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Celebrar a Arquitetura, melhorar o planeta e a vida das pessoas

Por Nadia Somekh
Atualização:
Nadia Somekh. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Desde que a nova gestão do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil se iniciou, em janeiro, temos repetido insistentemente que nossas cidades precisam cada vez dos conhecimentos e serviços dos arquitetos e arquitetas. Da mesma forma, temos reconhecido que quem não conhece a Arquitetura não a valoriza.

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Hoje é a data ideal para falarmos disso. Neste 4 de outubro, nos associamos à União Internacional de Arquitetos (UIA) na comemoração do Dia Mundial da Arquitetura e à ONU-Habitat pela celebração do Dia Mundial do Habitat. A preocupação com a saúde pública e o clima global aproximam os temas de ambas as comemorações. O que a Arquitetura tem a ver com isto? Muito.

As ações sanitárias se tornaram prioritárias com a pandemia da Covid-19, tida pela ONU como a "pior crise sistêmica do planeta" desde sua fundação, em 1945, ampliando as desigualdades sociais. Entre tais ações, no Brasil, é preciso destacar a necessidade de oferecermos moradia digna à população mais carente. É uma questão de saúde pública melhorarmos urgentemente as condições de habitabilidade em um país que, segundo da Fundação João Pinheiro, nada menos do que 25 milhões de moradias (1/3 do total) são inadequadas.

Para expor à sociedade a magnitude destes dados, bem como a expectativa de nossos 220 mil arquitetos e arquitetas de que sejam criadas condições para se engajarem na reversão desta realidade, o CAU Brasil lançou em abril a campanha institucional "Mais Arquitetos" com duas vertentes.

Uma delas é conscientizar os gestores públicos da necessidade da implementação da Lei de Assistência Técnica em Habitação Sociais (ATHIS) em todo país. Nas cidades com legislação ATHIS, a população de baixa renda tem acesso a projetos e outros serviços dos arquitetos proporcionados gratuitamente por programas habitacionais das Prefeituras. Para criar exemplos concretos, o próprio CAU tem aberto, em todo país, editais de patrocínio de projetos ATHIS em vários modelos. Um deles, do CAU Brasil, financiará a contratação de arquitetos e urbanistas por Prefeituras que possuam programas de assistência técnica.

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Outra vertente é ampliar o conhecimento da sociedade sobre os benefícios de nosso trabalho. Queremos falar especificamente com os cidadãos que desejam reformar ou construir suas moradias, tem condições financeiras para isto, no entanto desconhecem que o trabalho do arquiteto resulta em melhor planejamento da obra, maior qualidade e conforto, mais segurança e economia de tempo e (importante !) gastos, pois evita  refações e desperdício de materiais.Eles fazem parte dos 85% da população urbana brasileira que, segundo Pesquisa DataFolha-CAU Brasil, reforma ou constrói sem arquiteto ou engenheiro. A conjugação dos trabalhos destes profissionais é importante para ampliar nosso campo de trabalho em prol da sociedade.

Estamos abordando até aqui ações de âmbito nacional mas de execução local e de resultados imediatos. Já as ações contra a mudança global do clima (Item 13 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) nos inserem em um desafio internacional de realização e frutos de médio e longo prazo.

É preciso conter as emissões de gases de efeito estufa no planeta e o ambiente construído tem parte da responsabilidade. Somadas, as emissões diretas de CO2 no cotidiano dos edifícios e na indústria da construção civil representam 38% do total das emissões globais de gás carbônico relacionadas à energia. Os dados são do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e, mantido este percentual, o cumprimento das metas do Acordo de Paris ficará comprometido.

A expectativa do PNUMA é que pacotes de recuperação da pandemia melhorem os padrões dos edifícios recém-construídos e impulsionem a renovação dos edifícios existentes, contribuindo para mitigar o aquecimento global. Arquitetos brasileiros têm feito sua parte. Muitos vem ganhando destaque e prêmios internacionais por projetos de edificações sustentáveis, que aos poucos deixam de ser coisa de elite.  Este conceito também tem sido aplicado nas reformas multiplicadas pela pandemia e terá um impacto positivo.

Nosso urbanismo, por sua vez, tem contribuído para a sustentabilidade e a resiliência climática de algumas cidades com o incentivo à mobilidade a pé ou por meios de transportes não poluentes, maior usufruto de espaços livres e respeito à natureza. Da mesma forma, os arquitetos e arquitetas brasileiras têm participação histórica na luta pela regularização fundiária, o que pode garantir melhores condições de ocupação dos territórios mais vulneráveis a deslizamentos e enchentes.

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Nossa jornada está em curso. Os primeiros resultados têm sido promissores. É preciso, com humildade, reconhecer que ainda há muito a progredir. O Dia Mundial da Arquitetura é uma boa data para renovarmos nosso compromisso com a melhoria da qualidade de vida do planeta e da população brasileira.

*Nadia Somekh, professora emérita da FAU-Mackenzie e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU Brasil)

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