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Desafios e perspectivas para um novo mandato de Emmanuel Macron

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Por Christopher Mendonça
Atualização:
Emmanuel Macron. FOTO: CHRISTIAN HARTMANN/ REUTERS Foto: Estadão

O Palácio do Eliseu está localizado em um dos pontos mais nobres de Paris - e consequentemente da Europa - e embora tenha servido ao longo de muitas décadas à monarquia do país, hoje é a casa oficial do presidente da República Francesa. Desde maio de 2017, o endereço desejado por diversos políticos na França vem sendo ocupado pelo presidente Emmanuel Macron, um servidor público e banqueiro que após vencer as eleições disputando espaço com experientes políticos apresentou-se como um dos mais jovens governantes daquele país e de todo o continente, sendo empossado aos 40 anos.

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No último final de semana o ainda jovem Macron disputou pela segunda vez a corrida eleitoral rumo ao Eliseu. O segundo turno, marcado para o dia 24 de abril, polarizou o debate de ideias entre as propostas centristas do atual mandatário em contraposição ao viés conservador e nacionalista protagonizado pelo discurso da candidata Marine Le Pen, do partido Reunião Nacional.

A disputa foi uma segunda edição das eleições de 2017, quando estes mesmos nomes disputaram a presidência da França resultando na vitória de Macron que obteve mais de 60% dos votos válidos, segundo a autoridade eleitoral francesa. Ao longo de seu mandato a popularidade do presidente foi sendo minada de forma muito visível por meio das pesquisas realizadas por diferentes institutos. Dificuldades econômicas, críticas relacionadas à política migratória francesa e até mesmo observações sobre a vida pessoal do incumbente foram cruciais em um processo de desgaste da figura presidencial.

Em meados de 2021, em plena crise da pandemia, as pesquisas de intenção de voto já anunciavam que o presidente teria grandes dificuldades em se manter no cargo por mais um mandato. É importante dizer que, nos últimos vinte anos, nenhum dos presidentes franceses conseguiu alcançar a reeleição, tendo sido o último beneficiado por esta possibilidade o ex-presidente Jacques Chirac, em 2002.

Mais de uma dezena de candidatos se inscreveram como postulantes à vaga presidencial baseados principalmente nos dados que demonstravam a impopularidade de Macron. Entre os principais nomes estavam Éric Zemmour, dono de um discurso explosivo em favor do nacionalismo e o experiente político de esquerda Jean-Luc Melénchon, além de Marine Le Pen, que chegou ao segundo turno contra Macron.

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Diferentemente das outras duas tentativas anteriores, o trabalho realizado por Le Pen foi de amenizar as bases mais rígidas de sua ideologia nacionalista: antes favorável à saída da França do bloco europeu a líder da Reunião Nacional defendia agora um maior protagonismo francês na União Europeia. Com seus apoiadores, Le Pen caminhou por todo o país, visitando áreas urbanas e rurais, ao passo que o seu opositor - Macron - realizou uma campanha tímida e sem muito contato popular diante das negociações relativas à Guerra na Ucrânia, nas quais o presidente busca maior preponderância.

A esquerda não participou do segundo turno negando, inclusive, apoio ao presidente de turno que enfrentaria uma dura jornada contra o crescimento visível da direita naquele país. Ao final do dia de eleição, as perspectivas do instituto Ipsos já anunciavam a vitória de Macron. Há, entretanto, algumas conclusões que precisam ser observadas e que não estão tão óbvias a olhos nus.

A primeira destas conclusões é que o eleitorado conservador saiu da disputa derrotado numericamente, mas muito mais forte do que sempre esteve. Em nenhum contexto anterior um candidato de direita conseguiu um número tão expressivo de votos na França. Nos próximos meses será realizada a renovação das cadeiras da Assembleia Nacional e as pesquisas eleitorais já indicam uma participação considerável de deputados ligados à Le Pen. Certamente esta renovação legislativa acarretará em grandes dificuldades de governabilidade para o presidente reeleito.

Um segundo fator que deve ser observado é o alto índice de abstenção eleitoral. O quantitativo de não participação popular nesta eleição só foi observada, anteriormente, há cinco décadas, o que demonstra o desinteresse dos franceses pelos rumos políticos do país. Em um momento em que a França é chamada a liderar, a falta de um líder forte e popular deve prejudicar a posição internacional do país.

O cenário para Macron é muito desafiador: Merkel, sua congênere alemã se afastou da política, o Reino Unido não faz mais parte do bloco, a crise econômica e financeira assola todos os países da Europa e a Guerra na Ucrânia bate à porta. É possível que não haja tantos motivos para comemorações na vitória do presidente reeleito.

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*Christopher Mendonça, cientista político e professor de Relações Internacionais do Ibmec BH

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