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Contas de lobista do PMDB são caminho para Lava Jato chegar a US$ 5 mi de Cunha

Procuradoria tem dados de contas secretas de Fernando Baiano, que era 'sócio' do presidente da Câmara em propina por contratos de sondas, segundo delator Julio Camargo

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Por Redação
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O operador do PMDB, Fernando Baiano, na PF em Curitiba. Foto: Geraldo Bubniak/Estadão

Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Fausto Macedo e Julia Affonso

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Investigadores da Operação Lava Jato acreditam que rastreando as contas secretas abertas em nome de empresas offshores do lobista do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, será possível chegar aos US$ 5 milhões que teriam sido pagos ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por dois contratos de navios-sonda com a Petrobrás.

Fernando Baiano foi ouvido nesta quinta-feira, 16, pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato. Ele é acusado em ação penal por operar a cobrança e o recebimento de US$ 30 milhões de propina de duas empresas asiáticas, por contratos na Diretoria de Internacional, comandada pelo ex-diretor Nestor Cerveró, dentro da cota do PMDB no esquema de controle político da estatal.

Fernando Baiano ficou calado diante das perguntas do juiz. Preso desde dezembro de 2014, em Curitiba, o lobista tem negado, nos autos, o envolvimento com o esquema de cartel e corrupção na Petrobrás.

"O senhor tinha contas bancárias na Suíça?", questionou o juiz da Lava Jato. "Tinha uma conta Three Lions Energy Inc quesenhor controlava?", insistiu Moro. Para toda pergunta, o interrogado respondia: "Vou permanecer em silêncio".

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Moro mostrou documento da conta aberta em nome da offshore Three Lions Energy, uma das que foram apontadas pelo lobista Julio Camargo, representante das empresas asiáticas Samsung Heavey Industries e Mitsui CO, como usadas por Fernando Baiano para o recebimento dos US$ 30 milhões em propina. O valor era referente a contratos de dois navios-sonda para a exploração de petróleo em alto mar, assinados em 2006 e 2007, com Cerveró.

 Foto: Estadão

O juiz pediu para que ele reconhece assinaturas que relacionavam seu nome à conta Three Lions e outras, como a Pentagram, Falcon, Technis e Hawk Eyes - todas empresas offshores abertas fora do Brasil para movimentar contas em paraísos fiscais. Ele apontou extratos, como um com registro de depósito de US$ 800 mil, em 2007, de uma empresa de Julio Camargo.

Cerveró. No caso dos pagamentos da propina para o ex-diretor de Internacional, os investigadores da Lava Jato acreditam ter rastreado os valores que foram pagos pelos contratos de sondas passando por contas secretas em nome de offshores controladas por Julio Camargo, Fernando Baiano e Cerveró.

Uma triangulação que envolveu as offshores Piamonte, de Camargo, Three Lions, de Fernando Baiano, e Russel Advisors Inc, de Cerveró.

Em março, a Procuradoria Pública Federal de Berna, na Suíça, comunicou a força-tarefa da Lava Jato sobre a existência de duas contas no país que seriam controladas pelo ex-diretor de Internacional."Cerveró, aqui acusado, é beneficiário da empresa offshore panamenha Russel Advisors SA", informa o procurador Federal Stefan Lenz, de Berna.

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 Foto: Estadão

Foi através da analise de movimentação bancária da Three Lions que os investigadores chegaram a Russel Advisors. "Em 17 de setembro de 2008 ocorreu um pagamento por parte da Three Lions Energy Inc. para uma empresa offshore panamenha com nome de Russel Advisors SA, com conta bancária na UBP, no valor de US$ 75 mil", registra o documento.

"O posterior levantamento dos documentos bancários da Russel Advisors SA na UBP demonstrou, que Ceveró, aqui acusado, é beneficiário da empresa offshore panamenha Russel Advisors SA."

Cópia de extrato que mostra pagamento de empresa do lobista Julio Camargo para operador de propina do PMDB Fernando Baiano, segundo a Lava Jato Foto: Estadão

Cópia de extrato que mostra repasse de valor de conta de Fernando Baiano para Cerveró, segundo Lava Jato Foto: Estadão

Cerveró já foi condenado a cinco anos de prisão no final de maio em processo em que foi acusado por lavagem de dinheiro na compra do apartamento em que morava, no Rio, avaliado em US$ 7,5 milhões, em nome de laranjas. No processo que responde por corrupção e lavagem nos contratos dos dois navios-sondas, deve ser sentenciado nas próximas semanas.

No caso das investigações envolvendo Cunha, um inquérito aberto na Polícia Federal é instruído pela Procuradoria Geral da República, que compartilha documentos das investigações levantadas em primeira instância.

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COM A PALAVRA, O DEPUTADO EDUARDO CUNHA

NOTA À IMPRENSA

Com relação à suposta nova versão atribuída ao delator Júlio Camargo, tenho a esclarecer o que se segue:

1- O delator já fez vários depoimentos, onde não havia confirmado qualquer fato referente a mim, sendo certo ao menos quatro depoimentos.

2- Após ameaças publicadas em órgãos da imprensa, atribuídas ao Procurados Geral da República, de anular a sua delação caso não mudasse a versão sobre mim, meus advogados protocolaram petição no STF alertando sobre isso.

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3- Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las.

4- É muito estranho, às vésperas da eleição do Procurador Geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir.

Deputado Eduardo Cunha

Presidente da Câmara dos Deputados

COM A PALAVRA, A MITSUI&CO

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A Mitsui & Co. gostaria de reforçar que o sr. Júlio Camargo nunca foi representante ou consultor em nenhum dos projetos da empresa. Em 2011, respondendo a um requerimento apresentado à Comissão de Inspeção e Controle da Câmara dos Deputados, o Tribunal de Contas da União (TCU) não identificou nenhuma irregularidade relacionada aos contratos da Mitsui & Co. com a Petrobrás.

COM A PALAVRA, A PGR

A Procuradoria-Geral da República esclarece que o depoimento prestado na presente data por Júlio Camargo à Justiça Federal do Paraná não tem qualquer relação com as investigações (inquéritos) em trâmite no âmbito do Supremo Tribunal Federal. A audiência referente à ação penal da primeira instância - que tem réu preso, ou seja, tem prioridade de julgamento - foi marcada pelo juiz federal Sergio Moro há semanas (em 19 de junho), a pedido da defesa de Fernando Soares, e a PGR não tem qualquer ingerência sobre a pauta de audiências do Poder Judiciário, tampouco sobre o teor dos depoimentos prestados perante o juiz.

 

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