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Delação de corrupto é sempre por 'ouvir dizer', 'fulano comentou', reage Gabrielli

Ex-presidente da Petrobrás, citado na Lava Jato, afirma que compra da Refinaria Pasadena foi coerente

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Por Julia Affonso , Fausto Macedo e Ricardo Brandt
Atualização:

Sede da Petrobrás, no Rio. Foto: Marcos de Paula/Estadão

Atualizada às 19h37

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O ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli afirmou nesta segunda-feira, 16, que a compra da Refinaria de Pasadena, nos EUA, pela Petrobrás, em 2006, foi 'uma operação coerente com o Plano de Negócios da Companhia'. A aquisição, caso emblemático de corrupção na estatal, é alvo da Operação Corrosão, 20ª etapa da Lava Jato, deflagrada nesta manhã.

"Reafirmo que a aquisição da Refinaria de Pasadena em 2006 foi uma operação coerente com o Plano de Negócios da Companhia, em vigor desde 1997, com orientações estratégicas para um mercado brasileiro de combustíveis, que não crescia desde aquele ano, mas tinha perspectivas de aumentar a produção do seu petróleo Marlim", disse Gabrielli, em nota. "Nos EUA havia um boom de aquisições de refinarias com baixa capacidade de processamento de petróleo pesado, para que o comprador, geralmente produtor de petróleo pesado, fizesse os investimentos necessários para processar este tipo de petróleo e capturar as margens relevantes. Assim orientava o Plano de Negócios da Petrobras aprovado pelo Conselho de Administração antes de 2003."

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O engenheiro Agosthilde Mônaco de Carvalho, novo delator da Operação Lava Jato, declarou à força-tarefa do Ministério Público Federal que o ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró lhe disse que a compra de Pasadena poderia 'honrar compromissos políticos' de Gabrielli. Agosthilde Mônaco de Carvalho foi assistente de Cerveró na área Internacional.

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"De acordo com as informações fornecidas por Nestor Cerveró, este negócio atenderia ao interesse de Gabrielli em realizar o Revamp (Renovação do Parque de Refino) e ao interesse da área internacional em adquirir a Refinaria", declarou Mônaco.

José Sérgio Gabrielli rechaçou as declarações de Agosthilde Mônaco de Carvalho. "As delações premiadas destes corruptos confessos não fazem acusações diretas a minha pessoa, sempre se referindo a "ouvir dizer", " fulano comentou", " sicrano disse" e portanto, acredito, as investigações vão concluir pela falsidade das ilações."

José Sérgio Gabrielli é ex-presidente da Petrobrás. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Segundo o Tribunal de Contas da União, a compra da refinaria causou um prejuízo de US$ 792 milhões. Os delatores Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás) e Fernando Baiano (operador de propinas na estatal) confessaram pagamento de propina no negócio.

Segundo Baiano, a compra de Pasadena envolveu uma propina de pelo menos US$ 15 milhões e teve como figura central das negociações o ex-gerente de Inteligência de Mercado da Diretoria de Internacional da Petrobrás Rafael Mauro Comino, um dos alvos da Operação Corrosão. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, um dos delatores da Lava Jato, mencionou pagamento de propina envolvendo o negócio em sua colaboração. Costa afirmou, sem dar mais detalhes, que a propina neste negócio poderia ter chegado a US$ 30 milhões, e disse que recebeu US$ 1,5 milhão para "não atrapalhar" a compra.

"Se alguém se locupletou com operações fraudulentas relacionadas com a aquisição, que pague por seus erros, depois das investigações policiais e o devido processo legal. Corrupção é um caso de polícia e como tal deve ser tratado, dentro dos marcos legais vigentes na democracia brasileira. Se houve comportamento inadequado de alguns, que se cumpra a Lei", sustentou Gabrielli.

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VEJA A ÍNTEGRA DA NOTA DIVULGADA PELO EX-PRESIDENTE DA PETROBRÁS JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI

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O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli de Azevedo repudia com veemência qualquer ilação de que a aquisição da refinaria de Pasadena serviria para "honrar compromissos políticos" ou ainda que teria o interesse de direcionar o projeto de Revamp à empresa Odebrecht, conforme afirma, irresponsavelmente e sem apresentar qualquer prova, o engenheiro Agosthilde Mônaco Carvalho.

"As afirmações são mentirosas. Se alguém se locupletou com operações fraudulentas relacionadas com a aquisição, que pague por seus erros, depois das investigações policiais e o devido processo legal. Corrupção é um caso de polícia e como tal deve ser tratado, dentro dos marcos legais vigentes na democracia brasileira. Se houve comportamento inadequado de alguns, que se cumpra a Lei", afirma Gabrielli. "As delações premiadas destes corruptos confessos não trazem acusações diretas nem apresentam provas contra a minha pessoa, sempre se referindo a mim por 'ouvir dizer' de terceiros.  É uma irresponsabilidade que atenta contra a verdade e que, sem dúvida, não se sustenta perante a Justiça."

A compra da refinaria de Pasadena atendeu ao Planejamento Estratégico da Petrobras, vigente desde 1997, que previa a expansão dos negócios de refino fora do Brasil. A aquisição foi aprovada, com base pareceres técnicos e jurídicos, pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração. O aludido prejuízo de US$ 792 milhões pela compra da refinaria nunca existiu, conforme a defesa do ex-presidente já demonstrou junto ao Tribunal de Contas da União. "É com indignação que vejo como funcionários e ex-funcionários da Petrobras confessam que se valeram de seus cargos para receber pagamentos indevidos por uma aquisição que atendeu ao Planejamento Estratégico da companhia e a todas as regras de governança vigentes à época", conclui Gabrielli.

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