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Cúpula do Clima: a presença do governo Biden na Amazônia

Por Mayra Castro
Atualização:
Mayra Castro. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Nos dias 22 e 23 de abril, o governo Biden liderará a Cúpula dos Líderes sobre o Clima. Em formato de evento virtual, foram confirmadas as presenças de dezenas de líderes mundiais. Uma pauta será inevitável: a Amazônia. A nossa floresta será o centro de várias discussões que podem variar de acordos comerciais à compra excedente de vacinas contra a COVID-19.

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Por um lado, se manifestar quanto à região significa posicionamento geopolítico em âmbito internacional. Por outro, significa ouvir um grito de socorro, de políticos à lideranças indígenas brasileiras, como o caso da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Cabe ressaltar, no entanto, que o governo americano já possui uma inteligência regional na Amazônia por meio da Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (USAID).

A agência americana foi criada durante o governo Kennedy, em 1961, no intuito de prover assistência ao desenvolvimento internacional. No Brasil,  a USAID tem um acordo bilateral com o governo brasileiro que prevê US$ 80mi entre 2014 e 2024 e que se chama Parceria Para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB).

Um dos casos de sucesso deste acordo é o investimento da USAID na Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), desenvolvida em colaboração com entidades brasileiras. Em 2019, o PPA fez uma rodada de negócios onde foram captados R$ 4,8 mi para apoiar nove iniciativas de impacto na Amazônia.

Um outro exemplo envolvendo a USAID na Amazônia é a parceria que envolveu R$ 2,5mi doados pela mineradora norueguesa Hydro por meio do seu Fundo de Sustentabilidade. No total, os investimentos para o PPA Solidariedade - braço do PPA que atua em parceria com NPI Expand e a SITAWI Finanças do Bem - somam R$ 3,8 mi.

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Em 2019, os governos do Brasil e Estados Unidos assinaram uma carta de intenção com o objetivo de criar um fundo de investimento privado com meta de US$ 100 mi em dez anos para a biodiversidade na Amazônia.

Em janeiro de 2020, o USAID e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) lançaram o programa Oportunidades que visa a integração econômica de venezuelanos e outros migrantes da América Latina em situação de vulnerabilidade no Brasil. O montante do financiamento desta iniciativa é de US$ 4 mi.

É notório que todos esses arranjos implicam em conhecimento de campo, estratégias de parcerias e sensibilidade cultural para lidar com as peculiaridades da região. É bom que se diga que a presença estrangeira na Amazônia nem sempre é bem vista sob a perspectiva local. As razões disso giram em torno de biopirataria e exploração econômica. Segundo um estudo de 2018 de Britaldo Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com o Banco Mundial,  a Floresta Amazônica  pode render economicamente cerca de US$ 737 por hectare/ano enquanto que a pecuária extensiva rende apenas US$ 40 hectare/ano.

O valor econômico que o plano internacional dá à região parece estar intrinsecamente ligado à floresta viva. Logo, é imprescindível dar atenção às negociações de propriedade intelectual, transferência de tecnologia e aumento do parque industrial bioeconômico regional.

É fato que se os Estados Unidos e Europa quiserem discutir a relevância da Amazônia para o clima mundial, terão que rever o padrão de consumo de minério, soja e carne vermelha atrelada ao desmatamento na região. Além disso, cobrar das suas empresas importadoras transparência da cadeia produtiva.

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Quanto à Cúpula de Líderes sobre o Clima, os maiores especialistas em Amazônia são os amazônidas, aqueles que habitam e vivenciam a região, na floresta e nas cidades. São elas que conhecem com profundidade a realidade do local, podendo indicar os caminhos viáveis para uma transição a uma economia mais verde e consciente.

Esse acesso o governo Biden já tem. Resta agora saber como  o governo americano utilizará todo esse arcabouço técnico e histórico na  Cúpula do Clima e o que pode eclodir a partir desse encontro.

*Mayra Castro, designer de Conexões e Parcerias e ex-diretora do Consulado Científico do Governo da Suíça em São Paulo

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