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Como está sendo desenvolvida a CoronaVac, a vacina chinesa contra o coronavírus

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Por Denisar Palmito dos Santos
Atualização:
Denisar Palmito dos Santos. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A pandemia causada pelo corona vírus (SARS-CoV-2 - severe acute respiratory syndrome coronavirus 2) provocou em nosso país, até o começo de outubro de 2020, mais de 170 mil mortes, além de quase cinco milhões de casos. Neste contexto, há muita ansiedade pela chamada cura ou prevenção da doença e as vacinas são a grande esperança para os próximos meses. No Brasil, há quatro vacinas na terceira e última fase de testes. São elas: a de Oxford, do Reino Unido; a da Sinovac, da China; a da Biontech e Pfizer, dos Estados Unidos e Alemanha; e a da Janssen, do grupo Johnson & Johnson, da Bélgica e Estados Unidos.

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Neste contexto, a candidata chinesa é uma vacina com o SARS-CoV-2 inativado, com hidróxido de alumínio como adjuvante, em um ensaio randomizado, duplo-cego, controlado por placebo para avaliar a dose ideal, imunogenicidade e segurança da CoronaVac...Calma! Vamos aos poucos entender que é cada uma dessas palavras estranhas.

Inicialmente, vamos compreender como eles inativaram o vírus. O vírus SARS-CoV-2 foi cultivado em laboratório dentro de células específicas chamadas Vero (de rim de macaco verde da África). Nelas, os vírus se replicam, ou seja, aumentam a sua quantidade. Tudo isso foi realizado em um laboratório extremamente equipado para evitar a contaminação dos cientistas. Na imagem abaixo, você verá como os cientistas estavam protegidos, e nela, eles estão coletando os suplementos para que as células Vero pudessem se manter vivas no meio de cultura.

Vamos seguir com a nossa explicação. Depois que o vírus cresceu dentro dessas células ele foi coletado delas e inativado. Essa inativação foi realizada através de um reagente chamado betapropiolactona, sabe o que essa substância faz com o vírus? A chamada "inativação química", ou seja, o vírus não vai mais causar infecção porque ele está inativo. Como essa substância usada para inativar é tóxica para os animais e seres humanos, é necessário que uma limpeza seja feita para retirá-la e fique somente o vírus, esse processo é chamado de purificação.

Agora nós já sabemos como o vírus foi obtido, inativado e purificado! Vamos para a próxima etapa? O material obtido a partir deste passo foi então adsorvido em hidróxido de alumínio e solubilizado em solução salina gerando o produto final. O hidróxido de alumínio presente em algumas vacinas, serve para aumentar a resposta de imunização e certas vacinas precisam dele para garantir a sua eficiência. Ou seja, ele fará com que as nossas células de defesa respondam ao vírus de forma mais efetiva.

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Você já tomou vacinas com esses adjuvantes, são basicamente aquelas contra difteria, tétano, coqueluche e hepatites A e B, uma vez que, sozinhas, essas vacinas não eram suficientemente eficientes e os compostos de alumínio são adjuvantes comumente utilizados para esse reforço de ação, garantindo a eficiência. Já a solução salina é o meio onde esses materiais ficarão suspensos, por exemplo, quando você vai receber um medicamento na veia, ele é diluído na bolsa de soro fisiológico para ser aplicado, entende? É essa a função da solução salina nesta vacina, ser o meio, para facilitar a aplicação.

O próximo passo foi a determinação da dose da vacina, e eles estipularam as dosagens de 3 ?g/0,5 mL e 6 ?g /0,5mL. Em estudos científicos, nós sempre comparamos um grupo que recebe o tratamento com outro grupo que não recebe o tratamento, porque queremos ver se o novo produto realmente funciona. Assim, o grupo que não recebeu essa vacina, recebeu o tão famoso placebo, que basicamente era o hidróxido de alumínio na solução salina sem o vírus. A administração, seja da vacina para o grupo tratado ou do placebo para o grupo não tratado, foi intramuscular. Você já recebeu alguma vacina desta forma, no seu braço ou no bumbum.

