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Daniel Silveira e Eduardo Bolsonaro são barrados no STF ao tentar acompanhar julgamento no plenário

Regimento atual da Corte só permite que advogados acompanhem a sessão

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Foto do author Iander Porcella
Por Weslly Galzo , Iander Porcella (Broadcast) e Izael Pereira/BRASÍLIA
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Daniel Silveira e Eduardo Bolsonaro foram barrados no STF. Foto: Reprodução/CNN

Os deputados Daniel Silveira (PTB-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foram impedidos de entrar no prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira, 20. Eles queriam acompanhar na sede da Corte o julgamento da ação penal contra Silveira.

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"Se puder levar minha reclamação lá dentro", disse Eduardo Bolsonaro ao servidor do STF que explicou os motivos de não poderem entrar. Silveira, que estava ao lado, repetiu a mesma frase.  O Supremo chegou a oferecer aos deputados a possibilidade de acompanharem o julgamento de uma televisão no Salão Branco da Corte, a antessala do plenário, mas ambos se recusaram. Os parlamentares decidiram voltar à Câmara.

Os políticos foram barrados pelos seguranças da instituição com base em uma resolução assinada em fevereiro pelo presidente do Supremo, Luiz Fux, que proibiu a presença de qualquer pessoa que não seja membro do colegiado, representante das partes no processo, integrante do Ministério Público ou servidor. O ato normativo da presidência foi editada em resposta ao aumento dos casos de covid-19 no Distrito Federal.

A poucos minutos do início da sessão que vai definir o futuro político de Silveira, a Praça dos Três Poderes se mantinha vazia, sem qualquer sinal de militantes. A tranquilidade ao redor do prédio do Supremo contrariou a expectativa da equipe de segurança da instituição, que mantinha no radar a possibilidade de ataques.

Daniel Silveira será julgado em uma ação penal proposta pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que o acusa de crimes contra a segurança nacional, a honra do Poder Judiciário e a ordem política e social do País.

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Em fevereiro do ano passado, o deputado publicou um vídeo nas redes sociais com diversos ataques e ameaças aos ministros do Supremo. Na ocasião, Silveira afirmou que se imaginava agredindo fisicamente os integrantes da Corte e os desafiou a prender o general de Exército Eduardo Villas Boas por declarações críticas ao julgamento do ex-presidente Lula pelo tribunal, o que foi considerado pela PGR incitação de animosidade entre as Forças Armadas e o Judiciário.

O deputado chegou a ser preso em fevereiro do ano passado após divulgar vídeo com ameaças a integrantes do STF. Caso condenado nesta quarta, Silveira deve ser reconduzido à prisão. Ele está desde o mês de março sob monitoramento de tornozeleira eletrônica.

Críticas

Após ser barrado, Daniel Silveira (PTB-RJ) voltou para a Câmara e, mais uma vez, desafiou os ministros da Corte. Ao sair de seu gabinete para, segundo ele, ir ao Rio de Janeiro, o parlamentar disse que quem votar a favor da ação penal contra ele "não é sério."

"O Alexandre de Moraes não é uma pessoa séria. Os ministros não estão sendo sérios no processo. Multaram até o meu advogado por recorrer", afirmou Silveira a jornalistas. "Tudo é positivo para mim. Para eles, é negativo. Quem votar a favor dessa ação penal, não é sério, nem merecia estar lá no STF", emendou.

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No plenário da Câmara, mais cedo, Silveira chamou Moraes de "reizinho do Brasil" e disse que o presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas-AL), cometeu um "equívoco grave" ao deixar de pautar para votação no plenário da Casa a sustação da ação penal contra ele.

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"O detentor da ação penal solicitou o arquivamento deste inquérito por duas vezes e foi ignorado pelo Alexandre de Moraes, um ministro que é o reizinho do Brasil, um menininho frustrado que age da maneira dele, fora da Constituição Federal. Tem muita coragem atrás da mesa, com uma caneta e o poder de mando", declarou o parlamentar.

"Fiquei 11 meses no presídio. Onze meses, sem crime. Mas acho que eu estava mais livre. Porque o menor presídio do mundo é a toga do ministro Alexandre de Moraes, só cabe um marginal. É muito complicado que se tenha pessoas dessa estirpe dentro do Supremo Tribunal Federal, atropelando a Constituição, não respeitando o que essa Casa aqui promulgou, em 1988", criticou.

No final de março, Silveira protagonizou o que foi definido por Lira como "uso midiático" das dependências do Congresso. Após Moraes determinar a colocação imediata de tornozeleira eletrônica no deputado, ele chegou a passar uma noite na Câmara numa tentativa de escapar da decisão judicial. A Polícia Federal (PF) foi à sede do Legislativo, mas o parlamentar se recusou a colocar o equipamento.

Depois de o ministro estabelecer uma multa diária de R$ 15 mil por descumprimento da decisão judicial, além do bloqueio de todas as contas bancárias de Silveira, o deputado decidiu deixar as dependências da Câmara e colocar a tornozeleira eletrônica. Na ocasião, pressionado por Lira, o presidente do STF, Luiz Fux, marcou o julgamento da ação penal contra Silveira para hoje.

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Durante o tempo em que esteve na Câmara tentando escapar da tornozeleira, o deputado chegou a dizer que queria ver até onde iria a "petulância" de Alexandre de Moraes. Ao afirmar que não cumpriria a decisão, defendeu o impeachment do ministro e o chamou de "medíocre".

O magistrado determinou a colocação imediata de tornozeleira eletrônica no deputado em resposta a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). De acordo com a PGR, o parlamentar descumpriu as medidas cautelares impostas quando ele foi autorizado a deixar a prisão.

No plenário da Câmara, hoje, Silveira voltou também a criticar Lira. "Talvez o presidente Arthur Lira não tenha percebido esse equívoco muito grave, na verdade, contra o Legislativo, em não ter pautado a sustação da ação penal", afirmou. "Se o deputado não tem respeitada a sua imunidade material e formal, através de opiniões, palavras e votos, quem vai ter?", cobrou o parlamentar.

Em 29 de março, quando Silveira dormiu em seu gabinete na Câmara para tentar escapar da tornozeleira eletrônica, deputados bolsonaristas começaram a pressionar Lira a tomar uma atitude contra a decisão do ministro.

Ao longo do dia 30, a pressão continuou. O presidente da Câmara, contudo, apenas divulgou uma nota em que defendeu a "inviolabilidade" da Casa, mas também criticou o que chamou de "uso midiático" do Legislativo, numa referência à atitude do parlamentar.

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Durante reunião com líderes partidários na semana seguinte, Lira externou todo seu incômodo com a atitude de Silveira e disse que se pautasse no plenário a suspensão da medida determinada pelo STF com relação ao parlamentar, como queriam os bolsonaristas, abriria um precedente para que outros deputados que enfrentam ações penais também exigissem igual proteção.

O recado para o Palácio do Planalto foi claro: ao dizer que não seria pressionado a ajudar Silveira, Lira olhou para o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Barros, por sua vez, não fez comentários.

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