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Contadora de propinas da Odebrecht diz a Moro que mulher de marqueteiro 'tinha contato com o chefe, o dr. Marcelo'

Maria Lúcia Tavares, que por onze anos trabalhou no Departamento de Operações Estruturadas, revela em audiência com juiz da Lava Jato como era a rotina das planilhas de pagamentos ilícitos da empreiteira e que Mônica Moura esteve duas vezes em sua sala

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Foto do author Fausto Macedo
Por Mateus Coutinho , Ricardo Brandt e Fausto Macedo
Atualização:
 Foto: Estadão

A secretária Maria Lúcia Tavares, que por onze anos trabalhou no Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht - conhecido como 'setor de propinas' da empreiteira - afirmou nesta sexta-feira, 3, ao juiz federal Sérgio Moro que Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, 'tinha contato com o chefe, com o dr. Marcelo (Odebrecht)'.

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"Ela (Mônica) tinha contato com o chefe, com o dr. Marcelo, e com o dr. Hilberto (Silva)", relatou Maria Lúcia. "Então, ela foi lá prá entregar a conta lá fora (na Suíça) eu passei prá minha colega que ela fazia conta lá fora prá poder entregar a encomenda aqui no Brasil."

Marcelo Odebrecht está preso desde 19 de junho de 2015. Ele e mais 76 executivos e ex-executivos da empreiteira estão fazendo delação premiada.

A secretária disse que no setor de operações estruturadas era subordinada a Hilberto Silva e a Fernando Migliaccio.

Ela contou que Mônica - condenada nesta quinta, 2, com o marido João Santana por lavagem de dinheiro a oito anos de prisão - esteve duas vezes em sua sala, na sede da empreiteira, para pegar dinheiro relacionado ao codinome 'Feira' - como Mônica era identificada nas planilhas de propinas.

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Em audiência na Justiça Federal no Paraná, base da Operação Lava Jato, Maria Lúcia foi ouvida na ação penal que tem como réus principais o ex-ministro Antônio Palocci (Fazenda e Casa Civil), o empreiteiro Marcelo Odebrecht - ambos estão presos.

A secretária foi ouvida por vídeoconferência.

Ela foi questionada sobre as planilhas onde havia um campo intitulado 'Posição Especial Programa Italiano', que seria referência ao ex-ministro Palocci, segundo o Ministério Público Federal - a força-tarefa da Lava Jato sustenta que a Odebrecht repassou R$ 128 milhões a 'Italiano'.

Palocci estava na audiência, na sala do juiz Moro. Indagada pelo criminalista José Roberto Batochio, defensor de Palocci, se ela o conhecia, Maria Lúcia foi taxativa. "Só de televisão."

"Nunca esteve pessoalmente com ele (Palocci)?", insistiu o advogado.

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"Nunca, nunca."

"Nunca falou com ele?", ainda o defensor

"Nunca falei com ele", respondeu a secretária.

A procuradora da República Laura Tessler abordou mais detalhadamente as planilhas de propinas. "A sra conhece o codinome 'Italiano' e a quem se refere?"

"Não sra., sabia os codinomes, mas não sabia quem são as pessoas referenciadas nos codinomes", disse Maria Lúcia. "Também não tinha curiosidade de saber."

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Ela explicou porque sabia que Mônica Moura era codinome 'Feira'. "Porque ela foi lá na sala."

O juiz Moro perguntou. "Eram muitos codinomes para os quais se faziam pagamentos pelo setor de operações estruturadas?"

"Era muito codinome, era muito."

"A sra não sabia a identidade da maioria?"

"De jeito nenhum, não conhecia ninguém. Só vinha prá mim codinomes e as senhas quando davam os endereços."

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"E quem sabia a identidade dos codinomes?"

"Não tenho conhecimento."

"O sr. Fernando (Migliaccio) sabia?"

"Pode até ser, mas ele nunca me falou nada, nunca falou quem era e quem não era."

A procuradora insistiu. "Eram pagamentos paralelos, é isso?"

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"Isso."

"Por que não eram feitos pela contabilidade oficial da Odebrecht?"

"Não sei, a minha função era eles mandavam fazer o serviço, mas depois com o tempo fui verificar que aquilo era ilícito."

"Deram explicação para a sra por que se fazia dessa forma?"

"Não, não, na minha ignorância não procurava saber."

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"A quem respondia o sr. Hilberto Silva?"

"Ao Marcelo (Odebrecht)."

A procuradora prosseguiu, quis saber das 'remessas' da empresa para os clientes.

"Era o seguinte, a gente recebia uma planilha, essa planilha vinha com os codinomes, esses codinomes vinham com os valores e a data da entrega. Esperava o chefe mandar prá mim os endereços e repassava para o prestador de serviço."

"A sra. recebia de quem essa planilha com os codinomes?"

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"Essa planilha vinha do Fernando Migliaccio e de Ubiraci também."

"Foi identificada em busca e apreensão na residência da sra planilha fazendo referência a 'Feira'. A sra sabe identificar quem seria essa pessoa?"

"Sei sim, o nome dela é Mônica Moura, ela esteve lá para pegar o endereço prá pegar o dinheiro e também levar uma conta."

"Essa planilha 'programa especial Italiano' a sra. teve contato com ela? A sra. se recorda de ter tido contato com essa planilha?

"Recordo, recordo sim. Foi o Fernando (Migliaccio) que passou prá mim, prá fazer a programação do dia a dia, com os valores, fazer a programação."

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