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Corrupto 'arrependido' da Petrobrás devolve R$ 10,5 mi de propinas da Odebrecht

Acuado pelas investigações da Lava Jato, Paulo Cezar Amaro Aquino, o 'Peixe', ex-gerente executivo da Área de Abastecimento da Petrobrás, procurou os investigadores, confessou o crime e renunciou espontaneamente à fortuna que mantinha em três contas na Suíça

Por Ricardo Brandt e e Julia Affonso
Atualização:

Paulo Cezar Aquino. Foto: Reprodução/Câmara

O ex-gerente executivo da Área de Abastecimento da Petrobrás Paulo Cezar Amaro Aquino, alvo da 46.ª fase da Operação Lava Jato deflagrada nesta sexta-feira, 20, protagonizou um episódio incomum da investigação sobre o maior esquema de corrupção no País. Acuado, ele próprio decidiu procurar os investigadores, a quem confessou o recebimento de propinas da Odebrecht, e, por escrito, renunciou espontaneamente à fortuna que mantinha depositada em três contas na Suíça. Na planilha de propinas da empreiteira, Aquino era identificado como o 'Peixe'.

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"As pessoas não colaboram com a Justiça por uma crise de consciência ou por questão ética, mas sim porque se veem como pessoas que serão fortemente responsabilizadas diante do avanço das investigações", disse o procurador da República Roberson Pozzobon, da força-tarefa da Lava Jato.

O procurador destacou um capítulo intrigante da Lava Jato, quando 'Peixe' depôs na CPI da Petrobrás, em agosto de 2015. Indagado sobre o envolvimento de seu então superior na estatal petrolífera, o engenheiro Paulo Roberto Costa - chefe da Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, ponto de partida do esquema -, 'Peixe' disse que todos ficaram 'decepcionados' com a revelação.

Os registros bancários mostram que 'Peixe' recebeu o dinheiro ilícito da Odebrecht entre 29 de junho de 2011 e 8 de maio de 2013 por meio de offshores no exterior.

A nova etapa da Lava Jato, 46.ª fase que não recebeu nome nenhum - ao contrário das 45 fases anteriores, todas rotuladas pela Polícia Federal -, não prendeu Aquino porque ele próprio se antecipou, admitiu o recebimento de valores ilícitos e anuiu com a repatriação.

"Na CPI, perguntado sobre vantagens indevidas a Paulo Roberto Costa, ele ('Peixe') disse que para todos na Petrobrás foi uma grande decepção. Dois anos depois, ele vem às autoridades reconhecendo ilícitos e se propondo a devolver (o dinheiro)", declarou o procurador Pozzobon. "Não foi uma crise de consciência, mas com certeza ele percebeu que as investigações evoluíram, estavam mais robustas, percebeu que as chances de ser preso seriam muito maiores."

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Paulo Cezar Amaro Aquino aposentou-se no dia 31 de julho de 2015, oito dias antes de seu depoimento na CPI da Petrobrás.

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Na decisão em que mandou deflagrar a Lava Jato sem nome, o juiz Sérgio Moro aponta para Aquino e outros ex-gerentes da Petrobrás, como Djalma Rodrigues de Souza, este, diretor de Novos Negócios da Petroquisa, o braço petroquímico da estatal.

A Lava Jato 46 contou com a delação de pelo menos quatro executivos da Odebrecht para avançar seus tentáculos sobre a Petroquisa.

Rogério Santos de Araújo, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Construtora Norberto Odebrecht, celebrou acordo de colaboração, e declarou, em depoimento, que teriam sido pagos cerca de R$ 95 milhões em propinas a agentes da Petrobrás e da Petroquisa, entre eles Aquino e Djalma.

Aquino 'Peixe' recebeu sua cota de propinas mediante transferências no exterior através das contas em nome das offshores Magna, Klienfeld, Innovation e Trident, todas controladas pelo Grupo Odebrecht, para conta em nome de offshore Kateland International, mantida no Banco Societé Genérale, em Genebra.

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Ele também teria recebido em espécie cerca de R$ 400 mil, em março de 2014.

"Paulo Cezar Amaro Aquino era identificado pelo codinome 'Peixe' no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, como afirmam os executivos da Odebrecht", destacou o juiz Moro.

Documentos do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht revelam todos os pagamentos efetuados a 'Peixe', com a identificação dos contratos que geraram os créditos, entre elas a 'PTA/POY', e também outras como o 'terminal aquaviário de Santos', inclusive com as ordens de depósitos efetuados nas contas no exterior.

"Verifica-se no cadastro e documentos da conta em nome da offshore Kateland International que Paulo Cezar Amaro Aquino era o beneficiário final da conta e ainda os depósitos recebidos das contas controladas pelo Grupo Odebrecht."

A Lava Jato identificou os depósitos, no total de US$ 5,379 milhões, recebidos na conta em nome da offshore Kateland e provenientes de contas controladas pelo Grupo Odebrecht.

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Aquino 'Peixe' tinha outras duas contas no Banco Societe Generale, uma em nome da offshore June Internationl Holding e outra em nome próprio, com o codinome 'Sharifes', e para as quais transferiu os valores recebidos na conta em nome da Kateland.

Nessas contas, foram bloqueados, pelas autoridades suíças, cerca de US$ 5,1 milhões.

No dia 12 de julho de 2017 - dois anos depois do depoimento à CPI, em que afirmou que desconhecia pagamentos de propinas na Petrobrás -, 'Peixe' levou petição à Procuradoria da República e a Moro renunciando aos ativos das três contas.

"Dois dos gerentes da Petrobrás, Paulo Cezar Amaro Aquino e Glauco Colepicolo Legatti confessaram pelo menos parcialmente os fatos, inclusive a titularidade de contas no exterior. Relativamente à Paulo Cezar Amaro Aquino ainda veio do exterior a documentação da conta em nome da offshore Kateland Internation, confirmando a veracidade dos registros da contabilidade informal do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht", assinalou o juiz.

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