Propalam os alcoviteiros
que sou um sujeito indeciso e confuso,
entretanto eu não tenho certeza de que deveras o seja.
São línguas maledicentes
como a minha.
Apreciam conspurcar reputações...
Também não sei se increpar outrem de irresoluto
seja algo pejorativo ou mera constatação.
Tenho dúvidas.
Na verdade, estou certo disso.
Aliás, estou convicto de que inexiste certeza...
E não é hesitação,
é segurança!
Conquanto, ao explicitar tal tirocínio,
eu esteja tomado de inseguridade.
Como é bom falar da vida dos outros...
Impede-nos de pensar na nossa própria.
Deixa-nos seguros de nós mesmos,
sem indecisões existenciais,
sem termos de lidar com paradoxos,
sem nos expor ao reflexo do espelho,
que poderia nos mostrar o retrato de Dorian Gray
ou a Macabéa que existe em cada estrela recôndita
no âmago de nosso cosmo.
Atropelados pelos fatos,
caminhamos somente com verdades.
E certezas!
Agora, vou tomar um vinho,
ou melhor, acho que cerveja.
Só não sei se na taça ou no copo
e ouvir a Rádio Relógio,
perscrutar a vida de terceiros,
porque, da minha, tenho certeza de tudo.
*João Linhares, promotor de Justiça do Ministério Público de MS. Mestre em Garantismo e Processo Penal pela Universidade de Girona (Espanha). Especialista em Controle de Constitucionalidade e Direitos Fundamentais pela PUC-RJ. Integrante da Academia Maçônica de Letras de MS