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Conselho do MP nega afastar Deltan por postagens contra Renan em eleição do Senado

Conselho Nacional do Ministério Público rejeitou um pedido de afastamento do coordenador da Operação Lava Jato no Paraná por publicações em rede social com posicionamento contrário à candidatura do senador Renan Calheiros (MDB-AL) à Presidência do Senado

Por Breno Pires e BRASÍLIA
Atualização:

Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) rejeitou um pedido de afastamento do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato no Paraná, por publicações em rede social com posicionamento contrário à candidatura do senador Renan Calheiros (MDB-AL) à presidência do Senado no início do ano. O plenário do conselho também adiou a decisão sobre o pedido da abertura de um processo administrativo (PAD) disciplinar contra o procurador pelo mesmo tema, graças a um pedido de vista (mais tempo para análise).

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O voto do relator, o corregedor nacional do MP, Orlando Rochael, foi pela abertura de processo administrativo, apontando que Dallagnol "denegriu e menosprezou" as atribuições constitucionais do MPF por ter se manifestado "contra a eleição de Renan Calheiros buscando descredenciá-lo perante a opinião pública". Segundo ele, o caso é passível de punição por censura. Um pedido de vista do conselheiro Fábio Estica, contudo, suspendeu a análise, que não tem data prevista para ser retomada.

Quanto ao afastamento pedido por Renan Calheiros, o conselho foi unânime em rejeitá-lo, incluindo o voto da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que deixará o cargo no dia 17. Na continuidade do caso é provável que ela já não esteja no comando.

Embora seja alvo de outras 11 representações no CNMP, o procurador-chefe da Lava Jato responde a apenas um processo administrativo disciplinar. O processo trata de "manifestação pública indevida" em uma entrevista concedida à rádio CBN, na qual criticou o Supremo Tribunal Federal, afirmando que decisões tomadas pela Corte passam a mensagem de leniência com a corrupção.

Votos

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Ao defender a abertura de um processo administrativo, o corregedor nacional do MP Orlando Rochadel afirmou que Deltan Dallagnol "manifestou-se indevidamente sobre tema político, relativo à eleição interna da presidência do Senado, em matéria alheia às suas atribuições, e posicionou-se a favor do voto aberto e contra a eleição de Renan Calheiros". "Importa reconhecer que ele deixou de observar seu dever pessoal de guardar decoro em relação a suas funções", disse.

O corregedor entendeu, no entanto, que as manifestações não tiveram caráter partidário, o que seria um agravante capaz de possibilitar uma punição como a suspensão. Para rejeitar o afastamento, Rochadel destacou, também, que Deltan é primário, isto é, ainda não sofreu punição administrativa.

Advogado de defesa de Deltan Dallagnol, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Francisco Rezek afirmou que não houve falta de decoro e classificou o pedido de Renan Calheiros como vingança pela não eleição à presidência do Senado.

"Há uma atividade política sem dúvida, ativismo político, mas não ativismo político partidário", disse.

A procuradora-geral Raquel Dodge justificou ser contra o afastamento citando que a lei não permite essa medida quando não há um processo administrativo aberto. "Não se sabe sequer se haverá abertura de PAD", disse.

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A chefe do MPF também afirmou que um afastamento não pode ocorrer quando a falta administrativa apontada corresponde a penas de advertência e censura - que foram as hipóteses citadas pelo relator para o caso em seu voto.

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Embora tenha optado por não dar o voto de mérito, sobre a abertura ou não do processo administrativo, Raquel disse que o pedido de vista era importante para analisar a fundo a possibilidade de se punir procuradores por críticas sociais ou políticas e se elas podem ser comparadas à falta de decoro.

"Aqui nesse conselho, que tem missão de examinar como se comportam os membros do MP e de depurar o comportamento para que ele não contamine a credibilidade da instituição e de seus membros, nós temos de examinar se a crítica social e política é cabível aos membros do MPF ou se é o caso de silenciar. É uma tarefa importante para esse conselho", disse Raquel Dodge.

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