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Desabafo de João, do BBB21, não é 'mimimi'

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Por Janaina Ramon
Atualização:
Janaina Ramon. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Muito se comentou da polêmica envolvendo o programa Big Brother Brasil, em que o "Jogo da Discórdia" foi marcado pelo desabafo comovente do professor João Luiz. Ao se sentir ferido pelo comentário feito pelo cantor Rodolffo, no qual o sertanejo comparou seu cabelo black power a uma peruca de homem das cavernas usado pelo próprio Rodolffo no chamado "Castigo do Monstro", a polêmica foi instaurada na internet para tratar de intenção na defesa do cantor, que jamais era a de ofender o professor, reiterando que tudo é "mimimi" na sociedade.

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Já diz a famosa frase que "mimimi é a dor que não dói na gente".

Quando se diz algo que gera qualquer sensação de tristeza, mal-estar, mágoa, sentimento de ofensa ou diminuição em quem ouviu o comentário, dirigido ou não à pessoa, essa brincadeira, piada, lição, frase, comentário que seja, não é mimimi.

Porque quem fala raramente tem a intenção de ofender, isso é uma premissa óbvia, e desnecessária até a justificativa de que o gesto "não foi intencional". Mas os danos psicológicos do ofendido são também - ou deveriam ser - muito claro e injustificáveis, não cabendo qualquer outra medida além de se desculpar sinceramente e não repetir jamais o gesto.

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João Luiz Pedrosa, participante do BBB21. FOTO: TV GLOBO Foto: Estadão

No caso do João, por sinal, não nos esqueçamos de que o ódio aos negros foi um crime histórico e seus descendentes sofreram as marcas dessa situação, não sendo aceitável mais comparações depreciativas, imposição de critérios estéticos de beleza não inclusiva de negros (e como bem dito pelo professor, que seu cabelo não tem osso nem é descuidado para ser comparado ao de um homem das cavernas), provando uma consciência social coletiva capaz de demonstrar que o sofrimento deles não tenha sido em vão e a reparação veio em forma de respeito.

O choro de João claramente veio ainda do fato de que ele está cansado de ser desrespeitado pelos mesmos motivos e os danos psicológicos das repetidas depreciações podem levar a uma depressão, da qual há sim culpados, eis que a palavra dita tem que ser pensada antes, especialmente pelos aspectos emocionais que causa, o que nem de longe é mimimi e deve ser repensado por quem assim tratou o tema.

Por fim, aproveitemos o episódio para nunca sermos, nem repetirmos o gesto de Rodolffos, e se, quando o fizermos, sempre acompanharmos a resposta a nossos Joãos com um pedido de desculpas imediato e sem ressalvas, nos atentarmos à qualidade de tudo o que temos a dizer e, sobretudo, ao poder do que dizemos e no que isso influencia outras pessoas.

Quem sabe o racismo suma de uma vez... não custa sonhar, como um dia uma das maiores inspirações do mundo (Martin Luther King Jr.) já sonhou e nos disse: "I have a dream..."

*Janaina Ramon, advogada, membro do Grupo de Diversidades de Crivelli Advogados

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