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Criptomoedas: investimento promissor ou a 'bolha do amanhã'?

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Por Rafael Pires
Atualização:
Rafael Pires. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

O alto investimento realizado por "grandes baleias" - investidores que detêm grandes quantidades de bitcoins - e também a opinião de bilionários com forte poder de influência popular, tem contribuído para que as criptomoedas se valorizem ainda mais. É só pegarmos o caso de Elon Musk, o homem mais rico do planeta. Com apenas um tuíte, Musk fez a dogecoin, criptomoeda que nasceu de um meme e não era levada a sério, obter um crescimento de 68%.

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Não muito tempo depois o "quase trilionário" investiu $ 1,5 bi em bitcoins e a criptomoeda alcançou o valor de $ 46.500, aproximadamente R$ 259.000.

As grandes baleias parecem ter o mesmo poder do Rei de Midas, porém, ao invés de tocar, basta apenas falar, ou melhor, postar sobre o objeto desejado para que esse se valorize ainda mais. Após isso, é questão de horas para o mercado ficar fervoroso, a mídia espalhar a notícia sobre o tuíte, investidores começarem a comprar ou a vender o ativo financeiro e milhares de pessoa seguirem a ordem.

A questão é: Até onde esse poder de influência pode ser usado para benefício próprio?

Muitos falam que o bitcoin irá subir. Outros, que irá descer. No entanto ainda não chegou o dia que inventaram uma expertice ou qualquer tipo de graduação que permita a previsão do futuro. Tudo que temos são apenas especulações.

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Mesmo que em poucos meses 2021 pareça ser um ano decisivo na história das criptomoedas, em especial, do bitcoin, ainda estamos longe de saber se as criptos tratam-se de um investimento seguro ou uma grande bolha prestes a estourar.

Vamos analisar os fatos.

A alta volatilidade do bitcoin, justamente um dos seus principais atrativos, o tornam um investimento de alto risco. No final de fevereiro, ele atingiu seu máximo histórico de $ 58 mil, e na mesma semana o ativo também caiu para $44 mil, um total de 32%.

Tanto a sua alta volatilidade quanto também o aumento do número de fraudes relacionadas às criptomoedas - destaque as pirâmides - as tornam distantes de ser um investimento seguro.

Um outro fator negativo é o alto consumo de energia utilizado para a sua mineração. Segundo um recente levantamento realizado pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a mineração de Bitcoin consome mais energia do que toda a Argentina, e caso a criptomoeda fosse um país, estaria no 28 º lugar no consumo global de energia. Os altos gastos elétricos não foram criticados apenas por ambientalistas. Joe Biden, o principal conselheiro econômico do presidente dos Estados Unidos, descreveu o bitcoin como "uma forma extremamente ineficiente de fazer transações" e que "a quantidade de energia consumida no processamento dessas transações é impressionante".

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Do outro lado do planeta, a China determinou que irá encerrar todas as instalações de mineração da criptomoeda, na região da Mongólia, justamente para reduzir o alto consumo elétrico.

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Por outro lado, as criptomoedas estão com uma alta tendência de popularização, demonstrando que chegaram para ficar. Segundo o banco Citi, o bitcoin possui um design descentralizado, falta de exposição em moeda estrangeira, movimentos rápidos de dinheiro, canais de pagamento seguros e rastreáveis e principalmente um alcance global. Reunidos todos esses atributos, segundo a centenária empresa bancária, o bitcoin poderá ser a moeda de escolha para o comércio internacional.

Devido a esses atributos da cripto, existem movimentos na Nigéria que defendem que o bitcoin se torne a moeda oficial do país. Um dos principais motivos é a atual moeda nigeriana ser fraca e também a alta inflação no país.

A utilização de bitcoins em esferas governamentais é também debatida em grandes economias, como os Estados Unidos. Recentemente, o prefeito de Miami informou que quer pagar parte do pagamento de servidores público com bitcoins.

Outra vantagem das criptomoedas são a facilidade de entrada para investimento, possibilidade de investir em pequenas quantias e - mais uma vez no caso do bitcoin - uma fácil liquidação.

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A criptomoeda também pode ser vista não como um ativo a ser investido, mas como uma moeda de câmbio, ou seja, uma moeda para ser utilizada na troca de serviços e produtos. Existe uma alta possibilidade de um crescimento na realização de transações e negócios por bitcoins.

Em 2021, observamos também que grandes bancos e empresas de cartão de crédito aderiram as criptomoedas. Em fevereiro, a Visa anunciou testes de uma interface de programas de aplicações (API) que permitirá com que bancos ofereçam serviços com bitcoins e outras criptomoedas. No mesmo mês, a rede Mastercard anunciou que irá integrar algumas criptomoedas como forma de pagamento em 2021.

Compras online podem ser realizadas com criptomoedas. Até mesmo viagens. Sites do segmento de turismo, como o Travala, por exemplo, tem opções de pagamento que podem ser realizadas com criptos.

Pouco a pouco a criptomoeda entra no nosso cotidiano, mas a possibilidade de comprar itens do dia a dia no varejo ainda tem desafios quase insolúveis. Mais uma vez a alta volatilidade se torna a grande vilã. Além de não permitir um controle nos valores, é também quase impossível realizar o fechamento de caixa com a validação dos variáveis preços da cripto que muda de hora em hora.

Michael Burry,investidor famoso por ter previsto a crise dos subprimes em 2008, afirmou que o bitcoin pode ser comparado ao mercado imobiliário em 2008, ou às empresas pontocom no final dos anos 1990. Antigas bolhas, que foram "infladas" e geraram um enorme prejuízo financeiro.

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A grande questão é que a criptomoeda não está ligada a nenhuma construção de fato, ela não está sendo utilizada para construção, seja para fazer câmbio ou construir novos valores, ela está sendo apenas um ativo variável sem um valor sólido.

É provável que no futuro as criptomoedas estejam cada vez mais presentes, porém diversas variáveis, como uma falha no blockchain ou a possibilidade de determinados governos proibirem sua transação ou até mesmo a questão da energia consumida para minerar novas criptmoedas pode atrapalhar e fazer o investimento do futuro se tornar o estouro da bolha do amanhã.

Em meio a esse mundo de especulações, dois atributos se tornam essenciais para o investidor: estudo e -principalmente - cautela.

*Rafael Pires, especialista em tecnologias financeiras

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