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COP26 deve responder quem pagará a conta do clima

Por Priscilla Negreiros e Barbara Buchner
Atualização:
Barbara Buchner. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Não é por acaso que a 26ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas tem como principal foco o financiamento climático. O mundo precisa ultrapassar a marca de US$ 4,3 trilhões em investimento no clima ao ano até 2030 para alcançar os objetivos do Acordo de Paris, principal acordo internacional para limitar as emissões globais de carbono.

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Só que não estamos nem perto disso. Dados inéditos do Panorama Global de Financiamento Climático, contabilizados pelo Climate Policy Iniatiative (CPI), mostram que os fluxos de financiamento de ações de adaptação e mitigação das mudanças do clima atingiram em média US$ 632 bilhões ao ano em 2019 e 2020. É necessário, portanto, que o valor anual que o mundo investe no clima cresça 588%. Necessário e urgente.

Embora atores públicos e privados tenham aumentado constantemente seus investimentos climáticos na última década, este ritmo desacelerou nos últimos quatro anos, como mostra o estudo do CPI, passando da casa de 24% em 2017/18 para 10% em 2019/20. Isso é preocupante não apenas porque o impacto da COVID-19 ainda será observado nos próximos anos, mas porque precisamos investir trilhões de dólares, não bilhões, para ter um impacto real no clima do planeta.

A COP26 pode ajudar a preencher essa lacuna, se a ambição necessária for levada à mesa. O primeiro passo é acelerar os compromissos de financiamento climático global. Na COP15, organizada em 2009 em Copenhagen, as economias desenvolvidas se comprometeram a mobilizar conjuntamente US$ 100 bilhões por ano até 2020 em economias desenvolvimento. Apesar de esse objetivo ter alta relevância por se tratar de uma questão de confiança, é difícil avaliar o quanto foi efetivamente investido. O principal ponto, porém, é que esse valor está muito aquém da necessidade.

Atrair mais investimentos do porte necessário será possível se os setores público e privado estiverem comprometidos com uma reestruturação de prioridades. Para o setor público, são necessárias metas financeiras claras e mais ambiciosas. Incentivos governamentais claros, com margem de manobra fiscal e alinhamento de políticas públicas, devem estar na ordem do dia. O setor público deve liderar a inovação visando investimentos para abrir frentes com maior atuação do setor comercial e financeiro, via regulação, transparência e adoção de incentivos fiscais claros que ajudem o investidor identificar o que é considerada uma atitude verde.

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A União Europeia, por exemplo, lançou a sua taxonomia de investimentos verdes em março, o que aumentará a transparência para atores do bloco, reduzindo a possibilidade de greenwashing, ou seja, iniciativas vendidas como ambientais, mas sem impacto real. E, ainda mais importante, o mercado deve estar integrado a esse sistema, adaptando instrumentos financeiros que respondam aos desafios climáticos.

Há necessidade também de incluir novo financiamento para adaptação às mudanças climáticas, dado que esse setor recebe atualmente apenas 7% do total investido em financiamento verde de acordo com o CPI. Países mais vulneráveis ao novo clima já estão sofrendo com falta de água, ou com seu excesso, e não há expectativa de que os desastres naturais diminuam de ritmo. Segundo a Organização Meteorológica Internacional, na última década o número de catástrofes relacionadas ao meio ambiente aumentou de 500 para 700 por ano, com mais de 50 milhões de pessoas afetadas apenas em 2020 por falta de alimentos, secas e tempestades.

Esta década irá alcançar ou interromper a transição para um mundo sustentável. A COP26 marca cinco anos da entrada em vigor do Acordo de Paris e é uma oportunidade de estabelecer as bases para uma arquitetura financeira genuína que possa apoiar a transição para um mundo sustentável com zero emissões de carbono.

*Priscilla Negreiros é gerente de Financiamento Climático no Climate Policy Initiative

*Barbara Buchner é diretora global do Climate Policy Initiative

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