Mas, essa aplicação foi em humanos?? Não, não pode! é proibido usarmos seres humanos logo no começo de um estudo experimental deste tipo. Por isso, foram usados camundongos, ratos e macacos! Eu sei, eu também tenho pena dos bichinhos, mas é por um bem maior e, infelizmente, não há outra alternativa. Mas a utilização de animais em pesquisa é uma outra discussão, para outro texto.

Nos macacos, dois grupos com quatro animais receberam três doses iguais da vacina, com intervalos de sete dias, e é claro, os grupos não tratados receberam o placebo. Depois da terceira dose, os pesquisadores infectaram os dois grupos vacinados com o SARS-CoV-2, para verificarem como eles iriam responder à infecção. De acordo com texto presente no site do Instituto Butantan, nos macacos infectados houve proteção contra o desenvolvimento da COVID-19, essa proteção gerada foi através da produção de anticorpos que neutralizam o vírus, e anticorpos que se ligam à proteínas do coronavírus, em níveis similares àqueles medidos em humanos infectados, além da indução de células importantes para a defesa imunológica.

E quando será a aplicação em humanos, agora que foi verificado que em macacos, ratos e camundongos a vacina foi efetiva? Já está ocorrendo desde Julho, é a chamada fase 3, onde humanos são testados. De acordo com o site Agência Brasil, em estudo feito na China com 50.027 voluntários chineses, foi observado 5,36% das pessoas vacinadas apresentaram efeitos colaterais, todos sem gravidade: dor no local da aplicação (caso constatado em 3,08% dos voluntários), fadiga (1,53%) e febre leve (0,21%). Efeitos um pouco mais graves foram observados em 0,03% dos voluntários, tais como perda de apetite, dor de cabeça, fadiga e febre.

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Agora, vamos entender as duas últimas palavras estranhas citadas acima: randomizado e duplo-cego. Na ciência, um ensaio clínico randomizado é um tipo de estudo em que se parte da causa em direção ao efeito, ou seja, a vacina será aplicada e veremos se ela funciona. Os participantes são divididos, aleatoriamente, em dois grupos: o grupo tratado, que receberá a vacina e o grupo dos controles, que receberá o placedo. Essa alocação aleatória tem como principal finalidade tornar os dois grupos semelhantes entre si, e além do mais, é importante para que o pesquisador não influencie no resultado colocando um grupo muito diferente do outro. Por exemplo, se ficassem somente idosos em um grupo e pessoas mais jovens no outro, você acharia isso justo? Por isso que essa divisão tem que ser aleatória.

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Por fim, o duplo-cego ocorre quando a pessoa que participa não sabe se está recebendo a vacina ou o placebo, e mais! O próprio pesquisador também não sabe! Por isso se chama duplo-cego. Somente no final, após a coleta dos resultados de todos os participantes, é que o pesquisador e os participantes vão saber quem recebeu e quem não recebeu a vacina. Mas por quê aplica-se o duplo cego? Esses ensaios são empregadas sempre que o resultado de um experimento pode depender da vontade do experimentador. Normalmente, essa metodologia é fundamental para sabermos se um determinado tratamento (ou vacina) tem realmente efeito terapêutico ou não. Logo, o resultado não é influenciado nem pelo pesquisador, nem pelo paciente.

No Brasil, um total de 9 mil, já receberam a primeira dose da vacina chinesa, alguns já receberam até mesmo a segunda dose. Todos esses voluntários são profissionais de saúde. Mas em humanos, terá os mesmos resultados que nos animais? Essas são cenas dos próximos capítulos que estão agendadas para o mês de janeiro! Pode ficar traquilo/tranquila que iremos escrever um texto, "parte 2", quando esses resultados forem divulgados!

*Denisar Palmito dos Santos, professor do Centro Universitário UniFG, farmacêutico, mestre e doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal da Bahia

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