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Delator detona secretário Jurídico de Campinas na Operação Ouro Verde

Daniel Augusto Gonsales Câmara , acusado de ser o 'verdadeiro dono' da organização social Vitale, administradora do hospital Ouro Verde, revelou à Promotoria que Silvio Bernardin, exonerado nesta quinta, quando a polícia o procurava, exigiu contratação de um laboratório no qual sua mulher era funcionária

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Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

Silvio Bernardin (ao centro). Foto: Fernanda Sunega/Prefeitura de Campinas

O ex-secretário de Negócios Jurídicos de Campinas, Silvio Bernardin - exonerado nesta quinta, 22, após virar alvo de mandado de prisão da Operação Ouro Verde, terceira fase - , exigiu a contratação de um laboratório no qual sua mulher era funcionária e de uma lavanderia cujo sócio residia no mesmo edifício em que mora, aponta denúncia do Ministério Público do Estado. Essa etapa da Operação Ouro Verde investiga fraudes e desvios de R$ 2 milhões na área da saúde no município paulista.

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Bernardin foi preso na tarde desta quinta, no Aeroporto de Viracopos. Segundo o governo Jonas Donizette (PSB), prefeito de Campinas, o próprio secretário pediu exoneração.

A terceira fase da Operação Ouro Verde fez buscas em onze endereços, inclusive a sede da prefeitura de Campinas,e prendeu outros sete investigados, entre eles o empresário Sylvino de Godoy Neto, diretor-presidente da RAC (Rede Anhanguera de Comunicação), que edita o Correio Popular, e o filho dele, Gustavo Kattar.

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Sylvino foi internado em um hospital. Na segunda-feira ele havia sido submetido a uma intervenção cardíaca.

As investigações apuram o envolvimento de um grupo de servidores públicos e empresários em supostas irregularidades nos contratos da Vitale, organização social que administra o Hospital Ouro Verde.

Segundo a Promotoria, Bernardin teria feito exigências à Vitale 'em nome da administração municipal' logo após a organização vencer o chamamento público para administrar o hospital.

As informações sobre a ação de Bernardin foram repassadas ao Ministério Público pelo empresário Daniel Augusto Gonsales Câmara, acusado de ser o 'verdadeiro dono' da Vitale, hoje réu e delator na Operação Ouro Verde.

Ele afirma ter se reunido com o então secretário na sede da Prefeitura. No encontro, Bernardin teria cobrado a contratação do laboratório Silveira & Stacheti. A esposa de Bernardin era funcionária da empresa à época.

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A exigência foi atendida e, conforme apuração do Ministério Público a partir da quebra do sigilo bancário do laboratório Silveira & Stacheti, a empresa recebeu, em média, R$ 274.519,49 mensais. Em agosto de 2017 foram pagos R$ 392.099,96. O laboratório que atuava anteriormente no Hospital Ouro Verde, o Global Lab, recebia, em média, R$ 218.871,33 por mês, segundo o Ministério Público.

Também foi constatado que 'apesar do superfaturamento, o laboratório deixou de arcar com as despesas de 21 funcionários encarregados da execução dos serviços no Ouro Verde'. Os gastos teriam sido assumidos pela Vitale, sem nenhuma compensação.

 Foto: Estadão

As apurações apontam que, ao contrário do laboratório anterior, o Silveira & Stacheti (posteriormente chamado SM Laboratório com a saída de um dos sócios) utilizava bioquímica comum, 'apesar de receber repasses para compra de material mais moderno'.

"Registre-se que até ser contratado pela Vitale, o aludido laboratório possuía apenas contratos de pequenos valores nas cidades de Santo Antônio de Posse, Serra Negra, e Pedreira, dos quais recebia de R$ 15 mil a R$ 20 mil mensais, mas após a contratação investigada passou a receber cerca de R$ 300 mil por mês, o que reforça a suspeita de que ela foi direcionada", afirma o Ministério Público, em pedido à Justiça.

Lavanderia

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Segundo o delator Daniel Câmara, o secretário Bernardin também exigiu à Vitale que contratasse uma lavanderia de 'pai e filho'.

As investigações apontam que se trata da GreenLav Lavanderia Clinica e Hospitalar, pertencente a Felipe Braz Bernardes, mas registrada no nome de seu pai, Sérgio Roberto Bernardes, seguem os promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público do Estado.

A Promotoria alega que a lavanderia teria contratos diretos e indiretos com a administração municipal desde 2012. Apesar disso, a empresa nunca teria recebido valores anuais superiores a R$ 19 mil.

 Foto: Estadão

"A partir de 2016, ano em que a Vitale assume a administração do hospital Ouro Verde e ocorre a reunião supostamente convocada pelo Secretário Silvio Bernardin, ela teria passado a receber, por conta dos contratos com a administração pública direta e indireta de Campinas, valor anual que se aproxima de R$ 1 milhão", afirmou o Ministério Público.

O valor é 80 vezes maior que a média dos contratos anteriormente firmados com a administração municipal.

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As investigações descobriram que Bernardin e Bernardes residem no mesmo edifício.

Contato

A acusação diz que Bernardin manteve contato com outros réus e suspeitos no esquema antes, durante e após a publicação do resultado do chamamento público que garantiu à Vitale a administração do Hospital Ouro Verde.

COM A PALAVRA, SILVIO BERNARDIN

A reportagem está buscando contato com o ex-secretário Silvio Bernardin. O espaço está aberto para manifestações.

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COM A PALAVRA, A PREFEITURA DE CAMPINAS

"O prefeito de Campinas, Jonas Donizette, exonera hoje do cargo de secretário de Assuntos Jurídicos, Silvio Bernardin, a pedido do mesmo, para exercer o direito inalienável de todo cidadão garantido pela Constituição Federal de exercer o amplo direito de defesa. A Prefeitura de Campinas reitera, de forma veemente, sua disposição de contribuir com a Justiça, como tem feito desde o início das apurações, tomando medidas administrativas assertivas, sempre diante dos fatos."

COM A PALAVRA, A DEFESA DE SYLVINO

O advogado Ralph Tortima Stettinger Filho, que defende o diretor-presidente do Grupo Rac, afirmou que todos os fatos que embasaram a medida contra seu cliente já eram conhecidos antes da deflagração da primeira fase da operação e que as prisões não se justificam. Segundo a defesa, Godoy e o filho Gustavo sempre que requisitados prestaram informações e forneceram dados para as investigações. O advogado disse que o cliente passou por uma cirurgia cardíaca na segunda-feira e que se sentiu mal no momento do cumprimento da ordem de prisão, tendo sido internado na sequência.

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