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'Criou-se um tipo de direito penal de Curitiba', ataca Gilmar

Ministro do Supremo Tribunal Federal ataca as delações premiadas e os poderes do Ministério Público; 'quanta desfaçatez, quanto cinismo, quanta ousadia, quanto pensamento totalitário'

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Por Redação
Atualização:

Gilmar Mendes. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

O ministro Gilmar Mendes desferiu nesta quarta-feira, 28, pesado ataque às delações premiadas e também ao Ministério Público e aos seus poderes de investigação. "Pretendo demonstrar que aqui e alhures a outorga de poderes sem controle do Ministério Público faz com que boas intenções degringole em uma rede de abusos e violações de direitos fundamentais."

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Ele disse que foi criado 'o Direito Penal de Curitiba', em alusão à origem da Lava Jato, na primeira instância judicial, onde atua Deltan Dallagnol e outros doze procuradores da República, além do juiz federal Sérgio Moro.

"Não acho que o sistema atual seja bom", disse Gilmar no Plenário do Supremo Tribunal Federal onde ele e seus pares discutem os limites da delação premiada - instrumento mais importante e decisivo da Lava Jato.

"O delator é fortemente incentivado a delatar delitos verdadeiros ou fictícios, especialmente quando os delatados são pessoas conhecidas", acusa o ministro, sentado próximo ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que denunciou o presidente Michel Temer por corrupção passiva com base na delação premiada dos executivos da JBS.

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Ele disse que tem recebido em seu gabinete 'advogados conhecidos' que relatam a ele que delatores 'foram estimulados, inclusive com lista de nomes que deveriam ser delatados, sob pena de não terem o benefício'.

"Certamente essas histórias aparecerão, isso ouvi dos maiores advogados que estão participando dessas causas."

"Certamente não é uma prática escorreita, condizente com o Estado de direito", cravou o ministro. "Quem faz isso não age de maneira correta, é preciso dizê-lo."

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Na avaliação de Gillmar, 'esse sistema expõe de forma excessiva a honra dos delatados, os quais são apresentados à sociedade como culpados, mesmo antes de saber do quê'.

"Faz tempo que venho chamando a atenção para esse ponto, e pretendo continuar. Temos que evoluir em soluções jurisprudenciais e legislativas, reforçando a presunção de inocência, sem impedir investigações."

"Os diversos casos de delação são insuficientes para demonstrar o abuso nas promessas ao delator e o pouco caso com direitos do delatado."

"O que importa aqui é fixar as bases do controle judicial dos acordos de colaboração premiada."

"Já se falou aqui que nós teríamos um dever de lealdade para com a Procuradoria, por exemplo. Nós temos dever de lealdade para com a Constituição, não com a Procuradoria. A Procuradoria também está submetida à Constituição."

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"Já declaramos aqui, ministro Dias Toffoli, a inconstitucionalidade de tratados internacionais. Não podemos ficar impedidos de analisar um acordo envolvendo infratores da lei. É uma premissa que precisa ser revisada."

Gilmar defendeu 'reforçar o controle judicial dos atos de colaboração premiada'.

"Não pode haver qualquer afetação à proteção judicial efetiva. Os parâmetros legais que deveriam reger os acordos nunca foram devidamente observados. Hoje são cada vez menos lembrados."

"Criou-se um tipo de direito penal de Curitiba. Normas que não têm nada a ver com o que está na lei. E, portanto, se torna impossível o controle da legalidade. E pouco importa o que a Corte venha a decidir, porque certamente isso será mudado daqui a pouco, tendo em vista as más práticas que se desenvolveram."

"Evidente que o Congresso não conviverá com essa sorte de abusos. A não ser que alguém proíba o Congresso de legislar. Porque até isso se cogita, presidente (Cármen Lúcia), até isso se cogita. Discutir a aprovação de uma lei de abuso de autoridade, um projeto de lei que supera a velha lei feita por Milton Campos em 1965 se tornou obstrução de Justiça."

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"Quanta desfaçatez, quanto cinismo, quanta ousadia, quanto pensamento totalitário."

"Quem já disse que discutir um projeto de lei, seja lá qual for, é obstrução de Justiça? É preciso realmente ter perdido o senso das medidas."

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