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Construção civil e os passos da inovação sustentável

Por Marcos Campos Bicudo
Atualização:
Marcos Campos Bicudo. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Compreendendo o cenário desafiador das habitações no país, se torna iminente o papel da inovação como protagonista no mercado da construção civil. Estamos falando de mais de 33 milhões de brasileiros que não têm onde morar, segundo dados oficiais da ONU (Organizações das Nações Unidas) sendo que o déficit habitacional atinge a marca de quase 8 milhões de moradias, de acordo com os últimos números publicados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

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E mais, cerca de 11 milhões de habitações do universo de 80 milhões de residências são consideradas insalubres, segundo a Tese de Impacto Social em Habitação, ou seja, são casas que não permitem que uma família se desenvolva de forma saudável. Estamos em um universo que nos revela uma conjuntura realmente alarmante.

Temos ainda a questão dos problemas de saúde decorrentes dessas circunstâncias. A quarta causa de internação no SUS (Sistema Único de Saúde), apontada pelo próprio Sistema, vem de doenças respiratórias, 35% delas de exposição ao mofo e à umidade. Além disso, mais de 50% dos resíduos do planeta são gerados pela construção civil.

Proponho, então, a reflexão sobre o impacto de uma boa gestão no setor e o potencial que um modelo transformador pode exercer.

Ao alcançarmos essa compreensão, observamos que inovar é necessário porque nossa atuação tem que ser totalmente conectada com a transformação da vida das pessoas. Não é simplesmente fazer, é agir para atender necessidades primordiais do ser humano. É neste sentido que o setor precisa caminhar. Afinal, existimos para construir e abrigar pessoas, sonhos, sustentados pela segurança.

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E quando explico isso não quero dizer que as empresas devem abandonar seus negócios, mas sim vislumbrar uma mudança de patamar em termos de relevância e impacto. É fundamental alterar formas antigas de pensamento, que visavam apenas o lucro sem precedentes.

Sim, porque vivemos em um período de transição do capitalismo de Shareholder, cuja prioridade máxima é o lucro para acionistas, modelo este que gerou muita desigualdade no mundo, aliás, a pandemia é, em si, um exemplo dessa inequidade, para um modelo de criação de valor compartilhado, com impacto social, que chamamos de capitalismo de Stakeholder, que é o ESG (Environmental, Social and Corporate Governance).

Em recente pesquisa conduzida pela McKinsey Global Survey, na qual foram avaliados programas de ESG, 83% dos altos executivos e profissionais de investimento afirmam que há uma expectativa de que os programas de ESG contribuam mais para o valor aos acionistas nos próximos cinco anos do que o fazem atualmente.

Eles também indicam que estariam dispostos a pagar um premium de cerca de 10%, em média, para adquirir uma empresa com registro positivo em questões de ESG, em relação a outra com registro negativo. Isto vale inclusive para executivos que afirmam que programas de ESG não têm efeito sobre o valor aos acionistas.

Essa nova forma de compor o capitalismo, tão discutida atualmente, chama a atenção para a obrigatoriedade de atuarmos com bases em boas decisões comerciais, levando em consideração a bandeira da digitalização que caminha a favor de todo esse movimento. Deve ser de interesse macroeconômico que o futuro digital seja inclusivo.

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Assumir compromissos com métricas socioambientais aliadas às socioeconômicas e financeiras, deve ser responsabilidade de toda a cadeia da construção civil. É por isso que certificações como Empresa B, por exemplo, são tão importantes nesse processo de transformação, pois elas materializam todo o movimento em prol da geração de lucro alicerçada aos benefícios sociais.

Ao percebermos o impacto dessas mudanças em nossas bases estruturais, podemos avaliar o quanto a indústria da construção civil é conservadora e ainda pouco inovadora no Brasil. E, neste contexto, o quanto também existe de oportunidade no setor. Claro, se entendermos que a inovação deve andar de mãos dadas com a sustentabilidade. Porque é para um futuro de valor sustentável que caminhamos.

*Marcos Campos Bicudo é presidente da Vedacit

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