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Covid-19 alerta: cuidado darkweb!

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Por Antonio Baptista Gonçalves
Atualização:
Antonio Baptista Gonçalves. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

2020 é o ano que constará nos livros de história pela disseminação de uma pandemia mundial com consequências sanitárias, sociais e econômicas para os países envolvidos. A covid-19 desvelou as deficiências dos países inapelavelmente. No Brasil a pandemia mostrou a incapacidade do Governo Federal e dos Governos Estaduais em cuidar do isolamento da população de maneira eficaz, ainda que parte desta tenha migrado para o sistema de trabalho via home office.

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No início tudo começou bem e, até de forma austera, porém, com o transcurso do tempo parte das pessoas voltou a trabalhar e a circular. Porém, à medida que o tempo foi passando e sem perspectivas de retorno presencial às aulas e muitas empresas investindo na modalidade não presencial de seus funcionários, com impacto na redução de custos, o que se nota é um incremento do tempo que as pessoas estão conectadas na internet.

Os pais, agora, se desdobram em múltiplas atividades e no manejo de seu tempo, com reflexos de escassez: a realidade é conciliar as atividades de trabalho com a rotina educacional à distância dos filhos, a realização de tarefas domésticas e ainda ter algum entretenimento e tempo vago com as crianças.

Na prática, a harmonização gera desorganização e, não raro, é possível ver reuniões com pessoas com trajes informais e inadequados para o ambiente de trabalho, a intromissão com animais e crianças, em uma realidade clara de que as atividades em casa não estão disciplinadas ao espaço, ao tempo e à dedicação necessárias para o deslinde das atividades, e, para complicar ainda mais, há uma confusão entre ficar em casa com tempo livre, portanto, também há os funcionários que trabalham assistindo televisão, ouvindo música, conversando, com uma atenção diminuída, como se de férias estivessem.

Está é a regra? Não, mas é o cotidiano de parte dos brasileiros, que ao longo de uma Live de trabalho fazem pesquisas, navegam e, até, compram online em uma tentativa de otimizar o tempo e o fazem na sala de suas casas, sem o devido isolamento e investimento em potencial de concentração que sua atividade exige. Para os que tem a possibilidade de uma divisão espacial e um escritório para realizar suas atividades, o trabalho parece que aumentou exponencialmente, o tempo vago e ocioso diminuiu e há um misto de stress e sobrecarga com cobrança dos familiares por uma maior presença real, já que as pessoas estão em casa, no entanto, não estão disponíveis. Como lidar com esta dicotomia? Refletimos a partir daqueles que não manejam o seu tempo da maneira mais organizada e adequada possível.

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Como parte das pessoas trabalham na modalidade home office há um misto de acúmulo de trabalho com períodos ociosos, o que significa para uns assistir séries, documentários, filmes etc., enquanto para outros se portam como se de férias estivessem e, por conseguinte, passam seu tempo supostamente ocioso fazendo outras atividades como: dormir, comer e passar um bom tempo na internet. O uso da internet no Brasil cresceu durante a quarentena: o aumento foi entre 40% e 50%, segundo dados da agência nacional de telecomunicações (Anatel). Eis o princípio do perigo. A ociosidade abre a porta para a curiosidade e para as oportunidades de negócios, já que muitas empresas fizeram promoções para reduzir seus estoques e se recapitalizar. A pandemia foi responsável pelo incremento do e-commerce em 180% com 4 milhões de clientes a mais do que o mesmo período do ano anterior.

A promoção e o preço mais baixo pode levar o consumidor a sublimar alguns cuidados essenciais como ver a procedência do vendedor, sua credibilidade, confiança na entrega e, até mesmo, se a empresa existe de fato. A ânsia do ter e do querer, típica da sociedade de consumo, negligencia a segurança das relações virtuais, o problema é que os criminosos estão sempre à espreita, ainda mais, em tempos de pandemia e recolhimento forçado.

Neste cenário a Darkweb apresenta seu cartão de visitas. Um local oculto e de entrada exclusiva com convite para acesso específico, protegido dentro do universo da Deepweb, local em que somente quem possui conhecimento mais avançado de informática consegue trafegar digitalmente através de navegadores específicos como I2P, Tor, Freenet e outros poucos. O caminho e as possibilidades de esconder seu endereço IP protegem as atividades ilícitas da Darkweb que, segundo a Interpol, superam 57% do total das práticas desse universo.

Se o criminoso está protegido não se pode dizer o mesmo do usuário comum da internet: IP sem proteção, firewall de fácil acesso, computador com dados pessoais, senhas, páginas recorrentes com dados salvos e, para muitos, com dados bancários armazenados em páginas de compras usuais. Praticamente um convite à ilicitude. E, para muitos, esse acesso involuntário e inconsciente pode representar problemas econômicos, familiares e nas relações de trabalho.

Seus dados podem ser hackeados, seu dinheiro desviado, compras efetuadas em seus cartões de crédito com dívidas, inclusive parceladas, vazamento de informações sigilosas ou não, e-mails de trabalho são apenas algumas das possibilidades que os frequentadores da Darkweb conseguem impingir aos usuários desavisados, desatentos e desprotegidos.

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Em tempos de pandemia e de recolhimento forçado não se autocoloque em risco, se proteja digitalmente, instale programas de proteção no seu computador e, acima de tudo, tenha cuidado e atenção na hora de comprar online, navegar e a visitar páginas desconhecidas, pois, o inimigo não mora mais ao lado, mas sim, dentro de seu computador. A covid-19 alerta: cuidado Darkweb!

*Antonio Baptista Gonçalves é advogado, pós-doutor, doutor e mestre pela PUC/SP e presidente da Comissão de Criminologia e Vitimologia da OAB/SP - subseção de Butantã

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