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Democratização do bilinguismo: um sonho possível

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Por Maria Cláudia Amaro
Atualização:
Maria Cláudia Amaro. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A pandemia da COVID-19 ainda segue seu curso, mas os ensinamentos deixados por ela são intensos e, ao mesmo tempo, graduais. Você já havia parado para refletir sobre a proximidade de nossas fronteiras com outros países? O lugar de origem do vírus diz muito sobre a globalização, afinal sociedades administradas por complexas economias convivem com práticas tradicionais de populações milenares - logo, todos estão envolvidos em seu relacionamento com diferentes costumes, naturezas, espécies silvestres e mercados onde produtos são vendidos. Mesmo que indiretamente e de maneira muito distante, este envolvimento faz parte da globalização e demonstra o quanto estamos próximos de outras culturas.

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Apesar disso, segundo dados do Conselho Britânico, apenas 5% dos brasileiros sabem o básico de inglês e menos de 1% são fluentes na língua. Estamos muito distantes de acompanhar uma demanda global, e sabemos o quanto isso causa impactos no futuro de nossos jovens. Uma pesquisa realizada pela Nielsen,apontou que 81% da população não só nunca estudou inglês, como também não pretende frequentar algum curso. Dominar o idioma, porém, pode impactar até 72% no salário para os cargos mais altos, como, por exemplo, gerente, diretor, presidente. E em até 52%, no caso de um analista e 60% para coordenadores, supervisores e técnicos. Isso sem mencionar que, em um processo de recrutamento, os candidatos bilíngues sempre levam vantagem frente aqueles que nunca estudaram o idioma de Shakespeare.

A educação já atravessou períodos de muitos modismos e até de deslumbramento: houve um tempo em que as escolas decidiram investir em tablets acreditando que sua utilização revolucionaria a forma como a educação se concretiza; mais tarde, a bola da vez foram as aulas de robótica, que passaram a ter status de diferencial na grade horária escolar, ainda que seu ensino não estivesse atrelado a projetos transversais. Alguns pais acreditaram que o ensino atrelado à tecnologia poderia se de mais uma tendência surgindo no universo educacional, mas falar em tendência remete a algo mais profundo e alinhado às transformações constantes pelas quais a sociedade vem passando. É preciso refletir como isso pode ser absorvido em propostas e ações educativas, agregando valor ao produto final da educação: a preparação do aluno.

Falar dois idiomas possui efeito profundo no modo como pensamos e agimos. Muitos pesquisadores destacam as vantagens de um bilíngue em comparação a um monolíngue, como a maior compreensão de culturas diversas e a oportunidade de expor ideias de outras formas. Memórias, valores e até a personalidade podem se modificar dependendo da língua que usamos, como se o cérebro bilíngue abrigasse duas mentes autônomas. Sabendo disso, fica fácil compreender porque o bilinguismo tornou-se tão importante na hora de considerar novas formas de comportamento humano e as constantes evoluções da humanidade.

O ensino bilíngue representa uma experiência emocional de comunicação; significa entender e ser entendido, e não se sentir frustrado frente a um obstáculo de comunicação. No mercado de trabalho, esta é uma característica importante que faz a diferença no desempenho de um colaborador, afinal sua atuação acaba tendo traços de maior independência, motivação e iniciativa.

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Infelizmente, o ensino de línguas estrangeiras no Brasil sempre foi discriminatório. Uma das razões é que o sistema de ensino fundamental e médio, tanto público como particular, tem mostrado insuficiência para proporcionar uma boa aprendizagem de idiomas, fazendo com que os alunos recorram aos cursos extracurriculares. Isto também não resolve o problema.

Acredito que o ensino do inglês possa atingir um patamar democrático, mas é preciso redefinir o sistema de ensino nas escolas. Falando especificamente das particulares - que somam 38 mil em todo o Brasil, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) - o ensino bilíngue passou por um longo período de elitização ao qual somente as classes sociais mais abastadas tinham acesso.

Atualmente, observamos um movimento para que este conhecimento seja distribuído a outras camadas da população, por meio de estratégias inovadoras e voltadas para atender necessidades a um bom custo-benefício. É o caso das franquias de sistemas bilíngues, que chegam com força transformando estruturas, capacitando e certificando professores e garantindo ao aluno novas oportunidades de aprendizado.

Outro ponto importante é que a democratização do acesso ao inglês está ligada ao tema da diversidade cultural, cada vez mais em voga. Aprender o idioma desde cedo ajuda a minimizar conflitos étnicos, além de evitar a criação de estereótipos e de episódios de intolerância cultural e incapacidade de compreender a dinâmica diferenciada das diversas culturas dos povos.

Na minha opinião, o ensino do inglês deve apontar para uma perspectiva que considere as especificidades de diferentes grupos. O que se espera é que os educadores da atualidade compreendam as novas necessidades globais e deixem de perpetuar as linhas tradicionais de ensino, buscando novas formas de aprendizado, mais ricas, com mais recursos e que agreguem habilidades consideradas primordiais para a inserção dos alunos no concorrido mercado de trabalho.

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*Maria Cláudia Amaro é CEO da Twice Educação Bilingue

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