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Cenário pós-pandemia pede reconfiguração do modelo de franchising 

Por Lyana Bittencourt
Atualização:
Lyana Bittencourt. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Embora o franchising tenha um histórico de resiliência às mais diversas crises da economia brasileira, o setor, assim como boa parte da população que ainda não está imunizada contra o novo Coronavírus, também não passará incólume à crise sem precedentes gerada pelos efeitos da pandemia.

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Muitos shoppings reabriram com aumento de vacância, pois muitas lojas não conseguiram se manter e há receio do consumidor em relação a contaminação. O consumidor também está com um novo olhar para o comércio online e local.

Diante desse cenário, o franchising deve pensar em como aproveitar melhor o valor de suas marcas, rentabilizar seus pontos de venda e como ressignificar o seu negócio e suas entregas.

A crise acabou acendendo algumas luzes na mente de quem quer empreender e acabou deixando o modelo de negócios das franquias mais exposto. Consequentemente, os planos agressivos de expansão desenhados pelas redes para 2020 com certeza serão revistos ou totalmente modificados, fortalecendo as marcas já consolidadas no setor.

A economia fragilizada e o acesso ao crédito reduzido, com juros mais altos, também podem fazer com que os candidatos pensem várias vezes antes de solicitar empréstimo para investir num novo negócio.

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Franqueadoras ou grupos formados por franqueados multiunidades que estavam mirando a estruturação do negócio para venda para fundos de private equity podem se preparar para uma due dilligence ainda mais rigorosa, mais focada na saúde dos negócios do que em sua vitalidade momentânea. Redes ou grupos que saírem dessa crise fortalecidos estarão na mira desses investidores.

Estratégias de sobrevivência

No entanto, nesses últimos meses, temos observado bons exemplos de enfrentamento aos problemas que estão afetando a saúde dos negócios das redes de franchising, que devem ser exaltados e analisados. Não apenas como uma solução para demandas momentâneas, mas como uma reconfiguração do modelo de franchising que conhecíamos a fim de adaptá-lo às necessidades dos novos tempos.

A seguir, destaco esses exemplos e os aspectos fundamentais para a sobrevivência do setor:

Cooperação - Este fator chave do setor de franquias vem sendo intensificado e simplificado, visando acelerar a tomada de decisões e intensificar as colaborações. Vimos franqueadoras buscando soluções e negociações para acomodar melhor as fragilidades expostas pela pandemia, franqueados se apoiando mutuamente com ideias e compartilhamento de experiências, cuidado com o próximo e solidariedade.

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Fortalecimento da rede - A divisão de atuação em unidades próprias e franquias, algo como "nós x eles", caiu em prol da sobrevivência da marca. O caminho foi achar alento na confiança mútua e na certeza da transmissão das informações de forma clara e direta.

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Remoto e ativo - Para garantir a saúde de todos, as franqueadoras devem optar pela manutenção do trabalho remoto nas áreas administrativas e de suporte. As ferramentas de gestão e trabalho virtual também devem ser mais utilizadas até mesmo por equipes comerciais, de expansão e de consultoria de campo. Quem ainda não utilizava plataformas online para aplicação de treinamentos e reuniões remotas com os franqueados se viu obrigado a mudar os quilômetros pelos bytes.

Gestão financeira - A necessidade de acompanhamento da gestão financeira das unidades deve ser permanente. Isso tem sido um diferencial importante para a saúde dos pequenos negócios. Enquanto algumas unidades sofreram para ter caixa e pagar os salários do mês, outras tinham fôlego para aguentar o fechamento das lojas, pagamento de fornecedores e salários por determinado período. Nesse sentido, a franqueadora pode e deve apoiar seus franqueados, oferecendo treinamentos e suporte constante.

Seleção de franqueados - Talvez seja necessário flexibilizar algumas regras e critérios de entrada de novos franqueados para facilitar a expansão e apoiar a retomada da economia. No entanto, as franqueadoras devem estar conscientes em relação aos riscos e buscar apoio financeiro para blindar-se de possíveis prejuízos financeiros e de desvalorização da sua marca.

Rentabilização das unidades - Com os planos de expansão comprometidos, aumentar a rentabilidade das unidades já existentes é fundamental. A adoção de estratégias para fidelizar os clientes e aumentar as vendas além do ponto de venda, como o delivery de tudo, uma tendência acelerada pelo isolamento social e que pode ser mantida na retomada das atividades.

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Flexibilização do padrão da franquia - Quando se formata um negócio para expandir com franquias, a ideia é criar um padrão que possa ser reconhecido em qualquer lugar do mundo, proporcionando a mesma experiência de marca a cada contato. No entanto, vemos a possibilidade de o sistema flexibilizar os padrões das unidades - com a inclusão de características locais no formato global. Não a ponto de descaracterizar e colocar em xeque a consistência da marca, mas com uma dosagem suficiente para fazer com que o consumidor local se sinta parte da cultura do negócio.

Integração de canais - Os benefícios da integração dos canais físico e digital ficaram claros e a integração das lojas franqueadas no processo logístico começou a fazer sentido para as marcas. Afinal, por que não reduzir o tempo de entrega e ampliar a receita dos franqueados usando as unidades franqueadas como centros de distribuição para a última milha?

Protocolos de segurança rígidos - Não serão só liquidações que trarão os clientes de volta para as lojas. A implementação de um protocolo de segurança será crucial para que o consumidor se sinta seguro em voltar a frequentar o varejo físico, não apenas do ponto de vista do valor pago por determinado produto ou serviço, mas de segurança emocional proporcionada e constantemente reforçada pelas equipes da loja. Treinar o time de linha de frente sobre como receber as pessoas nessa fase inicial é fundamental.

*Lyana Bittencourt, diretora executiva do Grupo Bittencourt

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