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Covid- 19: o compromisso dos diplomatas brasileiros no combate à epidemia e na defesa dos nacionais

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Por Maria Celina de Azevedo Rodrigues
Atualização:
Maria Celina de Azevedo Rodrigues. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Há situações que marcam a vida de um diplomata, sobretudo aquelas que envolvem diretamente a integridade física de seus compatriotas no exterior. Quando chefe do consulado brasileiro em Paris, na França, em 2009, fui profundamente marcada pelo episódio da queda do avião da Air France, com 228 pessoas a bordo, sendo 58 brasileiros. Naquela ocasião, juntamente com minha equipe, atuamos diretamente no processo de atendimento a familiares. Mais de uma década depois, novamente me sinto impactada como cidadã e diplomata: amigos e familiares distanciados na luta para sobreviver ao novo coronavírus. O fechamento de fronteiras pegou turistas, idosos, profissionais liberais e até um medalhista olímpico de surpresa. Pessoas ficaram retidas em outros países, muitas já sem recursos, até mesmo sem hospedagem. Em meio a tudo isso, ao invés do sentimento de rendição, percebo que é nessas horas que me sinto realmente gratificada em ter seguido a carreira diplomática e em poder presenciar, com muito orgulho, meus colegas atuarem incansavelmente para salvar vidas.

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Unidos, secretários, conselheiros, ministros e embaixadores, grande parte dos servidores das outras carreiras do Serviço Exterior Brasileiro e demais funcionários do Ministério das Relações Exteriores (MRE), em Brasília ou nas mais distintas representações do Brasil no exterior, prontamente se mobilizaram, de diversas maneiras, para buscar informações sobre a situação de brasileiros que estavam de passagem por outros países no momento em que a Organização Mundial da Saúde reconheceu o estado de pandemia. Estando à frente da Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB Sindical), pude obter diretamente as primeiras informações que me deram a certeza de que toda a diplomacia estava empenhada em trabalhar para garantir o seguro retorno desses cidadãos ao Brasil. No Itamaraty e nas representações no exterior, apesar do regime de plantão, a maioria dos servidores segue atuante, dando assistência direta aos brasileiros, por meio do contato com autoridades locais e companhias aéreas, aeroportos e hotéis.

Especificamente em relação ao coronavírus, a atuação de diplomatas brasileiros tem sido intensa. Há que se reconhecer que essa é uma situação tão inesperada quanto inédita para todos. Ainda assim, tem sido louvável o desempenho de profissionais dessa tradicional carreira de Estado na operação de repatriação de brasileiros. De fato, muito já foi feito desde os primeiros casos. Mas sabemos que ainda há um longo caminho pela frente. Somos muitos, espalhados por todos os cantos do planeta e, diante da pandemia, um grande número de cidadãos manifestaram o desejo de retornar. Os motivos são diversos, seja por desemprego ou fechamento de um curso. O que pesa é o desejo de estar próximo à família.

E foi pensando nesse propósito que, em fevereiro deste ano, iniciamos nossa missão de resgate. Naquela ocasião, os números ainda eram modestos. Nossa primeira atuação foi garantir que 34 brasileiros ou parentes de brasileiros, além de quatro poloneses, uma chinesa e uma indiana embarcassem no voo que saiu de Wuhan, na China, com destino ao Brasil. Além de articular todo o processo com o governo chinês e com os gestores regionais da província de Hubei, para obter a permissão e fazer com que nacionais deixassem a cidade e retornassem ao País de origem, três diplomatas brasileiros se revezaram e dirigiram por mais de 16 horas. Foi impactante o relato desses profissionais dedicados que percorreram cerca de 1.200 km de estrada e, apesar de terem enfrentado uma nevasca, chegaram exitosos à cidade considerada o epicentro do coronavírus para realizar, em tempo, o embarque dos cidadãos com destino ao Brasil.

Já em território nacional, todos os tripulantes foram diretamente para a base militar em Anápolis (GO) e postos em quarentena. Esse episódio teve também um bom final porque se tratava de uma operação de resgate de poucos brasileiros. Todo procedimento agora serve de exemplo, pois, com o aumento da epidemia pelo mundo, a cada dia, cresce o número de brasileiros que necessitam retornar ao Brasil. Nesse sentido, as operações de repatriação se tornam uma missão cada vez mais desafiadora.

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Com base nas boas relações firmadas e na expertise adquirida, os membros do Grupo Especial de Crise para assuntos consulares e migratórios (G-CON) buscam, entre outras coisas, desde as condições para abertura de espaços aéreos até atendimentos em companhias aéreas. Só para se ter uma ideia, as negociações com empresas aéreas e os acordos diplomáticos com Embaixadas resultaram, até agora, na repatriação de 2.840 brasileiros que estavam em Portugal, 459 no Peru, 234 no Marrocos e 24 no Irã. Já são centenas de casos de grupos familiares ou individuais, como foi o caso de um casal que estava no Vietnã e também conseguiu retornar para casa. Além desses, graças à atuação do Itamaraty, 32 brasileiros puderam embarcar de Varsóvia, na Polônia, para o Brasil. Entre eles, estava um ex-jogador de vôlei e campeão dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004.

Para nós, diplomatas, é uma enorme satisfação e alívio saber que essas pessoas estão neste momento junto de seus familiares. Mas também sabemos que nesta crise instalada pelo coronavírus, enquanto resgatamos de um lado, pelo outro se multiplicam as listas com nomes de brasileiros que aguardam autorização ou transporte para voltar.

País mais atingido pelo Covid-19, com mais de 5 mil mortos até o momento, a Itália foi o lar escolhido por centenas de brasileiros. Muitos nacionais migraram à procura de uma vida melhor. Agora, com o atual estado de quarentena, convivem com o medo de contaminação pelo vírus. Para sobreviver, contam com a solidariedade e a generosidade alheias. Por tudo isso, a preocupação com esses cidadãos é constante por parte do atendimento consular brasileiro na região.

Diante dessas informações, a prioridade dos Consulados e das Embaixadas do Brasil espalhadas pelo mundo há muito deixou de ser a quarentena. A postura geral adotada nas últimas semanas foi a de prestar toda assistência aos brasileiros que se encontram em outros países. Como rege a política consular voltada para as comunidades brasileiras no exterior, contida no Decreto 7.987/2013, seguimos firmes e incansáveis em um dos nossos principais propósitos, que é a garantia de um atendimento consular eficiente, por meio de amplo conhecimento e dedicação de nossos diplomatas.

Quem precisar de auxílio diplomático já pode encontrar orientações iniciais na página https://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/. Ou pelos telefones abaixo, disponibilizados conforme a região geográfica:

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América do Sul: +55 (61) 98260-0767 América do Norte, Central e Caribe: + 55 (61) 98260-0 610 Europa: + 55 (61) 98260-0787 África e Oriente Médio: + 55 (61) 98260-0568 Ásia e Oceania: + 55 (61) 98260-0613

*Maria Celina de Azevedo Rodrigues é embaixadora e presidente da Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB/Sindical), tendo sido chefe da embaixada brasileira em Bogotá, na Colômbia; Cônsul-Geral do Brasil, em Paris, na França e junto à representação brasileira para a Comunidade Europeia, em Bruxelas, na Bélgica

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