*Arthur Asnis, sócio-diretor da Soft Trade