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De capital da Lava Jato a centro de comando da campanha do PT

Preso há seis meses, sem poder ser candidato nem votar, Lula assistiu sozinho o desempenho do "escolhido" Fernando Haddad da TV de sua cela em Curitiba

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Por Ricardo Brandt e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Vigília em apoio a Lula em frente a PF em Curitiba. Foto: Ricardo Brandt/Estadão

Curitiba, a capital da Operação Lava Jato desde 2014, foi transformada nessas eleições no centro de comando da campanha presidencial do PT. Preso há seis meses - completos ontem - após condenação em segundo grau por corrupção e lavagem de dinheiro, Luiz Inácio Lula da Silva comandou da cadeia a campanha de Fernando Haddad e foi fiador das alianças e do apoio petista ao candidato. Sozinho, na cela especial preparada para ele na sede da Polícia Federal, o ex-presidente acompanhou neste domingo a votação e o desempenho de seu escolhido pelas notícias da TV.

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Transformada em comitê eleitoral, a cela de Lula na cobertura do prédio berço da Lava Jato - as investigações do escândalo Petrobrás começaram na PF de Curitiba em 2013 -  não foi suficiente para isolar o ex-presidente. Por meio de amigos, advogados e aliados políticos que o visitaram diariamente, o petista conduziu a estratégia de arrastar a candidatura presidencial do PT em seu nome até o prazo final dado pela Justiça Eleitoral, negociou alianças regionais nos estados e ditou as palavras e os passos de Haddad, que em mais de uma oportunidade assumiu o papel de "porta-voz".

Na segunda-feira, 1, quando o juiz federal Sérgio Moro tornou público o primeiro termo da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, que compromete Lula e o PT, Haddad fez sua última visita antes da votação.

A aliados e apoiadores, Lula distribuiu mensagens e ordens em bilhetes e cartas manuscritos. No último, enviado aos apoiadores via cópia reproduzida em redes sociais, o ex-presidente usou "seu aniversário oficial" para pedir votos em Haddad - oficial porque o registro feito pelo pai no cartório data seu nascimento no dia 6, mas a mãe afirmava que ele nasceu no dia 27, data que ele considera. "Dia 6 de outubro é o meu aniversário oficial. Espero ganhar de presente no dia 7 de outubro o voto do povo brasileiro no Haddad", escreveu o ex-presidente.

Rotina. Os escritos são parte da rotina que Lula adotou, nesses 184 dias de cárcere. No acampamento de vigília dos petistas, uma placa registra os dias de prisão do petista - como as placas em empresas, que anotam quantos dias não ocorre um acidente de trabalho.

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Com uma mesa colocada na cela, de cerca de 15 metros quadrados, Lula escreve, usa ela para leituras e para as reuniões diárias com seus advogados - o mais presente é o advogado Manoel Caetano Ferreira Filho, espécia de defensor, conselheiro e companhia. Toda manhã, depois do café com pão e manteira e da caminhada na esteira autorizada pela Justiça, o ex-presidente conversa com "doutor Caetano", como é conhecido.

Na quinta-feira, 4, dia das visitas da família - dois filhos estiveram com ele nessa semana - e dos amigos, Lula receberia seu biógrafo Fernando Morais e o jornalista Mino Carta, mas a Justiça proibiu o encontro. Os dois são jornalistas e entrevistas com o petista estão proibidas por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

Reforço. Apesar de seu papel de liderança na disputa, Lula não pode concorrer, por estar inelegível, nem votar neste domingo. A capital do Paraná amanheceu fria e chuvosa nesse domingo de eleições gerais, como se o inverno não tivesse acabado. O clima varreu dos arredores da PF, no bairro Santa Cândida, os apoiadores de Lula que estão acampados em vigília pela soltura do petista.

 

Antes formada por mais de 200 pessoas, a vigília foi reduzida há algumas dezenas de pessoas, que tem como pontos de concentração três imóveis alugados no bairro. Um deles, um terreno em frente ao prédio da polícia, abriga a estrutura de manifestações. Na manhã de ontem, só seguranças e alguns poucos apoiadores ocupavam o local.

Nesta segunda-feira, 8, a vigília que atualmente é mais simbólica do que efetiva, deve voltar a reunir uma multidão nas ruas do entorno da PF. Haddad chega pela manhã para sua primeira reunião de segundo turno com Lula, o coordenador da campanha, como a militância o trata abertamente no incansável ritual de saudação diário, em que gritam: "bom dia presidente Lula", "boa tarde presidente Lula" e "boa noite presidente Lula".

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