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Planilha da JBS revela 9 mil registros de pagamentos de propina

Movimento era abastecido por contas secretas na Suíça, doleiros e empresas de fachada

Por Breno Pires , Jamil Chade , correspondente em Genebra , e Fabio Serapião e de Brasília
Atualização:

A JBS usou empresas offshores com contas na Suíça para movimentar a propina paga no Brasil e, desde 2007, registrou 9 mil repasses ou movimentações a políticos. A companhia estabeleceu uma rede de contas secretas, doleiros, empresas de fachada e notas frias.

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Em delação, o diretor financeiro da JBS, Demilton Antonio de Castro, afirmou que duas empresas de fachada eram alimentadas no banco Julius Baer, na Suíça. A instituição financeira era a mesma que também manteve quatro contas de empresas offshores controladas pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso pela Lava Jato em Curitiba.

As duas empresas eram a Valdarco e Lunsville que, segundo Castro, recebiam, desde 2000, entre 1% e 3% de pagamentos lícitos de comissões originárias das exportações de suas empresas. Ambas foram abertas no Panamá. As contas, porém, eram operadas em diferentes países.

"A JBS ordenava que os pagamentos saíssem de uma dessas empresas, por meio de depósitos em contas de doleiros, que os repassavam em reais no Brasil", relatou o delator. Castro disse que não era dele a decisão sobre quem recebia a propina, mas cabia a ele operar a transferência, o que fez com que mantivesse contato com os doleiros.

Os repasses foram feitos para beneficiar deputados, governadores e políticos locais. Os dados estão em um "planilhão". A JBS indicou que fez pagamentos a 1.829 políticos brasileiros, de 28 partidos.

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Os contatos eram feitos por meio de VPN (uma rede privada de internet) e, para cada operador, existia um código em números para a comunicação. De acordo com os anexos da delação, era Castro quem "dava a ordem para que os doleiros pagassem, por meio de depósitos ou remessas em espécie, os destinatários diversos".

O delator passava a instrução via fax para o banco Julius Baer, onde as empresas Lunsville e Valdarco tinham conta-corrente até o ano de 2015. "Ficavam na Suíça", afirmou ele.

Boas-vindas. Em uma carta de 11 de setembro de 2014, o banco Hottinger, em Zurique, dá as "boas-vindas" aos novos clientes: a Valdarco Investments Ltd, a mesma empresa de fachada da JBS. A segunda empresa de fachada era a Lunsville. Ela teria também suas contas abertas no Julius Baer, de Zurique. No caso dessa empresa de fachada, existiam três contas diferentes no mesmo banco e em moedas diferentes: euro, dólar e franco suíço. Ainda existem registros de contas em Lugano, também na Suíça.

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