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Delúbio denunciado na Lava Jato após ganhar perdão no Mensalão

Menos de dois meses depois de receber o benefício do Supremo Tribunal Federal, ex-tesoureiro do PT agora é acusado de lavagem de dinheiro no emblemático empréstimo de R$ 12 milhões do Banco Schahin a um amigo do ex-presidente Lula

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Foto do author Julia Affonso
Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Mateus Coutinho e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Delúbio Soares é ex-tesoureiro do PT. Foto: André Dusek/Estadão

Menos de dois meses depois de ganhar perdão judicial no processo do Mensalão - no qual foi condenado a 6 anos e oito meses de prisão por corrupção ativa -, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares agora poderá virar réu novamente, por lavagem de dinheiro.Nesta sexta-feira, 6, Delúbio foi acusado pelos procuradores da República que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato por suposto envolvimento no emblemático empréstimo de R$ 12 milhões tomado pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, junto ao Banco Schahin - a transação ocorreu em outubro de 2004.

No início de março, Delúbio conseguiu indulto do Supremo Tribunal Federal no processo do Mensalão.

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Para os procuradores da Lava Jato, 'não há dúvidas' de que Delúbio teria atuado no episódio do empréstimo de R$ 12 milhões. Os Schahin só receberam essa quantia após meses de calotes de Bumlai e do PT, anos mais tarde, com a contratação de empresa do grupo para operar um navio-sonda da Petrobrás ao preço de US$ 1,6 bilhão sem licitação.

Os procuradores que subscrevem a denúncia contra Delúbio por lavagem de dinheiro relembram nesta acusação detalhes da denúncia do Mensalão. Eles citam ainda o empresário Marcos Valério, operador do Mensalão, e o empresário Ronan Maria Pinto, que teria ficado com pelo menos R$ 6 milhões do empréstimo tomado por Bumlai. "Delúbio atuava como se fosse representante do Governo, sendo o principal elo do grupo criminoso do Mensalão, especialmente José Dirceu, com Marcos Valério, que, na sequência, arquitetaria o esquema de lavagem de capitais para fazer o dinheiro chegar a Ronan Maria Pinto", assinalam os procuradores.

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Com base nas delações do empresário Salim Schahin, um dos donos do grupo Schahin, e nos depoimentos do próprio Bumlai, o Ministério Público Federal aponta que o então tesoureiro do PT participou de duas reuniões no Banco Schahin para tratar do empréstimo a Bumlai. No primeiro encontro, ele teria afirmado a Bumlai e aos executivos do banco que a "Casa Civil", na época comandada por Dirceu, estava "avalizando" o empréstimo. Schahin confirmou que, após receber a visita do petista, recebeu uma ligação do próprio Dirceu na época.

Já a segunda visita de Delúbio ocorreu quando o empréstimo não estava sendo quitado por Bumlai e os executivos da Schahin começaram a cobrar os representantes do PT. Nesta ocasião, o então tesoureiro foi até o banco com Marcos Valério "para afirmar que o Partido dos Trabalhadores estava tomando as medidas necessárias para saldar o débito que viria a ser pago com a contratação da Schahin Engenharia pela Petrobrás", relatam os investigadores na denúncia.

A denúncia aponta ainda que Delúbio teria solicitado a Bumlai, ainda na primeira reunião no banco, que uma porcentagem do valor do empréstimo seria destinada ao PT "ficando claro que tinha domínio funcional da cadeia de lavagem de capitais que seria desencadeada na sequência", afirmam os procuradores na acusação.

Além do ex-tesoureiro do PT, o operador do mensalão Marcos Valério, que atualmente ainda cumpre sua pena do mensalão, e Enivaldo Quadrado, outro condenado pelo Supremo na AP 470 e que atuava com o doleiro Alberto Youssef também foram denunciados por lavagem de dinheiro neste mesmo episódio.

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De acordo com a denúncia, a partir do empréstimo do Banco Schahin, foi arquitetada uma complexa estrutura de lavagem envolvendo operadores, como o próprio Marcos Valério, para pagar R$ 6 milhões ao empresário de Santo André Ronan Maria Pinto, que segundo Valério estava chantageando o ex-presidente Lula e outros membros da cúpula do partido.

A reportagem tentou contato com a defesa de Delúbio, mas ninguém atendeu no escritório do advogado do petista.

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