Monitoramento telefônico da Operação Pripyat flagrou Ludmila Gabriel Pereira, alvo da investigação sobre corrupção nas obras da Usina de Angra 3, tentando destruir provas, rasgando e queimando papéis. Ludmila Pereira é uma das sócias da Flexsystem Engenharia S.A, que teria intermediado propina de empreiteiras para ex-dirigentes da Eletronuclear. Ela foi presa temporariamente sob determinação do juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. A Polícia Federal afirma que ela 'promoveu incansavelmente' destruição de documentos.
Em um dos diálogos capturados pela Polícia Federal, Ludmila Pereira conversa com sua mãe, Marlei Pereira.
"LUDMILA - Oi mami. MARLEI - Oi minha filha, tudo bem? LUDMILA - Tudo bem. Tô aqui esperando ela fazer as liberações. MARLEI - Cê tá com ela? LUDMILA - Tô, ela foi lá pra dentro fazer a transferência. Ela me deixou aqui... MARLEI- É que ela, ela me ligou e perguntou do seu pai. LUDMILA - Exatamente, eu falei que ele tava no hospital" "LUDY - Na verdade, MARY, eu to aqui, rasgando papel, né, que você (inaudível) pediram ... MARY - Ah... LUDY - a TATI fugiu ontem ... MARY - Entendi" " LUDMILA - Eu vou aí, deixa só eu terminar de fazer uma fogueira aqui que eu to fazendo, que eu acho que eu ... ALEX SANDRO - Fogueira? LUDMILA - Ah, eu tava rasgando papel, sabe? (...) LUDMILA - Tem ... queima tudo, exatamente... "
Ludmila Pereira e Tatiana Gabriel Pereira são sócias remanescentes das empresas Flexsystem Sistemas Gerenciais Flexíveis e Flexsystem Engenharia S.A, após o falecimento do pai Ney Gebran Pereira, que era quem tomava conta dos negócios. Para os investigadores, Ludmila Pereira tinha conhecimento a respeito dos negócios de Ney Gebran, pois, além de sócia das empresas Flexsystem, elaborava as declarações fiscais do pai.
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A Receita aponta que a Flexsystem Engenharia S.A 'recebeu pagamentos significativos de empreiteiras e manteve vultuosa movimentação financeira'. O ex-diretor técnico Luiz Soares e o ex-superintendente de Construção José Eduardo Costa Mattos, ambos da Eletronuclear, teriam indicado, de acordo com a Procuradoria da República, a empresa Flexsystem 'para ocultar o repasse da vantagem ilícita'.
A Operação Pripyat revelou que o ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva - preso na quarta-feira, 6, no Rio - recebeu R$ 12 milhões em propinas das obras de Angra 3. O valor corresponde a 1% do montante da construção, orçada em R$ 1,2 bilhão. Outra parte da propina, segundo a Procuradoria, foi dividida entre cinco ex-dirigentes do alto escalão da estatal. A investigação mostra que ele dividiram 1,2% do valor total da obra: Luiz Soares (0,3%), ex-diretor de Administração e Finanças Edno Negrini (0,3%), ex-diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente Persio Jordani (0,2%), ex-superintendente de Gerenciamento de Empreendimentos Luiz Messias (0,2%) e José Eduardo Costa Mattos (0,2%).
Segundo a investigação, após a morte de Ney Pereira, em 2 de março deste ano, a viúva Marlei e a filha Ludmila buscaram liberar 'expressivas quantias de dinheiro do espólio omitindo seu falecimento'.
"Ludmila e sua mãe Marlei mentiram diversas vezes à gerente do banco afirmando que Ney ainda estava vivo, quando sabiam que o mesmo já havia falecido, com a intenção de baixar uma aplicação de R$ 70 mil. Ludmila era ainda responsável pelas movimentações financeiras de seu pai junto às instituições financeiras e pela sua declaração de ajuste anual do imposto de renda, o que evidencia seu conhecimento do esquema criminoso de pagamento de propinas ora investigado", aponta relatório da Polícia Federal.
"Não obstante, o mais grave ainda estaria por vir: a destruição sistemática de papéis de Ney. Não foi possível identificar que papéis eram esses, mas Ludmila promoveu incansavelmente sua destruição, com o conhecimento de sua irmã Tatiana, sócia majoritária da Flexsystem Sistemas Gerenciais."