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Delator diz ter ouvido na cadeia Vaccari e Vargas associarem 'Charles' a campanha de Dilma

O lobista Fernando Baiano contou à Lava Jato que o ex-tesoureiro do PT e ex-deputado petista atribuíram a ex-assessor da Casa Civil Charles Capella de Abreu, investigado pelo recebimento de R$ 2 milhões para campanha presidencial em nome de Palocci, trabalho de impressão de material eleitoral em 2014

Foto do author Fausto Macedo
Foto do author Julia Affonso
Por Ricardo Brandt , Fausto Macedo e Julia Affonso
Atualização:

Foto de Charles Capella de Abreu, ex-assessor da Casa Civil e das campanhas presidenciais do PT em 2010 e 2014, mostrada pela PF para delator da Lava Jato / Reprodução Foto: Estadão

O operador de propinas ligado ao PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, deu detalhes de conversas que teve e que presenciou durante a prisão, que podem ajudar a Operação Lava Jato nas investigações sobre o suposto pagamento de R$ 2 milhões em propina para a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010, com dinheiro de propina da Petrobrás, a pedido do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil). O episódio envolveria ainda o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, e o ex-assessor da Casa Civil Charles Capella de Abreu.

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Preso desde novembro de 2014 pela Lava Jato, em Curitiba, Fernando Baiano ficou até março na Custódia da Polícia Federal e depois no Complexo Médio Penal, em Pinhais - região metropolitana de Curitiba.

O primeiro episódio contado ocorreu, segundo Fernando Baiano, dentro da carceragem da Superintendência da Polícia Federal, onde esteve preso quatro meses - quando foi transferido com outros presos da Lava Jato para o complexo penal.

O doleiro Alberto Youssef teria afirmado a ele acreditar que os R$ 2 milhões que entregou em um hotel de São Paulo, em 2010, a pedido do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, seria o dinheiro pedido por Palocci para a campanha de Dilma.

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"Alberto Youssef disse que fez uma entrega de R$ 2 milhões, em valores em espécie, a pedido de Paulo Roberto Costa, em um hotel em São Paulo, a uma pessoa desconhecida em apartamento indicado por Paulo Roberto", afirmou Fernando Baiano, em seu termo de delação número 13, prestado no dia 15 de setembro, para a força-tarefa da Lava Jato.

"De acordo com Alberto Youssef, essa entrega possivelmente se refere a essa doação de campanha", disse o delator. O doleiro teria comentado com ele que "a pessoa para qual entregou os valores vestia um terno e que aparentava ser um segurança ou um assessor."

 Foto: Estadão

A principal suspeita da força-tarefa da Lava Jato que o recebedor seja o ex-assessor da Casa Civil, que foi também da coordenação da campanha de Dilma em 2010 e em 2014 Charles Capella de Abreu.

Abreu seria o ex-assessor de Palocci na campanha de 2010, apontado na delação de Fernando Baiano como "Chales", o assessor citado pelo ex-ministro durante o encontro que ele teria presenciado com o ex-diretor da Petrobrás - ocasião em que foi pedido doação para a campanha.

"Ao final da conversa (com Paulo Roberto Costa), Antonio Palocci disse que havia uma pessoa que trabalha come ele, possivelmente um assessor del, que o estava ajudando nessa parte de arrecadação", afirmou Fernando Baiano. Ele diz que "o nome desse pessoa era Charles". "De acordo com Antonio Palocci, essa pessoa faria posteriormente contato para falar sobre esse assunto das doações para campanha."

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Campanha 2014. Recentemente, no Complexo Médico-Penal de Pinhais, o declarante (Fernando Baiano) ouvi uma conversada entre Vaccari (o ex-tesoureiro do PT) e André Vargas em que ambos tratavam de uma recente reportagem relativa a uma gráfica que teria emitido notas frias para a campanha presidencial de Dilma Rousseff de 2014", registrou a Lava Jato.

João Vaccari foi o tesoureiro do PT preso em março, acusado de ser o operador de propina do partido no esquema da Petrobrás, e Vargas o ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados e ex-secretário de Comunicação do partido cassado e preso por suas relações com o doleiro Alberto Youssef.

"Eles (Vaccari e Vargas) citaram os nomes de Edinho Silva e Charles como pessoas responsáveis pela coordenação da área de impressão de material de campanha."

 

Fernando Baiano deu detalhes do que teria presenciado no cárcere, onde permanece detido. Ele diz ter perguntado a Vaccari se "esse Charles trabalhava com Palocci".

"Vaccari disse que Charles era assessor de Palocci e que ele (Charles) havia trabalhado com Edinho Silva na campanha presidencial de Dilma Rousseff de 2014."

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Charles Capella de Abreu não foi localizado para comentar o caso.

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA JOSÉ ROBERTO BATOCHIO, QUE DEFENDE O EX-MINISTRO ANTONIO PALOCCI

O criminalista José Roberto Batochio, que defende Palocci, foi taxativo. "Estão querendo fazer uma delação de conciliação para tentar eliminar as insuperáveis e intransponíveis divergências. Mentiras ditas pelos três envolvidos (Fernando Baiano, Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef), um desmentindo o outro. Inventam mil mentiras, mas a verdade teima em aparecer. É um escândalo de invencionices com a finalidade de escapar da cadeia. Uma coisa absolutamente inidônea, claramente inverossímel com a qual não se compadece a seriedade da Justiça."

Batochio reafirma que "Palocci jamais se reuniu com esse Fernando Baiano, não o conhece, nunca o viu na vida, em lugar algum".

"É preciso que a Justiça cancele os benefícios aos mentirosos e deve faze-lo de ofício, sem ter que esperar ser provocada.A Justiça tem compromisso com a verdade e não com escambos, com trocas que escapam da moralidade."

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Perguntado se o desmentido de Paulo Roberto Costa foi bom para a defesa de Palocci, o advogado criminalista disse. "Foi bom para a verdade e para a Justiça."

Batochio disse ter sido informado que, na acareação, Fernando Baiano confundiu-se até na hora de informar onde ficou hospedado em Brasília e quem fez a reserva para ele.

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