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Covid-19 impulsiona especialização e aumento na demanda por fisioterapeutas

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Por Clarice Tanaka e Rita Pavione
Atualização:
Clarice Tanaka e Rita Pavione. FOTOS: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Apesar das medidas de endurecimento no isolamento social adotadas em vários países e no Brasil para o combate ao coronavírus, os efeitos das aglomerações de fim de ano se refletem na alta de óbitos e internações nos hospitais enquanto os profissionais de saúde encaram novamente o desafio de combater uma doença complexa para a comunidade de saúde.

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Para o enfrentamento dessa segunda onda, mais uma vez, foi mobilizada a parceria entre governo, setores públicos e privados, gestores, academia e profissionais da saúde, coordenada pelo Comitê de Crise instalado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Desde o primeiro momento, quando o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) estruturou sua capacidade instalada e os recursos humanos, o Departamento de Fisioterapia contribuiu para tomadas de decisões estratégicas disseminando a comunicação para a equipe da linha de frente de fisioterapeutas alinhada ao Comitê de Crise e a Comissão de Infecção institucional.

A Covid-19 desafiou as equipes de saúde a repensarem a conduta e abordagem deste paciente e a Fisioterapia se reinventou para atuar no manejo de uma doença desconhecida, lidando com suas incertezas e com o risco de contaminação. Diante de uma doença que permanece colocando o sistema de saúde à prova, a Fisioterapia foi levada a um nível de demanda técnica e logística nunca antes experimentada.

Profissionais atuantes em todas as áreas da Fisioterapia, docentes, pesquisadores, residentes e especializandos se uniram e compartilharam conhecimento e experiências em prol da luta e da recuperação da saúde. A Escola de Educação Permanente do HCFMUSP, como centro de ensino e capacitação profissional, abriu inscrições, em 2021, para cursos de pós-graduação latu sensu em diversas áreas. Das 241 vagas para os 13 cursos de especialização de Fisioterapia, os mais procurados são os cursos de Fisioterapia Hospitalar e Fisioterapia nas Unidades de Terapia Intensiva, Urgência e Emergência

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Segundo a Organização Mundial da Saúde, 20% dos casos de Covid-19 são mais complexos, requerem cuidado intensivo e exigem internação hospitalar. O fisioterapeuta tem importante atuação na discussão de casos e planejamento terapêutico com a equipe multiprofissional com execução de procedimentos de rotina até os mais complexos incluindo a PRONA (posição em que o paciente é virado de bruços na cama para facilitar a entrada do ar nas regiões pulmonares e melhorar a oxigenação, além da condução e desmame da ventilação mecânica, estimulação funcional precoce, dentre outras).

O impacto psicológico e emocional da Covid-19 potencializa o sofrimento e percepção de estado de saúde. Em nossa experiência clínica observamos que o profissional com habilidade e atenção para os aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais, teve mais facilidade na condução da terapêutica. Tais habilidades são características de especialistas em cuidados paliativos com foco no manejo de sintomas e melhoria da qualidade de vida, boa comunicação com familiares e pacientes com doenças incuráveis, não necessariamente em fim de vida.

A Covid-19 é uma doença sistêmica e seu comprometimento vai além do sistema respiratório. O período de internação é longo, pode variar de alguns dias até meses e a utilização de diversos medicamentos como drogas vasoativas e bloqueadores neuromusculares podem levar às mais diversas sequelas aos pacientes. A manifestação multifacetária da doença tanto na fase de internação como pós alta hospitalar requer atenção de fisioterapeutas com preparo especializado garantir assistência ao paciente crítico, nos cuidados paliativos, na reabilitação funcional e musculoesquelética, saúde pélvica e obstétrica, gerontologia, entre outras.

A Reabilitação Funcional e Musculoesquelética apresenta uma interface importante entre neurociência e a biomecânica, trazendo para clínica a interação do sistema motor, de controle, e de cognição para a recuperação da funcionalidade. Durante a pandemia, as limitações funcionais apresentadas por estes pacientes, que ficaram longos períodos acamados, sedados e pronados foram impactantes e a atuação dos fisioterapeutas foi importante não somente para minimizar tais efeitos, mas também para potencializar as reservas clínicas do paciente para combater a doença. Na fase pós-hospitalar é imprescindível para recuperar sintomas de cansaço e recuperação funcional.

Independentemente da Covid-19, pacientes que apresentam longo período de internação, limitações funcionais importantes e alterações da sinergia abdominopélvica, frequentemente, necessitam da utilização de sondas e fraldas, resultando em disfunções miccionais e gastrointestinais. A Covid-19 não poupou as gestantes que precisaram de internação hospitalar e receberam atenção especial prestada por fisioterapeutas especializados em Saúde Pélvica e Obstétrica, tanto na terapia intensiva quanto nas unidades de internação. Trata-se de um conhecimento recente e profissionais especializados para esta abordagem ainda são escassos no mercado.

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Impulsionada pela gravidade da Covid-19 e, ao mesmo tempo, pela própria evolução natural e profissionalização da Fisioterapia, foram introduzidas inovações nos processos pedagógicos dos cursos de Fisioterapia, o que levou à reformulação de disciplinas como Inovação e Tecnologia em Saúde e Gestão em Fisioterapia. Hoje, há uma mentalidade inovadora no uso de metodologias na Fisioterapia que permite melhor compreensão do indivíduo, sua condição de saúde e guia a tomada de decisão clínica. Além disso, a especialização contribui para a projeção da carreira profissional do fisioterapeuta, considerando o nível de progressão de desenvolvimento de habilidades e competências.

*Clarice Tanaka, professora titular da fisioterapia na Faculdade de Medicina da USP e diretora da Divisão de Fisioterapia do Instituto Central do HCFMUSP

*Rita Pavione, fisioterapeuta e coordenadora de Ensino da Divisão de Fisioterapia do Instituto Central do HCFM

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