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Cotistas: procuram-se

País não pode desperdiçar talentos em que a sociedade investiu

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Por Wellington Vitorino
Atualização:

Wellington Vitorino. Foto: Divulgação

O Brasil, tão carente de recursos humanos de alta escolaridade, está deixando de aproveitar uma oportunidade histórica, daquelas que podem ajudar a definir o futuro do país e que não se apresentam com frequência.

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Refiro-me ao contingente de cotistas que estão deixando as universidades, depois de uma experiência que se provou bem-sucedida. Após o ceticismo inicial de parte da sociedade - que previa a evasão desses alunos, pois não teriam condições de acompanhar os cursos - a maioria se rendeu diante dos resultados. Os cotistas, afinal, mostraram garra e tiveram desempenho superior ao da média geral.

A iniciativa se revelou tão correta que hoje pouco se discute o desempenho das cotas no ensino superior. Elas são um paliativo, sim, mas há um consenso de que funcionam a contento, enquanto não se resolve o problema da educação de base.

Falta agora dar o passo seguinte: abrir o mercado de trabalho a esses talentos. Algumas empresas foram mais rápidas em perceber que essa oferta de mão de obra jovem e qualificada vai ao encontro de suas necessidades. Abriram vagas nos altos escalões destinadas a trabalhadores negros ou pertencentes a etnias minoritárias.

O movimento é bem-vindo. A inclusão de cotistas no mercado de trabalho tende a amenizar um dos maiores problemas do Brasil: a enorme desigualdade social, uma das maiores do mundo. 

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O diploma universitário dá ao jovem desfavorecido a chance única de quebrar o ciclo de pobreza que oprime sua família. Sem outro meio de ascender socialmente, ele em geral se empenha mais que seus colegas. Portanto, é do interesse das empresas contribuir para que ele aproveite essa oportunidade.

O exemplo das corporações que saíram na frente deve ser seguido, sob pena de o país desperdiçar o investimento em educação feito nos últimos anos. Vivemos ainda uma situação de bônus demográfico, caracterizada pelo fato de um quarto da população ser jovem. Se não dermos a devida atenção a essa geração, corremos o risco de nos tornar uma sociedade velha e não desenvolvida.  

Para se beneficiar da situação, as empresas precisam mudar de atitude em dois momentos. Na hora de contratar, será necessário ampliar os critérios de seleção, que devem ser baseados também no perfil dos candidatos, relativizando o peso de filtros que podem excluir automaticamente os talentos de baixa renda que não tiveram tantas oportunidades e cotistas. Depois da contração, o desafio é criar um ambiente de integração a fim de retê-los na empresa. 

Para tanto, há que se quebrar um viés inconsciente de lideranças corporativas, que tende a divulgar as oportunidades apenas para suas redes de relacionamento. 

Há também que se evitar o comodismo de querer pescar em aquário, ou seja, contratar os que já se encontram prontos para desempenhar suas funções. Jovens de qualquer classe social precisam ser treinados, até para melhor absorver a cultura empresarial e desenvolver os chamados "soft skills", como a inteligência emocional, algo que não se aprende nos bancos escolares.

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A representatividade que os cotistas representam, embora sejam uma parcela pequena dos 25% da população brasileira que são considerados jovens, deve ser levada em conta. Eles são um dos poucos grupos capazes de ascender e quebrar o ciclo de pobreza de suas famílias e se tornarem inspiração para outros jovens buscarem estudos e capacitação, visando melhores oportunidades no mercado de trabalho.

A política de cotas abarrotou os silos de novos talentos. Criar dutos para que eles realizem um potencial que a sociedade financiou seria do proveito de todos os brasileiros. 

*Wellington Vitorino é fundador e CEO do Instituto Four.

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