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Como ampliar a participação feminina na indústria de TI?

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Por Tatiana Piloto
Atualização:
Tatiana Piloto. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

No meu primeiro dia na faculdade de Engenharia Mecatrônica, em meados dos anos 1990, um professor, surpreso, me perguntou o que eu fazia na sala de aula. Eu era não apenas a única mulher ali, mas também a primeira aluna daquele mestre, até então, no mesmo curso. O episódio fez com que eu me esforçasse mais, para provar que eu havia feito a escolha certa. Eu não pensava muito que ser mulher teria algum impacto negativo em minha carreira. Estava focada nos estudos e no desenvolvimento profissional.

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Desde então, temos visto no Brasil mulheres ocupando mais espaços em todos os setores, inclusive no de tecnologia. A participação feminina nessa área cresceu 60% entre 2015 e 2019, saltando de 27,9 mil profissionais para 44,5 mil, segundo o CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Apesar dessa evolução, as mulheres ainda representam apenas 20% da força de trabalho no mercado brasileiro de Tecnologia da Informação (TI).

Essa não é uma peculiaridade brasileira. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) aponta que, em nível global, as mulheres representam menos de um terço (29,3%) da força de trabalho em STEM -- sigla em inglês que reúne ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Outra pesquisa, do Credit Suisse Institute, descobriu que apenas 16% dos cargos de gestão em TI, em todo o mundo, são ocupados por mulheres. No alto comando das empresas do setor, somente 3% dos CEOs são do sexo feminino.

Assim como em outros segmentos, a noção de que a diversidade de gênero é positiva em todos os aspectos também se expande na indústria de TI. A diversidade otimiza processos e cria ambientes mais propícios a inovações. Mas o que o mercado de TI precisa fazer para atrair mais mulheres nos próximos anos?

Compartilhar conhecimentos e experiências é essencial. Palestras, programas de estágio e mentoria são ótimas maneiras de envolver mulheres e meninas com tecnologia, além de fornecer os meios para que elas compartilhem suas dúvidas e preocupações. Acredito fortemente que as profissionais mais experientes desempenham um papel importante ao reservar um tempo em suas agendas para se reunir com as colegas, compartilhar experiências, treiná-las e aconselhá-las.

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Como a área de TI sempre foi culturalmente muito masculina, é natural que mulheres e meninas sintam medo e se incomodem em muitas situações, desde o processo de recrutamento. As conversas com colegas de sucesso, que já passaram pelas mesmas circunstâncias, criam laços de sororidade e promovem a autoconfiança.

Vale a pena definir uma periodicidade para essas reuniões, o que pode consolidar um grupo de afinidade feminino ("network"), assim como fazem empresas de diferentes setores. Estudar programas de Diversidade & Inclusão (D&I) bem-sucedidos em outras empresas é um procedimento recomendado para uma organização com dúvidas sobre como agir. A participação dos homens nessas iniciativas deve ser estimulada, a fim de sensibilizar e criar um ambiente mais acolhedor para as mulheres. Afinal, uma iniciativa inclusiva segregacionista não faz sentido.

Programas de mentoria e projetos que estimulem o contato direto com os altos escalões são valiosos para pavimentar o caminho para que as mulheres assumam papéis de liderança nas indústrias de TI. As empresas também podem abordar essa questão por meio de um plano de advocacy, delineando estratégias e metas a serem alcançadas.

Análise interna e planejamento são essenciais. De acordo com uma pesquisa recente da Bain & Company, realizada em parceria com o LinkedIn e com foco nas 250 maiores empresas brasileiras, 82% das executivas e 66% dos executivos consultados afirmaram que alcançar a igualdade de gênero deve ser uma das cinco prioridades para qualquer empresa. A sua companhia está alinhada a essa mentalidade? O que a impede de implementá-la? Falta de treinamento ou promoções? Alta rotatividade?

Se possível, também ajuda fornecer acesso a recursos básicos para a capacitação em tecnologia. Nem todas as mulheres têm acesso a um computador ou a ferramentas necessárias para desenvolver habilidades. Portanto, é válido pensarmos em maneiras de garantir às mulheres mais acesso a equipamentos ou treinamentos.

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As políticas públicas também podem atrair mais mulheres para empregos relacionados a STEM. No entanto, as empresas devem se lembrar que podem influenciar, mas têm pouca ou nenhuma governança sobre essa questão. Seria ótimo se os governos propusessem programas com incentivos fiscais, estágios remunerados, bolsas de estudo ou auxílio-creche para que mais mulheres tivessem a oportunidade de ingressar em TI. Afinal, este será um setor cada vez mais importante em face de toda a transformação digital das nossas vidas.

*Tatiana Piloto é vice-presidente para a América Latina da ActiveCampaign. Foi considerada Executiva de TI do Ano pela IT Mídia em 2018

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