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Delegados dizem a novo chefe da PF que se sentem 'abandonados' pelo governo e perdem direitos com reformas

Por meio de suas principais entidades de classe, delegados federais destacam confiança em Paulo Maiurino, novo diretor-geral da corporação, mas alertam que mudanças administrativas de Bolsonaro põem sob 'ameaça a continuidade da Polícia Federal como órgão forte e capaz de executar suas funções constitucionais'

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Foto do author Rayssa Motta
Por Pepita Ortega e Rayssa Motta
Atualização:

O diretor-geral da Polícia Federal Paulo Maiurino. Foto: Diretoria Regional ADPF/São Paulo

Apreensivos com a reforma administrativa do presidente Jair Bolsonaro, os delegados de Polícia Federal revelam inquietações da classe ao novo diretor-geral da corporação, Paulo Maiurino. Em nota conjunta divulgada na manhã desta quarta, 7, no dia seguinte à troca de comando na corporação, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal e a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal afirmaram que os servidores se sentem 'abandonados' pelo governo federal 'diante de reformas que injustamente lhes retiram direitos e ameaçam a continuidade da PF como órgão forte e capaz de executar suas funções constitucionais'.

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Os presidentes das entidades, Edvandir Felix de Paiva e Tania Prado, dizem esperar que a gestão de Paulo Maiurino tenha como 'legado uma efetiva atuação que consolide a valorização da instituição e de seus profissionais'. Segundo Paiva, a reforma administrativa a que a nota faz referência permite que o presidente possa 'mexer' nas instituições por decreto, o que, segundo o delegados 'traz sinalizações de que as carreiras serão desvalorizadas'. "Se isso acontecer, a PF vai ter menos competitividade para atrair as melhores cabeças e isso com certeza vai causar prejuízos técnicos", diz.

Maiurino foi escolhido pelo novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, para substituir o atual chefe da corporação, Rolando Souza. Com a mudança, a PF terá o terceiro chefe em apenas dois anos e três meses de governo. Na avaliação do presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) Luís Antônio de Araújo Boudens, o delegado assume o cargo em um cenário mais 'favorável' do que Rolando, que se tornou DG após a demissão do ex-ministro Sergio Moro e as acusações de suposta tentativa de interferência política na PF pelo presidente Jair Bolsonaro.

Paiva indica que a partir do momento em que houve a troca no Ministério da Justiça - com a saída de André Mendonça - já se esperava a troca na PF. "Tradicionalmente isso acontece. Como o doutor Rolando não tinha um relacionamento próximo com o doutor Anderson já era esperado", registra.

O presidente da ADPF sinaliza ainda que Maiurino deve fazer trocas tanto na diretoria em Brasília, quanto nas superintendências da PF. O delegado ainda faz uma crítica às sucessivas mudanças no comando da corporação: "São cinco mudanças (considerando as trocas dos ministros). Nada contra os nomes, mas cinco mudanças em três anos e meio. Isso atrapalha qualquer instituição. A polícia federal é muito importante pra ter mudanças a todo momento".

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O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) Luís Antônio de Araújo Boudens diz esperar que as mudanças nos primeiro e segundo escalões da corporação sejam feitas rapidamente, para que a PF consiga manter o ritmo de trabalho. Ele elenca duas possíveis trocas, envolvendo as superintendências de Minas Gerais e Distrito Federal, chefiadas por Cairo Costa Duarte e Márcio Nunes de Oliveira, respectivamente. O presidente da Fenapef acredita que os delegados podem ser chamados para integrar a equipe de Maiurino na sede em Brasília, por serem pessoas 'da confiança' não só do chefe da PF, mas também de Torres.

Celso Sanchez Vilardi, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, avalia que as constantes mudanças na diretoria-geral da PF acabam gerando uma instabilidade na corporação e prejudicando a continuidade dos trabalhos. "Cada DG acaba mudando vários postos de comando nos Estados e acho que isso prejudica uma linha de estratégia que cada unidade adota".

Para Paiva, as discussões sobre as sucessivas trocas na PF remetem a pautas já antigas da corporação: o mandato para diretoria-geral da PF, a escolha dos DGs a partir de lista elaborada pelos delegados e maior autonomia administrativa da corporação. "Enquanto isso não estiver na legislação, toda vez que trocar o diretor-geral nós teremos questões como essa de possível interferência", diz.

Na mesma linha, Boudens aponta que há uma expectativa de que Maiurino resolva questões internas da PF, como a lei orgânica da corporação. O agente aponta que a capacidade de interlocução e de de gestão 'interinstitucional' do novo DG pode ajudar nesse aspecto. Ele avalia ainda que o nome indicado para a chefia da corporação fez parte da estratégia do presidente em fazer um aceno às polícias da União.

Leia a íntegra da nota da ADPF e da Fenadepol

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A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol) desejam ao Delegado Paulo Gustavo Maiurino êxito na condução dos desafios em sua nova função como Diretor-Geral da Polícia Federal.

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Quadro experiente da PF, Maiurino iniciou sua trajetória no órgão em 1998 e acumulou experiências que o credenciam para o exercício do cargo de Diretor-Geral da instituição. Sua trajetória interna na condução de investigações importantes e a frente de postos como a chefia da Interpol, bem como em funções no Supremo Tribunal Federal (STF), nas pastas de Segurança Pública no Distrito Federal, São Paulo e no Rio de Janeiro e como Corregedor-Geral do Departamento Penitenciário Nacional, permitem crer que terá as habilidades necessárias para defender os interesses da Polícia Federal junto ao Governo Federal, Congresso Nacional, Tribunais Superiores e demais instituições.

A ADPF e a Fenadepol se colocam à disposição do Diretor-Geral para ajudar no objetivo de proteger e fortalecer a Polícia Federal, objetivo tão caro aos Delegados de Polícia Federal, e desejam que sua gestão deixe também como legado uma efetiva atuação que consolide a valorização da instituição e de seus profissionais, que fazem da PF um órgão de excelência reconhecido por todos.

Paradoxalmente, tais servidores se sentem hoje abandonados pelo Governo Federal, em momento de emergência de saúde pública nacional, diante de reformas constitucionais que injustamente lhes retiram direitos e ameaçam a continuidade da Polícia Federal como órgão forte e capaz de executar suas funções constitucionais.

Por fim, as entidades reconhecem o esforço e dedicação acima da média do Delegado Rolando Alexandre de Souza no comando da Polícia Federal, o parabenizam pelos êxitos alcançados e desejam sucesso nas novas missões.

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Edvandir Felix de Paiva, presidente da ADPF

Tania Prado, presidente da Fenadepol

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