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Delator entregou planilha de pagamentos de R$ 3 mi para campanha de Chalita

Joesley Batista, dono da JBS, afirmou que pagou despesas da campanha a prefeito de São Paulo do PMDB, em 2012, a pedido de Michel Temer; ex-presidente da Transpetro havia citado também pedido do presidente para campanha de aliado paulista

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Luiz Vassallo e Fausto Macedo
Atualização:

Michel Temer (à esq.) e Gabriel Chalita. Foto: Ernesto Rodrigues/AE

O empresário Joesley Batista, dono da JBS, da entregou à Operação Lava Jato uma planilha com os pagamentos feitos pela empresa de despesas da campanha de Gabriel Chalita a prefeito de São Paulo, pelo PMDB, em 2012. Os valores foram pagos, segundo o delator, a pedido do presidente Michel Temer (PMDB) - à época, vice de Dilma Rousseff.

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No anexo 9 de sua delação, Joesley fala sobre Temer e fatos que ele pode delatar com apresentação de "elementos especiais de prova". No depoimento, o empresário registra que em 2012 o presidente pediu ajuda de R$ 3 milhões para a campanha de Chalita.

"Os valores foram pagos por meio de caixa 2, mediante diversas notas fiscais, conforme planilhas a serem anexadas", registra o anexo, entregue pela defesa da JBS para a Procuradoria-Geral da República (PGR).

 Foto: Estadão
 

Como prova, o delator entregou dados das 22 notas fiscais emitidas contra a JBS por 16 empresas, todas ligadas à comunicação e marketing. São elas: JPH Serviços de Editoração, Bem-Le-Vi Propaganda, Lobocão Produções, Malagueta Cinema, Irmãos Brothers, DEAD Line Comunicação, Romagnolli Comunicação Ltda, Grupo R3, Somdubom, 99 Produções Artísticas, Odoia Editoração, Baticum Produções, Style Eventos, 7 1/2 Filmes Ltda, MPC - Marketing e Opinião Comunicação.

Chalita, atualmente no PDT, concorreu em 2012 contra o candidato vitorioso, Fernando Haddad (PT). Durante a gestão petista virou secretário de Educação, cargo que ocupou até 2016, quando saiu do PMDB para ser candidato à vice na disputa de reeleição do prefeito - derrotado por João Dória (PSDB).

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Temer. Em sua delação, Joesley afirmou que os pedidos de Temer para campanhas começaram em 2010, depois de conhecer o presidente por intermédio do ex-ministro de Agricultura Wagner Rossi.

O marqueteiro do presidente Temer, o publicitário Elsinho Mouco, tem relação com o grupo JBS desde em 2010 e atuou na campanha de Chalita.

Segundo o publicitário, sua relação com a JBS começou depois de ter sido procurado para desenvolver trabalho de marketing político para a pré-candidatura ao governo de Goiás de Júnior Batista, irmão de Joesley. Elsinho nega ter trabalhado na campanha do PMDB na disputa da prefeito de São Paulo, em 2012.

O marqueteiro de Temer é figura central nas investigações da Lava Jato contra o presidente. O ministro Edison Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou na última semana abertura de investigação contra o peemedebista por tentativa de obstrução à Justiça.

A defesa do presidente pediu a suspensão das apurações, o que será analisado pelos ministro, na quarta-feira, 24.

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Em sua delação, Elcinho é apontado por Joesley como "marqueteiro de confiança" de Temer. Ele citou pagamentos em 2010, para a empresa Pública Comunicação e ainda entrega de dinheiro vivo, em 2016, às vésperas do peemedebista assumir a Presidência, durante o processo do impeachment de Dilma. O dinheiro, R$ 300 mil, teria relação com o processo de cassação e foi pedido por Temer.

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Joesley afirma que teve mais de 20 encontros com Temer, em seu escritório em São Paulo, em sua residência e no Palácio do Jaburu.

Foi na residência oficial, em Brasília, que o delator gravou o presidente ao ser informado sobre sua atuação para tentar obstruir a Justiça, entre outras coisas comprando o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - preso em Curitiba, desde outubro de 2016.

O argumento central do pedido é a suposta edição que teria sido feita no polêmico áudio do executivo Joesley Batista, da JBS, que gravou conversa com Temer na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu.

Valores. O diretor de relações Institucionais da holding J&F Ricardo Saud entregou no seu acordo de colaboração com a Procuradoria-geral da República uma série de planilhas e anotações relacionadas ao repasses das empresas do grupo para o presidente Michel Temer. Em um das anotações, Saud elenca cinco repasses atrelados a Temer que somam R$ 30 milhões.

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Mas em seu depoimento, Saud explica que foram repassados somente R$ 15 milhões e as outras citações a valores são sobre a forma como o dinheiro foi dividido a pedido de Temer. O dinheiro teria saído da "conta-corrente" do PT, que chegou a ter US$ 150 milhões, tendo como beneficiários os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Os repasses eram, segundo ele, por compra de apoio do PMDB aos petistas.

Transpetro. O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, apadrinhado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), no esquema de corrupção na Petrobrás, revelou em sua delação premiada um pedido feito pelo presidente Temer para a campanha de Chalita de 2012.

Machado, que fechou delação em 2016 e gravou conversas com a cúpula do PMDB, afirmou que em 2012 foi procurado pelo senador Valdir Raupp, na época presidente do partido, que falou que "o vice-presidente Michel Temer estava tendo necessidade de ajuda para seu candidato em São Paulo".

"Liguei para o Michel Temer e ele marcou um encontro na base aérea de Brasília", contou Machado, Sua delação foi divulgada em junho de 2016

Temer me disse que estava com problema no financiamento da campanha de Gabriel Chalita e perguntou se eu poderia ajudar

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"O depoente disse que faria um repasse através de uma doação oficial no valor de R$ 1,5 milhão."

O delator apontou o nome de uma empreiteira que teria feito repasse. "Ambos acertaram o valor, que ficou em R$ 1,5 milhão; que a empresa que fez a doação - no valor ajustado - foi a Queiroz Galvão."

Segundo o delator, Chalita não estava bem na campanha. Sérgio Machado, neste trecho de seu depoimento, citou o senador Valdir Raupp. "O depoente foi acionado pelo senador Valdir Raupp para obter propina na forma de doação oficial para Gabriel Chalita; que posteriormente conversou com Michel Temer, na Base Aérea de Brasília, provavelmente no mês de setembro de 2012, sobre o assunto, havendo Michel Temer pedido recursos para a campanha de Gabriel Chalita; que o depoente se identificou ao adentrar a base aérea; que o automóvel utilizado fora alugado pela Transpetro junto à Localiza, não lembrando o depoente o modelo."

Machado afirmou ainda que ligou para Temer e 'avisou que a contribuição ocorreria'. "Para Valdir Raupp o depoente conseguiu o valor de R$ 500 mil."

Na ocasião, Temer divulgou nota em que afirmou que "em toda vida pública" ele "sempre respeitou os limites legais para buscar recursos para campanhas eleitorais". "Jamais permitiu arrecadação fora dos ditames da lei, seja para si, para o partido e, muito menos, para outros candidatos que apoiou em disputas." Classificou de "absolutamente inverídica a versão" de Machado.

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Chalita não foi localizado neste domingo para comentar as acusações. No ano passado, quando foi citado na delação de Sérgio Machado, o ex-secretário informou, por meio de nota, que "todos os recursos recebidos na minha campanha foram legais, fiscalizados e aprovados pelo Tribunal Regional Eleitoral".

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