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Delator ligado a Dirceu diz que ajudou montar equipe de Lula

Fernando Moura diz que atuou em campanhas do PT desde 1986,que em 2002 ajudou a eleger ex-presidente e participou de entrevistas de indicados políticos para governo

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Por Redação
Atualização:

Por Fausto Macedo, Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, e Julia Affonso

O ex-ministro José Dirceu. Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

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O operador de propinas e lobista do PT Fernando Moura - elo do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula) no esquema de corrupção na Petrobrás - confessou em sua delação premiada que participou de campanhas eleitorais do PT e citou, em especial a de 2002, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito pela primeira vez.

Moura foi preso com Dirceu na Operação Pixuleco, desdobramento da Lava Jato, deflagrada no dia 3 de agosto.Em troca de benefícios da Justiça, Moura fez delação premiada.

Seu papel era organizar eventos e levantar fundos. Segundo ele, como auxiliar do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, ajudou a montar a equipe de governo entrevistando indicados do partido.

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"Nas eleições de 2002, de igual forma, participou da campanha, em especial, para a campanha de José Dirceu e consequentemente do estão candidato Luiz Inácio Lula da Silva", registra o termo de delação número 1 de Moura.

"Nas eleições de 2002 organizou alguns almoços e jantares de apoio ao candidato a deputado federal José Dirceu, sempre com o objetivo de agregar simpatizantes e doadores de recursos para a campanha", afirmou Moura, ouvido no dia 28 de agosto pela delegada de Polícia Federal Erika Miliak Marena, do Grupo de Trabalho da Lava Jato.

 Foto: Estadão

Moura contou que, em novembro de 2002, quando Lula já estava eleito presidente da República, mudou-se para o apartamento de um amigo no hotel Blue Tree, em Brasília. "Porque já se sabia que José Dirceu ocuparia a Casa Civil da Presidência da República."

O lobista confessou que almejava a oportunidade de trabalhar no governo, mas Dirceu teria lhe dito que como "amigos" não deveria entrar para o governo. O ex-ministro teria dito que lhe ajudaria e o teria orientado a arrumar uma empresa "que ele ajudaria em nível de governo".

Conta o delator que, em seguida, Silvio Pereira, então secretário-geral do PT, e o tesoureiro da legenda na ocasião, Delúbio Soares - condenado e preso no Mensalão - teriam sido convocados pelo recém-eleito presidente Lula "para apresentar as suas expectativas de participação no governo federal".

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Silvio Pereira teria pedido a presidência da Empresa Brasileiro de Correios e Telégrafos e Delúbio a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

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Moura diz ter ouvido de Silvio Pereira que Lula "rejeitou ambos os pedidos, dizendo que eles deviam continuar coordenando o partido, que não podia transferir todos os seus cargos para o governo".

"Silvio Pereira acatou o pedido do presidente Lula, enquanto Delúbio Soares se irritou profundamente com o fato, principalmente porque o presidente Lula disse a ele que 'queria algo maior que ele'", afirmou Moura.

Equipe de governo. Foi então, segundo o delator, que ele diz ter "colado" em Silvio Pereira. "Ao saber desse evento, o declarante percebeu que Silvio Pereira não conseguiria realizar todas as atribuições sozinho, em especial a de organizar os candidatos e respectivas indicações para os 32 mil cargos do governo federal, autarquias e empresas públicas."

Por esse motivo 'colou no Silvinho'. "Passou a auxiliá-lo na organização dos quadros que seriam ocupados com a transição do governo Fernando Henrique para o governo Lula", afirmou Moura.

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O delator afirmou que o PT possuía um "sistema com todos os cargos que deveriam ser ocupados, qual possuía um login e uma senha de acesso para que os membros do partido pudessem imputar os respectivos dados".

 Foto: Estadão

"Para cada cargo deveria ser imputado o nome da pessoa indicada, o nome do 'padrinho', ou seja, aquele que tinha indicado a pessoa e o nome da pessoa responsável pela respectiva entrevista", contou o delator. Ele diz ter participado como auxiliar de Silvio Pereira dessas entrevistas, que ocorriam em maior parte no hotel Sofitel, na Avenida Sena Madureira, em São Paulo.

Moura conta que nessas reuniões ele recebeu o pedido de um executivo da empresa Etesco para indicação de Renato Duque - preso na Lava Jato - para diretor de Serviços da Petrobrás. Duque ocupou o cargo de 2003 a 2012, época em que arrecadou propina em contratos da estatal para ele e para o PT, segundo a força-tarefa da Lava jato.

Campanhas do PT. Moura disse que é amigo de longa data de Dirceu e que 'sempre participou das campanhas do Partido dos Trabalhadores'

"Sua participação consistia na organização de eventos para arrecadação de fundos para as campanhas e em agregar pessoas da sua convivência para participar das campanhas eleitorais."

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O delator citou que, desde 1986, participou das campanhas de Dirceu como deputado e também como presidente do PT, em 1995.

COM A PALAVRA, A DEFESA DO EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU "A defesa de José Dirceu avalia que a delação de Fernando Moura só confirma que o ex-ministro não foi responsável pela indicação de Renato Duque para a diretoria da Petrobras. Segundo o advogado Roberto Podval, os termos conhecidos do depoimento até aqui também contradizem a própria denúncia do Ministério Público porque em momento algum o delator diz que representava José Dirceu em negócios na Petrobras ou que teria repassado dinheiro ao ex-ministro."

 

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