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Controladoria diz que UFSC tem 121 'notificações pendentes'

Investigadores da Operação Torre de Marfim, deflagrada nesta quinta, 7, destacam que a Universidade Federal de Santa Catarina mantém 'histórico de recomendações' porque não demonstrou que efetivamente tenha cumprido orientações para correção de irregularidades

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Foto do author Luiz Vassallo
Por Julia Affonso , Fausto Macedo e Luiz Vassallo
Atualização:

UFSC. Foto: UFSC

A Operação Torre de Marfim aponta que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apresenta um 'histórico de recomendações para correção de irregularidades'.

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Ao todo, são 121 notificações pendentes, destacou a Controladoria-Geral da União.

A UFSC voltou a ser alvo da Polícia Federal nesta quinta-feira, 7, com a deflagração da Operação Torre de Marfim - missão conjunta da PF e Controladoria que cumpre 20 mandados judiciais, dos quais 14 de buscas e seis de condução coercitiva da servidores da Universidade e empresários.

Esta investigação foi iniciada em 2014. A PF informou que a nova incursão na UFSC não tem ligação com a Operação Ouvidos Moucos, desencadeada em setembro.

A PF constatou que valores relativos a vários projetos executados por fundações de apoio 'se misturam e isso cria um ambiente sem controle, muito propício ao desvio'.

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A investigação mostra que empresas contratadas possuem vínculos com servidores das própriras fundações. "Há uma série de indícios de desvios", diz a PF. "São os mesmos atores, que continuam atuando e gerindo projetos."

De 2010 a 2017, diz a PF, um investigado geriu em torno de R$ 245 milhões e outro R$ 80 milhões.

Os 'mesmos atores', segundo a PF, continuam recebendo recursos federais. "Existe preponderância de determinados atores, que são os coordenadores que recebem os valores mais altos", destacou a PF.

Os investigadores destacam que 'a Universidade deve ter excelentes profissionais e excelentes projetos', mas se dizem intrigados pelo fato de que os maiores recursos são direcionados 'para os mesmos atores'.

A PF diz ter indícios de que esse dinheiro 'não está sendo aplicado de forma correta'.

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A investigação foi aberta em 2014 a partir de um relatório da própria Universidade.

Segundo a PF, desvios podem ter ocorrido por meio de contratos com transportadoras, agências de turismo, compra de passagens aéreas, despesas com hoteis e pagamentos de autônomos. "Uma série de situações", dizem os investigadores.

Torre de Marfim analisa projetos da UFSC e fundações de apoio que já movimentaram R$ 500 milhões, informou a PF.

Do quadro total de 121 recomendações, segundo a Controladoria, em 90 procedimentos já expirou o prazo para que a Universidade 'demonstrasse que, efetivamente, cumpriu as medisdas que ela mesmo tinha proposto'.

A Controladoria avalia que a situação 'preocupa'. Isso porque de todos esses casos que são alvo de recomendações, 35% estão ligados à relação da UFSC e suas fundações de apoio - principal alvo da Operação Torre de Marfim.

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Os investigadores consideram que esse procedimento 'põe em risco recursos públicos, pela forma como contratos têm sido gerenciados'. O objeto da Torre de Marfim, segundo a PF, é apurar o 'risco de desvios'.

A PF informou que o grupo sob investigação tinha um 'modus operandi' a partir do recebimento de verbas federais para realização de convênios 'em valores bem consideráveis'.

COM A PALAVRA, O CHEFE DE GABINETE DA UFSC

O chefe de gabinete da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina Áureo Moraes declarou que a Instituição 'foi tomada de assalto, absolutamente surpreendida' pela nova incursão da Polícia Federal. Segundo ele, 'não houve o mínimo comunicado prévio'.

"Sabemos apenas o que está sendo veiculado pela mídia, sequer sabemos a quem (a operação) alcança e de que projetos se trata", declarou.

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Moraes disse que, provavelmente à tarde, a UFSC poderá se manifestar oficialmente.

Ele esclareceu que a gestão atual assumiu em 2016. "Quando fazem menção a 120 notificações da Controladoria e do TCU é preciso saber a qual gestão isso se refere. Esta é a nossa dificuldade. Fala-se em projetos que datam de muitos anos atrás."

Áureo Moraes assinala, ainda, que os projetos são desenvolvidos por fundações de apoio. "Não é que a Universidade não tenha comprometimento (com a atuação das fundações), tem, mas nos limites das suas atribuições. Tudo isso precisa ser esclarecido, o que é atribuição e o que não é da Univesidade, a qual período se refere a investigação. Antes de 2016 não temos nenhuma ingerência."

O chefe de gabinete é enfático. "O que é pacífico, e poderá constar de uma eventual nota da Universidade a ser divulgada ainda hoje (quinta, 7), é que, de novo, instituições de Estado respeitadas como a UFSC acabam por ter sua imagem abalada e seu ambiente desarmonizado sem que, ao cabo da investigação, fique caracterizada sua responsabilidade (em fatos apontados como ilícitos)."

COM A PALAVRA, UFSC

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"A Administração Central da UFSC, por meio da presente nota,  torna público seu posicionamento diante de operação policial que promoveu conduções coercitivas de servidores e busca e apreensão em locais do campus Trindade na manhã desta quinta feira, 7 de dezembro.

Não houve, de parte das autoridades envolvidas, qualquer comunicado à instituição quanto à ação levada a cabo na data de hoje, na UFSC e em outros locais;

Não houve, até o presente momento, qualquer notificação formal à instituição, a respeito do objeto das investigações, das pessoas investigadas ou dos motivos da operação;

As menções de que as denúncias teriam sido encaminhadas pela administração da UFSC, conforme consta de algumas notícias veiculadas pela mídia, não se referem oficialmente a nenhuma ação que a atual gestão tenha praticado;

As conduções coercitivas de servidores mostraram-se, como as prisões e outras conduções ocorridas em setembro, desnecessárias, considerando, ao que tudo indica, que não haveria resistência ou negativas em prestar todos os esclarecimentos às autoridades por parte dos envolvidos.

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Assim, manifestamos novamente nossa surpresa diante de outra operação policial, com ampla cobertura midiática, afetando diretamente a comunidade universitária sem que tenha sido respeitada a relação institucional entre os responsáveis pela operação e a Universidade Federal de Santa Catarina.

Reafirmamos, por fim, nossa convicção de que todo e qualquer ato que configure irregularidade deva ser rigorosamente apurado, desde que seguidos os princípios da presunção de inocência, do direito à ampla defesa e ao contraditório, com base no devido processo legal, rejeitando qualquer ação apenas espetaculosa e midiática, a exemplo do que vivemos recentemente e cujo trágico desfecho é de conhecimento de toda a sociedade."

Administração Central da UFSC

07 de dezembro de 2017

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