Por Ricardo Brandt e Fausto Macedo
O ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou em delação premiada que recebeu US$ 2,5 milhões da Andrade Gutierrez em contratos da Diretoria de Abastecimento - unidade que dirigiu entre 2004 e 2012. Ele disse que a empreiteira pagava propina ao PMDB e ao PP por meio do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano.
A Andrade Gutierrez é alvo de inquérito aberto esta semana pela Polícia Federal em nova etapa da Operação Lava Jato. À PF, Costa relatou que Fernando Baiano, suposto operador peemedebista, chegou a manter US$ 4 milhões à sua disposição no exterior.
"Deste montante, entre US$ 2 milhões e US$ 2,5 milhões eram oriundos de valores pagos pela Andrade Gutierrez", confessou o ex-diretor, em depoimento no dia 5 de setembro, registrado no Termo de Colaboração 45. A PF registra que do total de US$ 4 milhões ele solicitou a Baiano "que transferisse US$ 3 milhões para uma conta no exterior em nome de seus genros Humberto e Márcio".
Costa disse não saber o que o lobista fez com o saldo de US$ 1 milhão "que havia restado daquilo que lhe era devido nos contratos operados por Baiano dentro da Abastecimento".
Segundo a Lava Jato, PT, PMDB e PP controlavam diretorias da Petrobrás por meio das quais arrecadavam de 1% a 3% nos contratos para os partidos. O PT controlava Serviços, Exploração e Produção e Gás e Energia. O PMDB controlava a Diretoria Internacional. E o PP a Abastecimento.
Segundo revelou Costa, os valores "cobrados e geridos" por Fernando Baiano em nome da Andrade Gutierrez mudaram de mãos a partir de 2008 ou 2009. Até lá, a empreiteira tratava diretamente com o doleiro Alberto Youssef, operador do PP na Abastecimento.
Costa contou que a empreiteira, mesmo após "ganhar algum contrato" sob responsabilidade de sua diretoria "custava a depositar o valor devido ao PP". Com a substituição de Youssef por Fernando Baiano, o PMDB passou a ser contemplado.
O ex-diretor apontou a "proximidade" do lobista com o empreiteiro Otávio Azevedo, presidente da holding Andrade Gutierrez e citou o nome do executivo Paulo Dalmaso como seu contato na empreiteira.
COM A PALAVA, A ANDRADE GUTIERREZ
A Andrade Gutierrez nega reiteradamente envolvimento com o esquema de propinas na Petrobrás. A empresa sustenta que as acusações são "baseadas em ilações e não em fatos concretos".
A Andrade Gutierrez afirma que nunca fez parte de qualquer acordo de favorecimento envolvendo partidos políticos, a Petrobrás e a empresa.
A empreiteira tem assinalado que em depoimentos já concedidos à Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef e Fernando Baiano "deixaram claro que não há qualquer envolvimento da companhia e seus executivos com os assuntos relacionados às investigações da Operação Lava Jato".