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Delatores da Camargo Corrêa ganham liminar para ficar em silêncio na CPI do remédio popular na Assembleia

Intenção da defesa era dispensar executivos de ir à audiência; três funcionários da Fundação para o Remédio Popular (Furp) acusados de receber propina têm o sigilo telefônico quebrado

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Por Túlio Kruse
Atualização:

Obra de fábrica em Américo Brasiliense foi parar na Justiça. Foto: Ciete Silverio/GOVERNO SP

Dois executivos da Camargo Corrêa, convocados para prestar depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a Fundação para o Remédio Popular (Furp) na Assembleia Legislativa de São Paulo, obtiveram decisão preventiva da Justiça para permanecerem calados.

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Eles foram chamados pela CPI após delatarem ao Ministério Público de São Paulo que pagaram propina a funcionários da Furp em 2013, com a intenção de convencer o órgão a desistir de uma disputa judicial que envolve a construção de uma fábrica de remédios em Américo Brasiliense, no interior paulista - o que resultou no pagamento de uma indenização de R$ 18 milhões pelo governo estadual ao consórcio de empreiteiras.

No mesmo dia, a CPI aprovou a quebra do sigilo telefônico de três ex-funcionários da Furp suspeitos de receberem a propina no caso.

A intenção da defesa dos delatores era que eles fossem dispensados de comparecer à oitiva, o que o juiz não autorizou. Os executivos alegam que teriam sofrido 'constrangimento ilegal' ao serem convocados.

A liminar foi apresentada aos deputados pela advogada dos delatores, em uma reunião reservada com os membros da CPI nesta terça-feira, 3, no mesmo dia em que estava marcada a audiência.

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Na decisão, o desembargador Álvaro Passos, do Tribunal de Justiça do Estado, entendeu que há 'motivo relevante' para conceder a autorização preventiva para o silêncio.

"Argumentam, em síntese, que os fatos estão diretamente ligados ao objeto de Acordo de Colaboração Premiada firmado por eles e o Ministério Público do Estado de São Paulo em 2017, o qual se encontra em segredo de justiça", escreveu Passos sobre o pedido dos executivos.

O Ministério Público de São Paulo, que firmou o acordo de delação com os executivos da empreieira, ainda não ofereceu denúncia à Justiça. Contatada, a defesa dos delatores não respondeu à reportagem.

Quebra de sigilo. Após a sessão reservada com a defesa de um dos delatores, os deputados estaduais aprovaram a quebra de sigilo telefônico do ex-superintendente da Furp Flávio Vormittag, do ex-gerente da construção Ricardo Luiz Mahfuz, e do ex-diretor técnico Adivar Aparecido Cristina.

Os três são acusados de receber propina da Camargo Corrêa para que a Furp desistisse de recorrer de uma decisão judicial em 2013, e concordasse em pagar R$ 18 milhões ao consórcio que construiu a fábrica de medicamentos na cidade de Américo Brasiliense.

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A Camargo Corrêa foi a líder de um consórcio contratado pela Furp em 2005, durante a gestão do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB).

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A construção da fábrica foi orçada em R$ 124 milhões. Em 2012, três anos após a entrega da obra, o consórcio moveu uma ação judicial cobrando indenização da Furp porque a fundação não reconheceu um pedido de desequilíbrio econômico-financeiro no contrato causado pela paralisação da obra. A suspensão teria sido provocada pela própria Furp.

Em 2013, a Furp foi condenada a pagar R$ 14,9 milhões em indenização ao consórcio. Na sentença, a juíza Ana Rita de Figueiredo Nery, da 1.ª Vara da Fazenda Pública de Guarulhos, enfatiza que a fundação não contestou o pedido mesmo tendo sido citada duas vezes no processo e que as gerências financeira e jurídica do órgão reconheceram o desequilíbrio contratual.

Há dois anos, os executivos da empreiteira reconheceram que o acordo judicial foi fechado mediante pagamento de propina. O caso foi investigado pelo Grupo Especial de Combate a Delitos Econômicos (Gedec) do Ministério Público paulista.

A quebra de sigilo vale para o período entre o desligamento dos três funcionários até esta terça, 3. O requerimento foi apresentado pelo presidente da CPI, o deputado Edmir Chedid (DEM), e aprovado por unanimidade.

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COM A PALAVRA, FLÁVIO VORMITTAG

Em entrevista ao próprio jornal O Estado de S. Paulo, quando da publicação da matéria inicial em 24/08/2018, deixei clara minha posição no caso. O acordo celebrado pela FURP com o consórcio foi vantajoso para a empresa e minha participação na sua negociação seguiu absoluta normalidade. Reitero que o acordo judicial fechado com o consórcio que construiu a fábrica de remédios de Américo Brasiliense, interior de São Paulo, foi objeto de inúmeras reuniões do Conselho Deliberativo da FURP, a quem cabe quaisquer decisões desse tipo. O pleito de reequilíbrio do referido Consórcio foi aprovado pela gerenciadora da obra e pelas áreas de engenharia, jurídica e financeira da FURP e da própria Secretaria de Estado da Saúde. O acordo firmado permitiu que a dívida de cerca R$ 25 milhões para pagamento à vista fosse reduzida para cerca de R$ 18 milhões para pagamento em quatro anos (em 48 parcelas). Tenho confiança que a eventual quebra de sigilo telefônico que você me informou que teria sido requerida ALESP demonstre a lisura de todos os meus atos administrativos realizados na gestão da FURP.

 

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